Araby: A Jornada de um Jovem Coração da Ilusão à Realidade em Dublin

12 min

A dreamy-eyed boy gazes down North Richmond Street in the pale winter light, imagining the magical possibilities of Araby.

Sobre a História: Araby: A Jornada de um Jovem Coração da Ilusão à Realidade em Dublin é um Histórias de Ficção Realista de ireland ambientado no Histórias do Século XX. Este conto Histórias Descritivas explora temas de Histórias de Formação e é adequado para Histórias Jovens. Oferece Histórias Culturais perspectivas. A Esperança e o Despertar de um Sonhador nas Ruazinhas da Irlanda do Início do Século XX.

Introdução

No início do século XX, na parte norte de Dublin, os dias frequentemente começavam com o som das carroças de leite percorrendo vielas estreitas e empedradas e o riso distante de crianças ecoando entre filas de casas geminadas de tijolos vermelhos. As cinzentas manhãs de inverno traziam um frio que se infiltrava em cada pedra, e o ar, pesado com o cheiro de fumaça de turfa, envolvia tudo. Em uma dessas ruas sinuosas ficava a casa onde cresci — um lugar comum, sem destaque aos olhos da cidade, mas que, para mim, era um microcosmo de todos os mistérios da juventude. Eu morava com minha tia e meu tio, que se erguiam todas as manhãs envoltos em uma névoa rotineira de hábito e preocupação. Seus sussurros no café da manhã giravam em torno de contas e do tempo, mas havia pouco conforto nessas ocupações adultas. Eu, porém, encontrava consolo nos delicados rituais da infância: a forma como a luz se acumulava nos cantos conforme o dia avançava, o emocionante farfalhar das páginas ao folhear livros de aventuras junto à janela, o vínculo silencioso entre os garotos que brincavam no fim sem saída da Rua North Richmond depois da escola.

Fora dos nossos corredores sombrios, a vida oferecia lampejos inesperados de luz — um dente-de-leão erguendo-se entre as lajes, ou o raro sorriso luminoso da irmã de Mangan. Ela morava ao lado, uma figura meio oculta, cuja presença era como um raio de sol rompendo nuvens de inverno. No estreito universo da minha adolescência, ela encarnava a graça. O suave balançar da saia na soleira, o sussurro de sua voz no corredor mal iluminado — esses momentos tornaram-se sagrados, girando como satélites ao redor dos meus dias lentos. Observava-a de longe, criando em minha mente uma visão mais elaborada e profunda do que a própria realidade ousava oferecer. Afinal, o que saberia um garoto sobre o amor de verdade, a não ser a dor inebriante do desejo e a devoção tímida?

Dublin, com toda a sua agitação, parecia pausar por ela. Até os postes de luz, piscando ao entardecer, ajustavam seu brilho para que ela passasse imune às sombras. Minha mente era um teatro em que ela interpretava o papel principal, cada gesto seu elevado a arte, cada palavra um presente secreto só para mim. Essa ilusão me envolvia com conforto absoluto, até que surgiu a promessa do bazar — um lugar exótico e fascinante chamado Araby — erguendo-se como um farol de esperança. Ele brilhava no horizonte dos meus dias, convidando com a promessa de presentes, aventura e, quem sabe, a chance de transpor o abismo que nos separava. Se eu fosse a Araby por ela. Se eu trouxesse algum mimo, algo raro, ela saberia da profundidade da minha devoção e meus sentimentos finalmente se tornariam claros. Foi essa esperança, pura e frágil, que me elevou acima dos telhados cinzentos da cidade apertada e fez meu coração saltar rumo a sonhos impossíveis.

A Centelha da Devoção

Todas as manhãs, a primeira coisa que eu procurava era o mais breve vislumbre dela — a menina que morava ao lado. O nome verdadeiro dela eu mal ousava pronunciar, nem para mim mesmo, tamanha era a força do feitiço que ela lançava sobre meus dias. Lembro-me de observá-la pela janela da sala de visitas, coração acelerado, enquanto a rua despertava devagar — o chamado do leiteiro, o estrondo surdo das lixeiras, as faces taciturnas dos homens a caminho do trabalho. A cada dia, meu mundo se transformava, imperceptível mas certo, com o som da porta dela, o mais leve estalo da lingueta e a barra de seu vestido escuro arrastando-se sobre as lajes acinzentadas. Sua presença era meu próprio clima pessoal, convertendo até a manhã mais úmida de Dublin em ouro.

