A Volta ao Mundo em Oitenta Dias: Uma Corrida Contra o Tempo

20 min

Phileas Fogg adjusts his top hat aboard the train platform, ready to embark on the fateful journey that will span 80 days around the globe.

Sobre a História: A Volta ao Mundo em Oitenta Dias: Uma Corrida Contra o Tempo é um Histórias de Ficção Histórica de france ambientado no Histórias do Século XIX. Este conto Histórias Dramáticas explora temas de Histórias de Perseverança e é adequado para Histórias para Todas as Idades. Oferece Histórias Divertidas perspectivas. Uma empolgante aventura do século XIX, das ruas de Londres às regiões mais remotas do planeta.

Introdução

Em uma fria manhã de outubro de 1872, a névoa que envolvia a Estação Paddington, em Londres, parecia se abrir à aproximação de Phileas Fogg. Trajando um elegante sobretudo de corte sob medida e cartola, Fogg mantinha-se sereno em meio à multidão agitada, seus olhos cinza-ardósia refletindo determinação e curiosidade contida. Naquele dia, ele apostara cinquenta mil francos em uma única proposta: dar a volta ao mundo em oitenta dias. Para os observadores, o desafio beirava a loucura — uma corrida impossível contra a distância e o tempo. Ainda assim, sua firmeza não vacilava, e ao seu lado, o fiel criado Passepartout movia-se com antecipação inquieta, confirmando bilhetes e garantindo malas enquanto carregadores erguiam baús. Ao redor, Paddington pulsava de vida: o sibilar do vapor, o retumbar das rodas e o cheiro de carvão misturado às baforadas de um café da manhã fumegante vindo das barracas próximas. Até os viajantes mais apressados diminuíam o passo para observar Fogg consultar um globo de bolso, cada ponto naquele mapa representando uma cidade a conquistar e um prazo a vencer. Com um último olhar ao seu reluzente relógio de bolso, Fogg ergueu uma sobrancelha imperceptível, como que desafiando o próprio tempo. Depois, com um aceno discreto, subiu no primeiro vagão. Assim começava uma odisseia por continentes distantes — jornadas de trem pelo coração da Europa, elefantes domesticados na Índia, areias do deserto sob um sol implacável e travessias oceânicas tempestuosas. Cada milha testaria sua engenhosidade e paciência, criando alianças e despertando rivalidades. Quando o apito soou e as rodas começaram a girar, a aposta nunca esteve tão alta, e o mundo, em toda a sua vastidão, aguardava.

Perseguindo o Relógio pelos Continentes

Quando o apito do vapor ecoou pelas plataformas de Paddington, Phileas Fogg embarcou no trem da linha sul com a mesma precisão calculada que regia cada aspecto de sua vida. Enquanto a locomotiva avançava em solavancos, o vasto cenário de Londres — fábricas de tijolos, carroças puxadas por cavalos e cais envoltos pela névoa — desaparecia em seu encalço. Ao seu lado, Passepartout apertava uma pasta de couro contendo mapas, cartas de crédito e todos os pertences essenciais para a jornada de setenta e seis dias que se estendia à frente. A primeira parada em Dover ofereceu uma breve janela antes da partida da balsa, e Fogg concedeu-se um instante para contemplar os penhascos brancos recortados contra o pacífico Canal da Mancha. No porto, o grande vaporizador a rodas aguardava, seus imensos caldeirões assobiando uma sinfonia constante que prometia travessia segura em águas turbulentas. Durante toda a viagem, Fogg manteve a compostura perfeita, o olhar fixo no horizonte mesmo quando as ondas sacudiam o convés sob seus pés. Cartas se acumulavam nas mãos de Passepartout, enviadas por bem-intencionados e por céticos curiosos, mas Fogg recusava-se a participar de conversas fúteis ou fazer prognósticos pomposos. Ele apenas consultava seu relógio de bolso quando um gong distante marcava cada hora, lembrando-o de que cada segundo desperdiçado poderia desequilibrar a balança da vitória. Quando desembarcaram em Calais, o amanhecer já tingia o campo francês de um dourado suave, como se abençoasse aquela ousada empreitada.

