A Sombra do Cipreste: Uma Crônica do Pé Grande do Alabama

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A Sombra do Cipreste: Uma Crônica do Pé Grande do Alabama
Under a hunter’s moon, a fresh footprint glistens on the bank of Blackwater Swamp—taller than any man’s bootprint.

Sobre a História: A Sombra do Cipreste: Uma Crônica do Pé Grande do Alabama é um Histórias de Lendas de united-states ambientado no Histórias Contemporâneas. Este conto Histórias Descritivas explora temas de Histórias da Natureza e é adequado para Histórias para Adultos. Oferece Histórias Divertidas perspectivas. A busca de um biólogo de vida selvagem pela verdade por trás da lenda que ronda o Pântano Blackwater.

Introdução

A meia-noite se agarrava ao Pântano Blackwater como melaço derramado na mesa de piquenique da igreja—espesso, escuro e pulsando vida pequena demais para ver, mas impossível de ignorar. A Dra. Savannah Wells conduzia seu barco de alumínio com cuidado pela água lisa, o casco sussurrando como um segredo passado por debaixo de um cobertor. Atrás dela, o motor de popa resmungava suave como um cão preguiçoso, exalando aromas de diesel quente que se misturavam ao perfume doce da clethra em flor e ao cheiro ácido de folhas em decomposição. A trinta metros à frente, um banco de joanetes de cipreste pálido jorrava da água, cada um escorregadio de musgo que reluzia sob uma lua de caçador afiada o suficiente para fazer a barba. Em algum lugar além daquele emaranhado de madeira, um coro de rãs arrastadas raspava por cima do clique distante de rodas de trem—um ritmo mais antigo que o asfalto. Savannah desligou sua lanterna de cabeça; a escuridão voltou, cheirando a lama e às estrelas refletidas no céu, e ela sentiu o pântano respirar em sua pele como seda úmida. Ali, à bombordo, um splash: pesado demais para uma tartaruga, deliberado demais para um galho caindo. Seu pulso disparou. Ela checou o gravador digital—o olho vermelho brilhava como um braseiro na penumbra—e notou um ronco grave de baixo vindo da linha de árvores, lamentoso e quase humano em sua tristeza. Aqui pelas bandas, o povo chama esse som de “Bocejo da Viúva”, dizendo que ele ecoa sempre que a Sombra do Cipreste ronda, mas Savannah sabia que expressões popular trazem pistas. Ainda assim, os pelos em seu antebraço se eriçaram como se a noite alcançasse com dedos invisíveis. Uma lua amarelada pairava sobre a água, e ela percebeu que a lenda que perseguia desde criança—contos sussurrados em fritada de bagre e chá doce—saíra das conversas de varanda para respirar viva em um só batimento cardíaco. Como seu avô costumava dizer: “Menina, quando a floresta silencia de um momento para o outro, é sinal de que o problema está tirando os sapatos.” Aquela noite, o pântano estava descalço, e a verdade também.

Trilhas e Vozes Baixas

A primeira luz do dia no bayou atingiu Savannah como bronze num órgão gospel—alta, brilhante e reverberando nas costelas de cada ser vivo. O nascer do sol tingiu a água de âmbar melado, e o ar carregava o cheiro de gordura de bacon vindo de um fogareiro distante, mesclado ao gosto de terra molhada. Ela encontrou o policial Luther Briggs num deque torto como promessa de político; o uniforme passava rigidez de tábua, mas o sotaque escorria macio como sedimento de rio. Cinco caçadores haviam sumido em três verões, disse ele, nomes impresos em cartazes de pessoas desaparecidas, desbotados pelo sol e pela tristeza. “Ou um bicho os pegou, ou o pântano os engoliu”, murmurou Luther, cuspindo um fio de rapé que caiu na água com um plim preguiçoso. Um bando de marrecos alçou voo, asas cortando uma umidade tão densa que dava vontade de mastigar, e Savannah percebeu o leve musk de pimenta-rajada no vento—um odor que sempre a lembrava do laboratório de biologia e de corações partidos.

