A Morte

8 min

A quiet harbor village on Ireland’s west coast, shrouded in moonlit mist, where memories linger

Sobre a História: A Morte é um Histórias de Ficção Realista de ireland ambientado no Histórias Contemporâneas. Este conto Histórias Descritivas explora temas de Histórias de Perda e é adequado para Histórias para Adultos. Oferece Histórias Inspiradoras perspectivas. Uma jornada arrepiante pelo amor, memórias e mortalidade na costa da Irlanda.

Introdução

Numa fria noite de janeiro, Aisling desceu do último ônibus no coração de Connemara, o vento puxando seu cachecol como se a instigasse a lembrar. À frente estendia-se o estreito caminho que passava por muros baixos de pedra, casas pálidas e o antigo cemitério onde gerações de sua família repousavam sob cruzes celtas esculpidas por mãos agora reduzidas a pó. O céu acima era uma taça de nuvens cinza-ardósia, e o romper das ondas do Atlântico além das dunas sussurrava segredos meio esquecidos — risos de infância nas manhãs de verão, o suave cantarolar de sua avó ao cuidar do fogo e uma voz que um dia ela amara. Ao caminhar em direção à casa onde nascera, Aisling sentia cada passo carregado de anos que fugira e memórias que se negavam a partir. O sal no vento tinha gosto de lágrimas, e o tênue fulgor de uma única lanterna na janela anunciava vida lá dentro, por mais frágil que fosse. Ela parou no limiar, a mão na maçaneta, o coração na garganta, e percebeu que voltar significava destrancar o passado — em toda a sua beleza e tristeza — e encarar aqueles que o tempo levara.

Retorno a Connemara

Aisling cruzou o baixo umbral da cabana de sua avó enquanto a porta rangia ao fechar-se atrás dela. Lá dentro, o ar trazia o leve resíduo de fumaça de turfa e lã úmida — sensações que ela tentara banir na cidade, mas que agora a envolviam como um velho xale. A lareira jazia fria, suas pedras manchadas pela cinza há muito sem perturbações. Porta-retratos, trincados pela idade, alinhavam-se sobre o batente: um retrato sépia de uma jovem de olhos brilhantes; uma fotografia desbotada de um casal dançando num celeiro, portas escancaradas para o céu vespertino; um pedaço de papel com caligrafia trêmula em gaélico. Cada um continha uma história, um sopro do passado que ela sentia mexer na ponta dos dedos. Ela parou diante do maior quadro — sua mãe e seu pai junto ao seu berço, o riso estampado no olhar — e depois voltou-se para as estantes carregadas de livros encadernados em verde-esmeralda e castanho-avermelhado, repletos de lendas e orações.

Um antigo poço de pedra cercado por roseiras espinhosas sob um céu enluarado e encoberto de névoa.
O antigo poço da família, onde a água parece sussurrar histórias há muito esquecidas na névoa da noite.

Ela deslizou o dedo sobre um volume em couro de baladas gaélicas, recordando como sua avó cantava à luz de velas enquanto o vento uivava lá fora. A melodia de “The Tangled Braid” ergueu-se em sua mente, um lamento por um amor perdido, e ela se surpreendeu murmurando a canção antes de perceber. As tábuas do chão suspiraram sob seu peso, e em algum lugar além da janela uma raposa latiu à meia-noite. Aisling fechou os olhos, o coração apertado, enquanto os fantasmas de sua infância se agitavam em cada canto. Os anos em Dublin lhe ensinaram a descartar superstições, mas ali, a superstição era verdade — a presença intangível de quem partira, pronta para guiá-la pelos corredores do luto.

Reunindo coragem, ela acendeu uma vela na mesa. A chama vacilou, projetando sombras dançantes sobre cerâmicas feitas à mão e flores silvestres secas em um jarro de vidro. Cada sombra parecia o eco de alguém que ela conhecera. Ela pousou sua mala junto ao banco e saiu para o frio. No quintal, o velho poço permanecia em silêncio, rodeado por roseiras espinhosas tingidas de marrom pelo gelo. Ajoelhou-se para tocar o aro de ferro, lembrando como sua avó buscava água ao amanhecer, a respiração transformando-se em nuvem no ar. Num só batimento de coração, o som da água — suave e cristalina — ergueu-se do fundo do poço como um sussurro da própria memória. Aisling recuou, assustada, com lágrimas escorrendo pelas bochechas. Naquele instante, os mortos falaram e ela os sentiu perto, não como ameaça, mas como família. Uma promessa de acerto de contas e de consolo residia no silêncio entre os mundos.

Ecos na Névoa

A névoa rolou desde o mar, cobrindo a aldeia em sussurros. Aisling caminhou até o píer abandonado, cada passo engolido por meandros de branco em turbilhão. Tábuas de madeira, alisadas pelo tempo e pelos viajantes, gemiam sob seu peso. Lanternas que antes guiavam barcos de pesca jaziam estilhaçadas, suas armações de ferro enferrujadas e silenciosas. Há tempos, marinheiros desafiavam aquelas águas escuras; agora, apenas gaivotas e lembranças se aventuravam até ali. Ela recordou as histórias de sua avó: da noite em que um amante não voltou, levado pelas correntes sob um céu de sangue. Naquela noite, ela sentia o frio daquela dor como se fosse sua.

Um píer envolto em névoa, com lanternas quebradas e a neblina avançando do Atlântico.
Um cais vazio engolido pela névoa, onde almas perdidas parecem vagar entre a água e o céu.