Phileas Fogg observando pela janela do trem enquanto a paisagem europeia passa rapidamente.
Fogg verifica seu relógio de bolso enquanto o trem expresso atravessa campos e cidades antigas em direção a Brindisi.

Ao embarcar no expresso para Paris, a dupla observava campos ondulantes de colza e vinhedos cintilando além da janela do vagão. A intrincada malha de trilhos serpenteava por cidades milenares, cujas torres e muralhas de pedra testemunhavam séculos de história. A passagem de Fogg pela França foi pontuada por paradas na movimentada Gare de Lyon e em estações mais tranquilas próximas aos contrafortes alpinos. Cada baldeação envolvia sua própria coreografia: carregadores arrastando baús, escrivães conferindo documentos e o sutil assovio do vapor. Através de um véu tênue de névoa, surgiam os picos nevados dos Alpes, uma barreira elemental entre a Europa e o Oriente. O trem avançava por viadutos sinuosos e túneis escavados em escarpas verticais, arrancando suspiros de viajantes inexperientes. Fogg permanecia impassível, mas os nós dos dedos de Passepartout apertavam a alça da pasta conforme as rochas passavam velozes. Quando a última passagem alpina ficou para trás, a descida até Turim trouxe alívio e o primeiro calor do sol italiano. Com novos trilhos recém-inaugurados para a conexão com Milão, Fogg consultou seu horário e ergueu um discreto aceno ao seu criado, sinal de que tudo seguia conforme planejado.

De Milão, o expresso os conduziu pelas planícies da Lombardia, onde campos cintilavam com grãos de fim de verão e pomares se curvavam sob o peso dos frutos. A hora crepuscular projetava longas sombras sobre vilarejos, cada lamparina acesa anunciando vidas deixadas para trás em nome dessa grandiosa expedição. Nos vagões-restaurante, serviam-se fumegantes pratos de risoto e polenta, bem-vindas variações às rações austeras que Passepartout cuidadosamente preparara. Fogg aceitou uma taça de Chianti, mais por convenção social do que por apetite, e voltou rapidamente à tarefa de estudar seu globo. Sob a luz a gás do vagão, conversas sussurradas de viajantes franceses e italianos embalaram como suave canção enquanto a paisagem deslizava lá fora. À noite, segurou um fino charuto, deixando a fumaça se enrolar até o teto antes de apagá-lo. Sua serenidade ocultava a gravidade de cada minuto convertido em horas, na contagem regressiva para o prazo final. Em Brindisi, desembarcaram sob brisa úmida, onde palmeiras se balançavam no porto e sinos de igrejas ao longe ecoavam. Já um pequeno grupo se aglomerava para embarcar no vaporizador rumo ao Mar Vermelho.

Ao pisar no convés do SS Marquess of Glenard, Fogg avaliou com olhar crítico o latão reluzente e o acabamento em madeira polida da embarcação. Abaixo, cabines apertadas vibravam com o ronco constante das máquinas, e o cheiro de maresia escapava por cada escotilha. Passepartout, pouco acostumado a viagens oceânicas, passou as primeiras horas no convés panorâmico, conferindo registros de partida e listas de carga. Lá fora, o Mediterrâneo fundia céu e mar num azul infinito, interrompido apenas pelas silhuetas distantes de barcos de pesca. Nuves de tempestade se aglomeravam no horizonte, e Fogg ordenou ao capitão que mantivesse o vapor a toda força, alheio ao risco das águas revoltas. Quando uma rajada súbita fez as ondas romperem pelo convés, Fogg prendeu firme a cartola e desceu para verificar se a pressão do caldeirão seguia estável. Na cozinha, o cozinheiro ofereceu fatias de melão e finas lâminas de presunto curado, um mimo raro que arrancou um leve sorriso de Passepartout. Com o amanhecer, a tormenta dissipou-se, revelando um mar plácido que refletia o sol nascente como ouro derretido. Cada aurora significava menos dias na aposta e, para Fogg, esse simples fato ofuscava o conforto de qualquer refeição ou abrigo.