Ao fim da manhã ela avançou pelo sub-bosque de palmeirinhas, o suor ardendo nos olhos como pequenas ferroadas. A cada passo, afundava num solo ocre, deixando marcas que logo se enchiam com uma poça de água com tanino cor de chá forte. Seu gravador clicava a cada trinta segundos, capturando o estridente canto das cigarras e o sussurro do próprio fôlego. Então, na base de um antigo carvalho de água, ela encontrou aquilo: uma pegada de quarenta e dois centímetros, dedos abertos como lascas de cedro, cravada tão fundo que acumulava água com cheiro de ferrugem e semente de abóbora. Um “Ora, minha nossa” escapou involuntário—um desses ditos locais que surgem quando a razão começa a vazar. Ela se agachou, a palma da mão pairando sobre a marca; o ar ali parecia cinco graus mais frio, como se o chão ainda guardasse o peso que o fizera.

Grande pegada fresca ao lado de palmeirinhos em pântano do Alabama
O Dr. Wells descobre uma pegada de quarenta e dois centímetros que afunda profundamente em um terreno encharcado — prova de que a Sombra do Cipreste se move ao amanhecer.

Um galho estalou a oeste. Não o estalo seco de galho solto, mas um rangido deliberado, lento e pesado, como boi pisando em milho seco. Ela congelou, os pulmões apertados como cordas de banjo. A floresta sumiu em completo silêncio, que passou a zunir em seus ouvidos. Então veio o cheiro—musgoso, úmido, com notas de caqui azedo e o mordente metálico do sangue. Savannah já rastreara ursos-negros nas Smokies e marcou jacarés no delta Mobile-Tensaw, mas nenhum bicho que conhecia tinha aquele coquetel exato. Um bramido estrondoso quebrou a quietude, grave o suficiente para sacudir dentes, rolando pelos troncos como baixo em caixa de som. Seu peito vibrou; as alças da câmera balançaram.

O instinto gritou para fugir, mas o treinamento colou seus pés ao chão. Ela ergueu o microfone parabólico. Um segundo bramido ecoou, desta vez terminando num ulular ascendente que gelou a medula. O som curvou-se ao redor dos troncos, quicando na água como sonar. Ela captou um movimento—uma sombra do tamanho de um fardo de feno deslizando por entre a barba-de-velho a vinte metros. Clarões de sol atravessavam as frestas da copa, intermitentes, revelando o contorno da criatura: pêlo ruivo desgrenhado, braços grossos como muretas, um relevo de sobrancelha pronto para colisões de pesadelos. E ela sumiu, engolida pela folhagem do pântano que, de repente, cheirava a hydrocotyle esmagada e suor de medo.

Savannah soltou um riso trêmulo, sangue martelando em seus ouvidos como vento num celeiro de lata. A voz do avô ecoou na memória: “Até porco-cego acha uma bolota de vez em quando, mas cuidado—ela pode morder de volta.” Ela chamou Briggs no rádio entre baforadas de ar com gosto de resina de pinho: “Deputado, tenho rastros. Grandes. E algo está nos observando.” Chiado respondeu, interrompido pelo grito de aviso de um gaio-azul lá em cima. O dia mudara de forma; a lenda ganhara carne, e a busca virara sobrevivência.

Moonshine e Caudas de Memória

Naquela noite Savannah estava na varanda inclinada de Jebediah “Whiskey” McCready, um destilador clandestino cuja fama se alastrava feito kudzu até Birmingham. Vaga-lumes dançavam sobre potes de vidro cheios de aguardente de milho, brilho refratando-se no líquido que cheirava a fluido de radiador morno com nota de maçã. O cão Dog-eared Jack ressonava no balanço, exalando odores de couve rançosa. Savannah tomava um café preto grosso como massa de remendo, agradecida pelo amargor. Luminárias de corda zumbiam acima; cada lâmpada atraía efêmeras que batiam no vidro com plim suave, como chuva distante no zinco.

Whiskey bateu cinza de um cigarro enrolado à mão e começou, voz estaladiça como vinil antigo: em 1974, dois agentes da receita sumiram duas grotas adiante, e a turma dizia que a Sombra protegia alambiques dos olhares do governo. “O bicho não gosta de estranho”, disse ele, coçando o cavanhaque que crepitava como lixa. Apontou para uma cicatriz que ia da clavícula ao umbigo. “Grande como um grizzly, cheirava a estofado molhado.” Vaga-lumes iluminaram o sulco irregular, e Savannah sentiu o cheiro de pomada de curativo. A história se desenrolou na noite como fumaça de lenha de pinheiro—silhuetas de olhos vermelhos, noites em que porcos surtavam e cercas entortavam para dentro. A mãe de Whiskey pregava galhos de sweet-gum mergulhados em sangue de porco para distrair a Sombra, um remédio do folclore que fazia tanto sentido quanto plantar cedros contra cupins, mas tradições são orações nervosas em forma de macacão.