Um garoto jovem espreitando por trás de uma cortina, observando uma menina em uma rua enevoada de Dublin.
O protagonista observa silenciosamente a irmã de Mangan enquanto ela surge na rua crepuscular de Dublin, seus sentimentos florescendo em segredo.

Eu jogava futebol e brincava de esconde-esconde com os meninos, trocando boatos, segredos e piadas cruéis. Mas meus pensamentos permaneciam em outro lugar. Minha mente pintava-a em cores que nenhum artista ousaria — seus cabelos como castanhos lavados pelo sol de noites perdidas, seus olhos cheios de distâncias que só eu sonhava atravessar. Eu ficava constrangido quando ela parava para falar; suas palavras, simples e inocentes, flutuavam entre nós, mas carregavam um peso impossível. Comentava distraidamente sobre a escola ou notava um gato vadios no quintal. Cada sílaba tornava-se um tesouro a ser guardado e rememorado muito depois de o crepúsculo ter caído.

Então, numa tarde ventosa, começou-se a falar de Araby. O bazar era assunto de todos — as freiras na escola, os meninos na rua e até os lojistas que colavam cartazes coloridos em vitrines empoeiradas. Mas foi a empolgação dela que fez meu coração disparar: “Ah, eu adoraria ir. Não posso por causa do retiro no convento.” O pesar permaneceu no ar e, num momento que me trouxe um arrepio secreto de alegria, ela voltou os olhos esperançosos para mim: “Se você for, poderia me comprar algo? Talvez um presentinho de Araby?”

Daquele instante em diante, Araby se transformou. Deixou de ser apenas um bazar — um lugar para passear entre bugigangas curiosas, barracas sedutoras e vozes estrangeiras — e tornou-se minha busca pessoal, meu desafio cavaleiresco, uma jornada de importância secreta. À noite, deitado no meu quarto frio, eu evocava imagens do Oriente exótico, pensando apenas no presente que traria para ela. Imaginava-me diante dela, no pálido brilho da manhã, seu olhar iluminado pela surpresa com qualquer lembrança que eu tivesse conseguido encontrar. Seria a prova de que eu era diferente, de que a via como ninguém mais na nossa avenida sonolenta.

Falei pouco sobre meus planos, mas a expectativa tornava meus dias mais claros e minhas tarefas menos penosas. Meu tio, sempre distraído, chegava tarde em casa e se perdia no jornal do dia, alheio à minha impaciência crescente. Os dias que antecederam o bazar se confundiram em um véu de rotina, a cidade passando em tons apagados. Eu ainda a via, às vezes sorrindo timidamente quando nos encontrávamos na soleira, às vezes absorta em pensamentos. Cada encontro eu catalogava, analisava e reproduzia em minha mente, tecendo um tapete muito mais refinado do que a realidade sem graça que conhecia.

Mesmo naquela última tarde, quando a escola terminou e a garoa começou a martelar as janelas, minha única esperança era que nada — nem o clima cinzento, nem o esquecimento do tio — me impedisse de chegar a Araby. Cada atraso, cada conversa adulta, soava como um obstáculo em uma história, e eu era o herói solitário, enfrentando perigos banais em busca de algo maior do que eu mesmo. Minha mente fervilhava com imagens: o estranho brilhar das lanternas, risos diferentes de tudo o que eu já ouvira, e o frio na espinha ao escolher, com mãos trêmulas, um presente capaz de capturar a grandeza do meu amor oculto.