O desembarque em Porto Suez os colocou diante da árida beleza da costa desértica e do próximo teste de terra e areia. Camelos e caravanas enfileiravam-se nos cais, emblemas de um mundo cujo ritmo era ao mesmo tempo antagônico e complementar à Europa industrial. Passepartout negociou escoltas tribais e condutores de animais, sua empolgação inabalável mesmo sob o calor que pesava como manto vivo. Fogg observava a cena com fascinada quietude, notando o contraste entre horários rígidos de trem e ritmos flexíveis da vida no deserto. O grupo carregou suprimentos numa caravana de camelos, cada caixa e cantil pesados e registrados com exatidão. Quando as primeiras dunas surgiram além da costa, Fogg conferiu o relógio, ciente da aposta que se estendia à frente. Silêncio absoluto reinava, salvo pelos murmúrios de línguas ancestrais e o suave tilintar de cascos. Com o sol a pino, o trajeto pelas dunas ocupava o ciclo solar seguinte, cada passo aproximando-os de Bombaim e do trem subsequente. Ainda que a transição dos trilhos de ferro para as areias movediças marcasse nova fase de provações, a compostura imperturbável de Fogg irradiava confiança a todos.

Ao anoitecer, a caravana alcançou um oásis onde tamareiras se agrupavam em torno de fonte límpida, oferecendo breve descanso. Labaredas pontilhavam o horizonte arenoso enquanto guias locais preparavam pães achatados e ensopado cominho e coentro. Fogg tomou uma xícara de chá de hortelã, poupando energias para a árdua etapa. Sob o brilho das lanternas, conferiu o livro de registros, anotando cada milha percorrida e as horas restantes antes dos oitenta dias. Passepartout, exausto e eufórico, contou aos curiosos beduínos histórias das maravilhas do dia, seu sotaque francês suave ondulando no vento. Além do acampamento, dunas subiam e desciam como ondas titânicas congeladas, lembrando a grandiosidade impassível da natureza. Fogg ouviu o chamado distante de uma coruja e o murmúrio do deserto, como se cada som reforçasse sua determinação. Naquele silêncio de comunhão com as areias, reafirmou seu compromisso com a aposta que o prendia a essa jornada implacável. Quando a lua subiu e iluminou as dunas em prata, Fogg recolheu-se à tenda de lona, pronto para o amanhecer e tudo o que traria.

Perigos nos Mares e nas Areias

Depois de breve descanso em Suez, Phileas Fogg e Passepartout embarcaram no SS Marquess of Glenard para a perigosa travessia do Mar Vermelho. Brisas quentes traziam aroma de sal e deserto, mesclando-se ao zumbido das máquinas e ao ranger das vergas. Passageiros trocavam histórias sobre ruínas antigas e caravanas de mercadores, mas Fogg mantinha-se absorto no manifesto de carga, calculando o impacto de cada hora em seu cronograma. O capitão, marinheiro de barba grisalha, prometeu passagem rápida mas alertou sobre tempestades no Golfo de Aden. Todos os dias, ao amanhecer, Fogg observava o horizonte com binóculos, anotando possíveis atrasos ou desvios. Abaixo, Passepartout organizava refeições e verificava as bagagens em meio à carga em movimento. Certa manhã, a silhueta de um banco de areia surgiu na neblina, lembrando rotas moldadas pelo tempo e pela maré. Quando o navio se aproximou, tripulantes prepararam as âncoras, e Fogg deu um curto aceno, aprovando as escolhas de navegação. As águas cor de cobalto refletiam o céu, mas ele não permitia que a beleza o distraísse da inflexível marcha do tempo.

Navigação marítima e caravanas de camelos contrastando com uma costa desértica
Fogg troca de navio para um acampamento de camelos enquanto o sol arde na costa deserta de Suez.