Sombra de grande criatura passando pelo celeiro no quintal iluminado pela lua no Alabama
Durante uma noite silenciada pelo trovão, uma silhueta imponente desliza entre o celeiro e a casa de defumação, deixando apenas o aroma de cedro e almíscar em seu rastro.

No meio do relato, o trovão rolou baixo, cheirando a chuva distante e ozônio. O gravador de Savannah clicou; as cigarras silenciaram, e o vento ficou tão frio que arrepios do tamanho de grãos de polenta surgiram. Da linha de árvores veio a batida—dois toques nítidos na madeira, deliberados como o punho de um pregador no púlpito de domingo. Jack ergueu-se num salto, pêlos eriçados. Whiskey murmurou: “Isto aqui não é pica-pau, querida.” Outra batida respondeu mais ao leste, depois uma terceira mais perto, cadência de fofoca na varanda: toc-toc…pausa…toc. Savannah sentiu o som nos dentes, uma vibração com gosto metálico.

A luz da varanda piscou; uma sombra mais alta que o poste deslizou entre o celeiro e o defumador. A luz da lua delineou o pêlo como barba-de-velho sobre músculos. O fôlego de Savannah ficou com gosto de moeda velha e melaço escuro. Dog-eared Jack gemeu. Whiskey engatilhou sua espingarda de canos duplos, cheiro de óleo de arma Hoppe’s e lembranças melhor guardadas em caixa. Mas a figura derreteu na escuridão, deixando apenas o cheiro—musk maduro mesclado com lascas de cedro e algo como cabelo chamuscado.

Minutos depois, os sapos retomaram o coaxar enferrujado, como se o pântano voltasse a tocar seu trilha sonora. Whiskey exalou: “Meu Deus do céu”, meio oração, meio praga. Savannah anotou o padrão das batidas: dois e depois uma. Podia ser sinalização territorial, língua mais antiga que o inglês. Ela olhou para os pinheiros altos onde vaga-lumes rabiscavam cursiva preguiçosa, e um ditado surgiu: “Até um bagre queima de sol se nadar raso demais.” Ela estava perto da verdade superficial, mas o sol da revelação podia queimar.

O Ato Final do Cipreste

Duas noites depois, uma tempestade rastejou pelo delta como urso atrás de mel—lenta, pesada e ribombando fundo o bastante para soltar pregos da varanda. Savannah e o Deputado Briggs aportaram em Dead-Man’s Cut, um canal tão estreito que galhos de sicômoro roçavam nos trilhos do barco, pingando chá de tanino no alumínio. O ar cheirava a ácido sulfúrico e gambá antigo, e cada raio revelava musgos como cabelos prateados de gigantes ancestrais. Puseram câmeras infravermelhas a cada cinquenta metros, LEDs vermelhos piscando como Natal antecipado para jacarés.

Quase meia-noite, o vento morreu. Gotas martelavam folhas de carvalho com leveza, como dedos num hinário, e vapor subia da água como respiração de maratonista. Então, o caos: a câmera quatro transmitiu um rugido maior que trovão—parte uivo de lobo, parte arame farpado riscado num tampo de violino. A imagem tremeu; uma silhueta desgrenhada preencheu o quadro, olhos refletindo infravermelho como luz de freio na pista molhada. A criatura bateu na lente; o sinal estourou em estática com gosto de pipoca queimada. Briggs xingou; o coração de Savannah martelava tão forte que suas canelas doíam.

Relâmpago revela um Pé Grande ferido com uma fenda rubra em um pântano do Alabama
Um relâmpago ilumina a Sombra do Cipreste—ferida, porém inabalável—mancando por águas que lhe alcançam os joelhos, sob musgo pingante.