Perseguindo a Miragem: A Noite em Araby

Finalmente chegou a noite de Araby. Tudo deveria ter sido comum. Se meu tio não tivesse demorado no pub, se o jantar não tivesse sido atrasado, se as moedas da passagem de bonde não tivessem pesado tanto na minha mão, talvez a expectativa não tivesse azedado tão rapidamente em frustração. Mas naquela noite nada conseguiu sufocar minha determinação. Até a cidade, coberta por uma garoa suave, parecia nova enquanto eu corria em direção ao ponto do bonde, torcendo para que o mercado ficasse aberto só para mim e para minha promessa.

Um bazar quase vazio e mal iluminado à noite — a feira de Araby chegando ao fim, enquanto um garoto desapontado permanece sozinho.
O protagonista está à porta do bazar de Araby, agora quase vazio, suas esperanças esmorecidas pelo fechamento gradual das barracas e pelo tremeluzir das lanternas.

A viagem pela cidade desenrolava-se como um sonho febril. Lâmpadas elétricas lançavam arcos vacilantes sobre os paralelepípedos molhados, os sinos dos bondes ecoavam no ar frio, e rostos de estranhos surgiam em manchas douradas meio iluminadas. No interior do bonde, eu encostava a testa no vidro, coração aos pulos, repetindo baixinho as palavras dela: “Você poderia me comprar algo?”

O bazar Araby ficava mais longe do que eu imaginara, oculto além do centro familiar de Dublin, como se fosse outro mundo. Ao me aproximar, meu entusiasmo se misturou à apreensão. As ruas rarearam e, ao alcançar o grande arco de entrada, restavam apenas alguns visitantes, cujas risadas se dissipavam entre as barracas sombreadas. Lanternas de papel esforçavam-se para lançar cor contra o breu que se aproximava, e, atrás de cortinas, comerciantes cansados olhavam para o relógio e cochichavam em sotaques estrangeiros e misteriosos.

Lá dentro, percorri as tendas apressadamente. Bugigangas de terras distantes — candelabros exóticos, delicados jogos de chá, peças de vidro colorido — piscavam sob lâmpadas esfumaçadas. Apertei o punho em torno das moedas, de repente tão insignificantes diante das ofertas deslumbrantes. Cada comerciante parecia olhar através de mim. Uma vendedora inglesa mal conteve um bocejo enquanto eu hesitava, os dedos roçando um vaso de porcelana. Imaginei a irmã de Mangan — seu entusiasmo, sua fé na minha jornada — e senti um aperto de medo no peito diante da possibilidade de falhar.

Vagueei sozinho pelo bazar moribundo, ouvindo as últimas conversas, o arrastar de pés sobre tábuas e o lento apagar das luzes. Ali, no meio do que deveria ser um mundo encantado, só enxerguei o ordinário. Os mercadores, exaustos e pragmáticos, não tinham ideia da minha missão. As sedas coloridas e os enfeites brilhantes pareciam desbotados, falsos sob aquelas luzes trêmulas.

Detive-me diante da última barraca ainda aberta, minha esperança vacilando. Havia uma bandeja de miudezas — efêmeras, baratas, nada das riquezas que eu desejava. Um único instante de indecisão foi suficiente. A vendedora, desinteressada, chacoalhava uma caixa de moedas como minha tia fazia ao contar trocados. O encanto se quebrou. Soube então que nenhuma joia tosca, nenhum presente sem brilho poderia expressar o que eu esperava. O mundo que eu criara na mente — onde ela e eu estaríamos unidos por algum talismã — simplesmente se dissipou como fumaça.

No limiar daquele bazar quase vazio, com a longa caminhada de volta ainda pela frente, compreendi a verdadeira distância entre os sonhos de um garoto e as realidades adultas, entre esperança e desapontamento. À medida que as luzes se apagavam e o silêncio da noite repousava sobre a cidade, o golpe da revelação doeu mais do que qualquer pancada física. Saí de Araby de mãos vazias, carregando apenas o peso do meu próprio despertar.

Desilusão: O Despertar do Eu

Cheguei tarde em casa, a cidade silenciada por uma garoa tênue. Apressado, segui por aquelas ruas familiares, passando por lojas com portas cerradas e cozinhas escuras, ansiando por me livrar do molhado misturado à decepção que me envolvia como uma segunda pele. Nossa casa parecia deserta. Até o tique-taque acolhedor do relógio do corredor soava acusatório, como se o próprio tempo me repreendesse por imaginar que a esperança de um garoto pudesse alterar a ordem das coisas.