A transição de navio para trem em Bombaim revelou-se repleta de complicações burocráticas e plataformas alagadas pela monção. Cruzando o interior da Índia a bordo do Grand Bengal Express, Fogg maravilhava-se com campos de arroz esmeralda, bosques de palmeiras e templos imponentes. Porém, a garoa incessante ameaçava alagar os trilhos e atrasar o prosseguimento até Calcutá. Autoridades ferroviárias encontravam-se em cada entroncamento, onde as chuvas exigiam inspeções minuciosas. Passepartout negociava com engenheiros locais, chegando a subornar um escrivão para agilizar a liberação dos bilhetes. Moradores buscavam abrigo sob banyan trees enquanto trovões ribombavam no céu monçônico. Fogg, impassível, conferia o relógio e sinalizava ao maquinista para manter o vapor forte, sem descuidar da segurança. A velha locomotiva trovejava, suas rodas escorregando nos trilhos molhados, mas seguia como se impulsionada pela pura vontade de Fogg. Quando chegaram a Calcutá, um arco-íris arqueou-se sobre a estação alagada, promessa silenciosa de fortuna restaurada.

Sob o calor úmido da Índia, Fogg enfrentou agora o deserto de Rajasi em caravana de camelos. Contratou guia beduíno e montou dromedário resistente, cujo assento rangia sob o sol escaldante. A caravana serpenteava por dunas que se erguiam como ondas douradas, sem pontos de referência claros. À noite, acampavam sob o brilho trêmulo de tochas, partilhando ensopado temperado e ouvindo melodias de flauta dos nômades. Passepartout, exausto mas eufórico, anotava em seu diário diagramas de mares de areia e oásis distantes. Fogg permanecia estoico, embora gotas de suor lhe escorressem pela testa e as dunas testassem sua resistência. Quando tempestades de areia surgiam, refugiava-se em sua tenda de lona, revisando itinerário e aprovando ajustes. À noite, estrelas surgiam com clareza, guiando a caravana e oferecendo a Fogg conforto silencioso. A cada milha, a areia minava sua força e reforçava sua determinação de cumprir a aposta.

De volta aos cais de Bombaim, Fogg embarcou no SS Sakura para Yokohama e a imensidão do Pacífico. O casco de aço rasgava ondas que subiam como montanhas, enquanto gaivotas circulavam no céu tempestuoso. Fogg monitorava leituras barométricas e acenava aos oficiais antes de seguir ao convés. Passepartout fez amizade com mercadores de Karachi, trocando presentes e histórias. Estudavam mapas em busca da rota mais curta, comparando horários de vapores e anotando datas críticas. As noites no mar revelavam ondas fosforescentes e o farol distante piscava alertas. Quando uma tempestade tropical irrompeu, ondas açoitaram o casco e lamparinas balançaram nos corredores. Ainda assim, o olhar sereno de Fogg não vacilou; ele supervisionou as máquinas para manter o curso. Ao amanhecer, a tormenta passou, e o Sakura rumou aos portos insulares onde cada hora se escoava irrevogavelmente.

Na China, conectaram-se ao Peking Express, trem formidável que cruzava montanhas e planícies costeiras. Conferências de passaportes e barreiras linguísticas desafiaram seu intelecto; Fogg contou com um intérprete local recomendado pelos anfitriões japoneses. Vagões luxuosos contrastavam com acampamentos modestos vistos pelas janelas. Quando o expresso parou por desabamento de túnel perto de Xangai, Fogg permaneceu a bordo, enviando mensageiros para informar a posição exata e solicitar reparos. Horas depois, os trilhos foram reabertos e o trem rugiu para a frente, ladeado por plantações de chá e pagodes antigos. A cada parada, multidões se aglomeravam para ver o inglês que atrevia-se a desafiar o tempo. Em cada aperto de mão, sua reputação corria mais rápido que a locomotiva. Ao aproximarem-se de Vladivostok, última escala oriental na Ásia, Fogg permitiu-se breve êxtase — ciente, porém, de que os dias seguintes exigiriam precisão absoluta.