Eles seguiram o estrondo do sub-bosque, lanternas cortando a escuridão em cunhas trêmulas. O solo afundava, liberando arrotos de metano com cheiro de pêssegos podres. A trinta metros, acharam uma plataforma de caça tombada, tiras rasgadas como serpentinas de festa. Gotas de sangue salpicavam o tronco—franco, aroma metálico misturado a samambaia esmagada. Uma respiração grave—inspira, expira com um grunhido—ecoava adiante, e Savannah percebeu que a Sombra estava ferida. Raio iluminou a cena—ombros imensos arfando, pêlos escurecidos pela água, uma laceração na coxa brilhando em vermelho vivo. Olhos se encontraram, e neles ela viu dor, fúria e um espelho do próprio medo. Ele rugiu; um turbilhão de som que sacudiu barcos contra raízes.

Briggs apontou a espingarda, mas Savannah empurrou o cano para baixo. “Ele está ferido”, sibilou, sentindo o gosto de ferro da chuva na língua. Mais uma batida ecoou—desta vez, três pausas lentas, como um tambor funeral. A criatura se afastou mancando, espirrando água até o joelho, com cheiro de turfa revolvida. Savannah avançou, mãos erguidas, adrenalina zumbindo como vespas no sangue. Lembrou de uma lenda dos Muscogee sobre espíritos guardiões do pântano feridos pela ganância dos caçadores—naquele instante, o mito se entrelaçou à biologia. Lançou seu kit de primeiros-socorros em direção a ele; gazes flutuaram como lírios brancos. A Sombra farejou, grunhiu, e recuou para a escuridão, aceitando o presente.

A aurora tingiu de rosa as nuvens de tempestade. As câmeras não mostraram rastro—apenas árvores pingando diamantes de orvalho e o cantarolar preguiçoso das cigarras ressacadas. Mas junto à plataforma tombada jazia o kit, a tampa aberta, gazes ensanguentados dobrados ao lado do tubo de antisséptico. Um joanete de cipreste trazia três marcas de dedos formando um símbolo rústico que Briggs jurou lembrar gratidão. Savannah inalou o aroma de resina fresca. O ditado apareceu: “Às vezes, o cão que você mais teme só quer o osso da confiança.” Ela sorriu, registrando tudo, ciente de que a prova de existência se transformara em prova de consciência, e a lenda subira de categoria de críptido a vizinho.

Conclusão

Semanas depois, as cigarras de verão afrouxaram o canto para um zumbido lento, e o Pântano Blackwater acomodou-se na calmaria de agosto tardo, com cheiros de lama ressecada e uvas silvestres amadurecendo. Savannah sentou-se na varanda de Whiskey McCready, bebendo chá doce afiado o bastante para arrepiar unhas, enquanto libélulas cortavam a superfície do lago como dardos esmeralda. Os caçadores continuam desaparecidos, mas equipes acharam seus rifles encostados num cedro, secos e intactos, como se devolvidos por mãos invisíveis. O Deputado Briggs entregou um relatório com espaços em branco—formulários oficiais não suportam verdades não oficiais. Os dados de Savannah—uivos gravados, moldes de pegadas, gazes marcadas por garras—dormem em arquivos climatizados; ainda assim, ela hesita em publicar. Alguns enigmas, como um bom gumbo, precisam de fogo baixo e tempero a gosto. Ela provou para si que a Sombra do Cipreste era real, vulnerável, talvez até gentil quando abordada sem maldade. Os moradores notaram menos perdas de gado, e os batimentos na madeira, antes ameaçadores, mudaram para dois-toques suaves—uma canção de ninar em vez de aviso. Na última noite, uma brisa trazendo cheiro de hortelã esmagada e turfa agitou os pinheiros. Da linha de árvores veio um toque constante, pausa, outro toque, marcado como batimento cardíaco. Ela respondeu com o cabo da lanterna no corrimão—toc, pausa, toc—e o pântano suspirou, satisfeito com a conversa em vez da conquista como lição final. Quando Savannah partiu ao amanhecer, as pérolas de orvalho nas teias brilhavam ao sol como lantejoulas espalhadas, e atrás dela o dossel de ciprestes se fechou, guardião de sua própria narrativa. Bigfoot, o pântano e a curiosidade obstinada de uma cientista se entrelaçaram numa história que pertencia, ao menos por ora, ao silêncio entre dois toques.

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