A névoa adensou-se, e Aisling parou na ponta do píer, com o Atlântico estendido à sua frente, negro e infinito. No silêncio aquoso da névoa, ouviu passos — não os seus — e virou-se para ver uma figura recuando na penumbra. Um pulso acelerou em seu peito: o fantasma de Cormac, seu amigo de infância e primeiro amor, que desaparecera numa noite de fevereiro, quando a maré de tempestade levou seu barco. Ela o chamou, a voz trêmula, e o avistou novamente — o casaco encharcado, o rosto marcado, os olhos atormentados. Estendeu a mão, mas ele se dissolveu na névoa. O vento trouxe um gemido suave, como riso e pranto entrelaçados. Aisling apertou o casaco ao redor do corpo, o coração disparado, ao perceber que a aldeia nunca realmente o deixara partir.

A chuva começou a salpicar, dedos frios batendo em seus ombros. Ela correu para o interior, voltando à antiga escola onde o nome de Cormac ainda pairava em giz no quadro-negro. Lá dentro, carteiras de madeira afundavam sob o peso do pó; livros didáticos jaziavam abertos, páginas amareladas pelo tempo. Ajoelhou-se diante de uma janela baixa, traçando as iniciais esculpidas no parapeito. Foi então que a janela bateu uma vez, como se tocada por um nó do dedo. Ela prendeu a respiração. O cômodo silenciou novamente, mas no parapeito repousava uma única margarida, fresca e branca, pétalas trêmulas. Ela a reconheceu: era a mesma flor que ele prenderá atrás de sua orelha no dia em que declararam seu amor entre os matagais. Ajoelhada na sala úmida, Aisling percebeu que a memória podia sangrar no presente, e que o amor — uma vez dado — podia ecoar para além do túmulo.

Abraço dos Falecidos

De volta à cabana, Aisling acendeu o fogo na lareira, seu brilho servindo de âncora contra o frio da noite. O calor da chama a conduziu à reflexão enquanto segurava com carinho uma xícara de chá de urze silvestre. Ela posicionou duas cadeiras diante das brasas moribundas: uma para si, a outra vazia. Imaginava Cormac do outro lado, seus toques suaves no vidro da janela, e sua avó no canto, cantarolando um antigo hino. O piso de madeira rangeu como se eles tivessem tomado assento.

Uma lareira acolhedora em uma cabana irlandesa iluminada por velas, com sombras a dançar sobre cerâmicas e flores silvestres.
A lareira da cabana, onde a chama e a memória se entrelaçam em um silêncio dourado

Ela pronunciou seus nomes em voz alta — súplicas suaves ao ar. “Cormac, conte-me o que viu lá fora.” “Vó, guie-me de volta para casa.” A casa respondeu com o suspiro de suas vigas acomodando-se e o estalo da turfa crepitando. Lá fora, o vento afinou-se a suas vozes, carregando-as até penhascos distantes. No silêncio que se seguiu, ela percebeu uma presença tão próxima que quase sentia uma mão em seu ombro.

Nessa comunhão silenciosa, Aisling compreendeu que o amor perdura como memória, e que a memória floresce numa espécie de vida além do último suspiro do corpo. Lembrar era impedir que os mortos deslizassem para o esquecimento. Ela chorou em silêncio, lágrimas abençoando as brasas, cada gota uma oração. Quando enfim se levantou da cadeira junto à lareira, a cabana parecia cheia — aquecida por vozes. Embora o mar lá fora rugisse, o ambiente permanecia calmo, um santuário onde vivos e mortos ficavam lado a lado. Aisling sabia que partiria ao amanhecer, voltando à cidade com luto e esperança entrelaçados em suas veias. Mas naquela noite, ela pertencia àqueles que amava — vivos na memória, jamais verdadeiramente ausentes.

Conclusão

Ao primeiro clarão, Aisling pisou na trilha sobre as dunas, o céu tingido de rosa e ardósia. Em seus braços, trazia um pequeno embrulho envolto em tecido tartan: um punhado de margaridas da sala de aula de Cormac, raminhos de urze do cemitério e a primeira página dos hinos gaélicos de sua avó. Guardou as margaridas num bolso, a urze em outro, e enfiou o hino entre as dobras do casaco. Deixando a cabana para trás, seguiu pela estrada sinuosa em direção ao mar, cada passo firme e repleto de propósito. As memórias que carregava já não eram fardos, mas lanternas a iluminar o crepúsculo da vida. No topo do penhasco, parou, com a brisa atlântica brincando em seus cabelos. Um silêncio caiu como se todas as vozes dos mortos se reunissem para se despedir. Ela sussurrou uma bênção e abriu as mãos, deixando pétalas e papéis flutuarem na maré — uma oferenda de lembrança e amor. À medida que as ondas os envolviam, Aisling sentiu algo suave elevar-se em seu peito: a dor transformada em gratidão. De coração mais leve e espírito firme, afastou-se da beira d’água, levando consigo perda e redenção nos ossos — prova de que vida e morte estão entrelaçadas pelo frágil fio da memória.

Loved the story?

Share it with friends and spread the magic!

Cantinho do leitor

Curioso sobre o que os outros acharam desta história? Leia os comentários e compartilhe seus próprios pensamentos abaixo!

Avaliado pelos leitores

Baseado nas taxas de 0 em 0

Rating data

5LineType

0 %

4LineType

0 %

3LineType

0 %

2LineType

0 %

1LineType

0 %

An unhandled error has occurred. Reload