Em Vladivostok, embarcaram no SS Pacific Star para a longa travessia do Pacífico e a viagem transcontinental pela América do Norte. Estudaram horários transiberianos, ansiosos para recuperar horas e minimizar esperas em estações geladas. O ar ficou mais frio a cada milha náutica, e Fogg vestiu um sobretudo pesado que destoava de seu traje habitual. Onda após onda, a embarcação avançava contornando a península coreana, determinada como seu comandante. Sob um oceano estrelado, conversas sobre exploradores e planos futuros ecoavam pelos conveses rangentes. Fogg anotava data e hora em seu diário com meticulosa atenção, cada registro símbolo de triunfo sobre acaso e obscuridade. Quando a costa norte-americana despontou no horizonte, sentiu o peso da aposta aliviar pela primeira vez desde a Inglaterra. Naquele momento, mestre e criado sabiam que os capítulos finais exigiriam toda sua engenhosidade e afinco.

A Corrida Final para Casa

Após meses no mar e incontáveis milhas por caminhos empoeirados, o SS Pacific Star finalmente depositou seus passageiros no porto enevoado de São Francisco. Ostentando o nome lendário em seu casco, prometia travessia rápida rumo ao leste pela recém-inaugurada ferrovia transcontinental americana. Fogg desembarcou com o mesmo compasso infalível mantido desde Londres, conferindo o cronômetro de viagem a cada passo. Passepartout, com o chapéu levemente torto na brisa suave, maravilhava-se com a grandeza da Golden Gate diante deles. No pátio ferroviário, locomotivas de aço polido e latão bufavam impacientes, prontas para conduzi-los pelas planícies intermináveis. A jornada para o leste desenrolava-se sob campos ondulantes de trigo, montanhas distantes e a silhueta de bisões ao longe. Ainda assim, a rede ferroviária apresentava desafios: conflitos de horários, manutenção de trilhos e olhares curiosos de fronteiriços. Fogg contornou cada obstáculo com compostura, entregando notas generosas a mestres de estação atarefados para garantir prioridade. Tudo isso enquanto monitorava o relógio, calculando que cada hora economizada o aproximava do triunfo mais audacioso da história.

Phileas Fogg descendo do trem na estação Euston sob a tênue luz dos lampiões a gás
Fogg chega à estação de Euston momentos antes do prazo, recebido por multidões de espectadores que testemunharam sua notável volta ao mundo.

O detetive Fix, convencido de que Fogg era o mentor de um recente assalto, seguia-o por estações urbanas e pradarias abertas. Disfarçado em roupas civis, recrutava policiais para revistar trens e interrogar passageiros, mas a documentação minuciosa de Fogg frustrava cada investida. Passepartout percebeu olhares furtivos e alertou seu patrão sobre a vigilância. Fogg respondeu apenas com um aceno cortês, mantendo o olhar fixo nos relógios das estações. Em Cheyenne, durante inspeção de rotina na caldeira, Fix tentou abordar Passepartout perto do reservatório de água. O criado desviou suspeitas com uma piada oportuna. O maquinista apitou, as rodas voltaram a girar e Fix foi forçado a abandonar a perseguição. De seu lugar no carro de observação, Fogg viu a silhueta do detetive encolher-se no horizonte. Alheio a perigos pessoais, seguiu adiante, tratando cada atraso como variação no grande balé logístico.

A imensa pradaria de Nebraska deu lugar às colinas arborizadas dos Apalaches, onde a noite trouxe frio cortante não sentido desde os Himalaias. Nos vagões-leito divididos por cortinas de lona, Fogg descansava entre breves sessões de planejamento. Passepartout, agora veterano de viagem, preparava café num fogareiro portátil, aroma misturando-se ao assobio distante de locomotivas. Lá fora, postes iluminavam vilarejos ao longo dos trilhos, cada um oferecendo mantimentos frescos e chance de despachar cartas a Londres. Cartas de bancos e conhecidos chegavam, reforçando a fama de pontualidade inabalável de Fogg. Ainda assim, cada milha consumida ameaçava a tênue linha entre triunfo e ruína, e ele falava pouco além de confirmar horários. Em Chicago, pane mecânica atrasou o expresso. Em vez de reclamar, Fogg organizou um carro de correio substituto para reduzir a lacuna de duas horas. Ao embarcar no trem reprogramado, o fantasma do tempo perdido era agora fração de sua preocupação.