Um menino pensativo olha através de uma janela empoeirada pela chuva em Dublin, com as luzes da cidade brilhando suavemente no crepúsculo.
Após seu retorno da Arábia, o protagonista senta-se silenciosamente ao lado da janela, observando o crepúsculo cair sobre Dublin e refletindo sobre a perda e o crescimento.

Deixei meus sapatos ao lado da porta e subi em silêncio até o meu pequeno quarto. O frio se infiltrava pelas paredes finas, e o tênue brilho prateado da cidade desenhava padrões móveis no teto. Deitado, acordado, cada detalhe daquela noite desfilava diante de mim: a corrida para o bonde, o olhar confiável dela, o triste burburinho dos vendedores fechando as barracas, o montinho de moedas que antes me parecera tão precioso e agora se mostrava ridiculamente insignificante. Pela primeira vez, senti o choque de me reconhecer não como um herói, mas como uma criança — tolo e exposto ao mundo.

Os dias se passaram. Voltei a vê-la na janela, tão radiante e inatingível como sempre, mas algo em mim havia mudado. Percebi que a gentileza dela comigo — o interesse, os sorrisos tímidos de vez em quando — era apenas isso: gentileza. Não havia em seu coração nenhum anseio secreto refletindo o meu. Meu amor, grandioso e delicioso nos meus devaneios, era só meu, um fogo alimentado por ilusões infantis. De algum modo, esse reconhecimento trouxe um conforto estranho e profundo. Novas cores tingiram minha visão do mundo — cinzas amansados e o verde molhado dos jardins de Dublin, o calor da luz do dia em uma rua vazia. Comecei a perceber não apenas o fulgor da beleza, mas também seu caráter efêmero.

A rua perdeu parte da magia. Não ficava mais à soleira, aguardando-a como uma mariposa à luz. A dualidade que vivia em mim — o garoto ainda sedento por milagres e o jovem que compreendia a perda — assentou-se silenciosa no meu âmago. Com o tempo, o fervor se apagou. Observei a irmã de Mangan com uma afeição serena, livre de esperança e arrependimento. Em vez disso, aprendi a valorizar a honestidade dos pequenos momentos — a forma como a chuva tingia de prata as lajes, o compasso das botas do meu tio no corredor, o silêncio suave que seguia o despertar da cidade.

Olhando para trás, vi minha jornada a Araby pelo que ela foi — uma passagem, a queima necessária dos mitos infantis. Pois esse foi o presente que, sem saber, trouxe do bazar: o conhecimento de que o coração, em sua ânsia, pode criar mil sonhos, mas a realidade negocia apenas verdades. Meu mundo, agora mais honesto ainda que um pouco mais solitário, tornara-se imensuravelmente mais amplo. E em algum ponto dessa amplidão nascera a primeira promessa real de quem eu poderia vir a ser.

Conclusão

Após Araby, as ilusões da infância se dissiparam suavemente, como uma névoa levantando-se das ruas cinza de ardósia. Aprendi que os sonhos nem sempre conduzem a grandes vitórias, mas a suas próprias dissoluções silenciosas — presentes de sabedoria envoltos em tristeza. Dublin, antes lugar de mistério sem fim e possibilidades estonteantes, estendia-se diante de mim transformada, não menos real por suas decepções. Onde antes eu guardava o anseio secreto despertado por um único olhar, agora compreendia o poder mais sutil da aceitação: cada esperança brilhante, mesmo quando vacilava, carregava em si as sementes de um saber mais profundo. Ainda que o mundo nunca mais parecesse tão mágico, nem o amor tão imune à realidade, eu podia seguir adiante com passos mais firmes, olhar afiado pela verdade, pronto para as pequenas maravilhas que restavam. A lembrança de Araby e as lições que trouxe ficaram como um acorde menor na música do crescimento — agridoce, indelével e completamente meu.

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