A etapa final pela Nova Inglaterra levou Fogg por rios semi-congelados e aldeias cobertas pela geada de início de inverno. Ramos de pinheiro polvilhados de neve cintilavam sob faróis, criando sombras etéreas sobre os vagões. A bordo, passageiros compartilhavam chocolate quente e comentavam manchetes sensacionais sobre a façanha quase mítica de Fogg. Alguns especulavam que só a sorte sobrenatural o munira de tamanha determinação. Passepartout, a caminho de alimentar o fogo da fornalha, reconheceu a ironia: a aposta que desafiava o acaso tornara-se ela própria lenda. Em Portland, Fogg fez baldeação para vaporizador rumo a Halifax, ansioso pelo trecho final do Atlântico. O vagão deixado para trás vibrava com o fôlego coletivo de viajantes, sem saber que testemunhavam momento crucial. No convés, Fogg ajustou seu registro de tempo, encantado com a perspectiva de vitória apertada. Enquanto o navio cortava as ondas geladas rumo à Europa, permitiu-se rara sensação de satisfação silenciosa.

A travessia pelo SS Arctic foi tranquila a princípio, com mar plácido e céu adornado por fitas de aurora. Sem aviso, um vendaval balançou a embarcação sobre águas geladas. Tripulantes fecharam escotilhas, e Fogg ofereceu mão firme onde era preciso, impassível no vento. Passepartout enxugou o convés e ajudou um passageiro enjoado, arrancando sorrisos de alívio. Entre vento e salpicar, o capitão manteve curso, reputado como a rota mais rápida a Liverpool. Ao amanhecer, tempestade dissipada, velas e vergas reluziam cobertas de geada, e o porto emergiu como espectro pitoresco. Fogg permaneceu na proa, sentindo os últimos sopros do Atlântico, mente acelerada em cálculos. Apesar da travessia traiçoeira, recuperara quase seis horas perdidas. Com os penhascos da Inglaterra no horizonte, preparou-se para o último e mais angustiante sprint de volta a Londres.

Ao chegar em Liverpool, Passepartout disparou adiante para confirmar a partida do Midland Limited, trem mais rápido para a Estação Euston. Fogg seguiu a passo calculado, relógio em punho, anotando cada minuto. O Midland Limited cortava campinas ondulantes e cidades industriais iluminadas por lampiões. Viajantes inclinavam-se nas janelas, ansiosos por ver o homem cujo nome atravessava continentes. Quando a locomotiva apitou, a plataforma encheu-se de murmúrios de espanto e admiração. Fogg embarcou com aceno cortês, escoltado por carregadores que percebiam a historicidade do momento. Ao avançar, fechou os olhos, imaginando o gramado verde do Reform Club e o instante exato do triunfo. Dez minutos antes do prazo de oitenta dias, o expresso chegou a Euston Station num estrondoso coro de aplausos. Phileas Fogg desceu à plataforma, sem um fio fora do lugar, e ergueu o olhar ao relógio com leve sorriso conivente. Naquele último suspiro, o valor da aposta — mais que dinheiro — revelou-se triunfo da perseverança humana sobre o tempo.

Conclusão

A extraordinária odisseia de Phileas Fogg provou que a determinação humana pode redefinir os limites do possível. Partindo de uma simples aposta num clube londrino, a jornada levou a rotina meticulosa de um homem por labirintos de mares traiçoeiros, desertos áridos, ferrovias industriais e emaranhados diplomáticos. A cada reviravolta do destino — fossem as monções na Índia, as caravanas sob sol escaldante ou falhas mecânicas em trilhos distantes — Fogg manteve dedicação inquebrantável à missão. Ao seu lado, Passepartout transformou-se de criado ingênuo em confidente de confiança, reforçando o cerne da história: lealdade e criatividade. Embora o próprio tempo parecesse adversário implacável, seu planejamento meticuloso e serenidade adaptativa converteram desafios em oportunidades. Ao pisar novamente o solo de Londres poucos minutos antes do prazo autoimposto, Fogg demonstrou que coragem e perseverança são tão vitais quanto a força de qualquer máquina ou vela de navio. Sua circunavegação ressoou muito além de mera vitória apostada em francos; tornou-se testemunho da incansável busca humana por descoberta e do triunfo sobre a adversidade.

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