Introdução
Sob o céu abrasador de um planalto etíope, onde a terra ressequida se estalava, espalhando poeira pelo leito do vale, e o brilho implacável do sol silenciava todo sussurro de esperança, os aldeões se reuniam à beira do desespero. Falavam em tons sussurrados sobre terraços antes verdes, agora estéreis; poços que secaram e rebanhos sucumbidos à sede cruel. Uma promessa ancestral de chuva — tecida em seus costumes por antepassados que dançavam sob aguaceiros — parecia perdida diante da seca incessante. Ainda assim, entre suas fileiras desoladas, ergue-se uma figura solitária, de porte esguio e rosto sereno, que exalava uma determinação silenciosa. Trazia uma corcunda nas costas, como se a própria natureza houvesse esculpido em sua coluna um lembrete constante dos fardos da vida. Em suas mãos, segurava uma flauta feita de um único talo de bambu, gravada com símbolos antigos de vento e água. Aquele instrumento o acompanhara em cada amanhecer e em noites insones.
Desde o instante em que ele encostou os lábios no bocal, o flautista hipnotizava amigos e parentes com melodias que esvoavam como andorinhas ao alvorecer. Mas canções sozinhas não arrancavam sequer uma gota de umidade do solo endurecido. Dia após dia, inflexível, ele percorria trilhas tortuosas que serpenteavam pelas colinas chamuscadas, tocando para pastores solitários, fontes abandonadas e altares esquecidos em santuários em ruínas. Mesmo sua música, suave como brisa de verão, encontrava apenas um silêncio obstinado. Os aldeões observavam-no com olhares desconfiados, alguns zombando de sua estatura modesta e das costas curvadas, convencidos de que nenhuma melodia, por mais pura, poderia domar a fúria do sol e a ira de um céu implacável.
Ainda assim, o flautista persistia. Cada nota que exalava ao vento era uma prece por clemência, cada trinado, um apelo por renovação. Quando crianças estendiam suas cuias ressequidas em busca de uma gota de orvalho, ele fechava os olhos e imaginava rios jorrando por ravinas sedentas. Ao ouvir os mais velhos relembrando chuvas há muito devastadas, extraía força das memórias e a impregnava em cada canção. Mal sabiam os descrentes que a magia daquela flauta — desperta apenas para quem acredita no invisível — em breve seria posta à prova por mistérios além da compreensão mortal. Pois o silêncio que envolvia o vale não era apenas ausência de umidade, mas um véu tecido por forças que exigiriam um preço ainda maior para restaurar a vida. No silêncio, o destino chamava, e o músico corcunda preparava-se para seguir uma última melodia até o próprio coração do céu.
Sussurros Sob Céus Áridos
A cada amanhecer, o flautista despertava ao som de suspiros quebradiços — um vento varrendo campos vazios, a poeira rodopiando como aves em queda. Ele saía de sua modesta cabana de gravetos entrelaçados e madeira pálida pelo sol, a flauta pendurada às costas, os símbolos entalhados suavizados por incontáveis carícias. Os aldeões o recebiam com acenos contidos, embora olhassem sua corcunda, a crista estreita que se curvava pela coluna como uma interrogação silenciosa. Nesses olhares, via frequentemente compaixão, mas às vezes um lampejo de esperança — o desejo não declarado de que sua música, afinal, amolecesse o céu.

Ele percorria trilhas estreitas que serpenteavam pelos terraços de teff e cevada, agora reduzidos a um restolho cinzento. Cada passo ressoava memórias de colheitas que alimentavam centenas de famílias; restavam apenas arrependimentos e cestos vazios sob um sol impiedoso. O flautista detinha-se em cada sulco arruinado, inspirava fundo e erguia o bambu aos lábios. Do corpo oco escapava uma melodia — um zumbido baixo e constante, como o próprio coração da terra, crescendo em suaves ondulações e suspirando com a maciez de uma chuva distante.
As notas se agarravam ao ar, entrelaçando-se com os caules ressequidos e flutuando pelos currais onde cabras exaustas buscavam sombra. Até o vento parecia se calar, inclinando-se para capturar cada acorde. Mas o céu permanecia um quadro implacável de azul vazio. Quando a última nota se dissipava, o flautista exalava, o peito transbordando anseio. Oferecia aos campos uma prece silenciosa, prometendo retornar e tentar de novo.
Logo, sua devoção chamou a atenção dos anciãos do conselho da aldeia, que se reuniram sob uma acácia desgastada pelo sol. Alguns o chamavam de tolo, acusando-o de desperdiçar tempo precioso com canções incapazes de convocar uma única gota de chuva. Outros, lembrando antigas lendas de nuvens prateadas invocadas pelo vento e pelo canto, instigavam-no a prosseguir. Nenhum ousava dizer em voz alta o que cochichavam em conchavos: o receio desesperado de que ele pudesse falhar.
Ainda assim, o ritual cotidiano do flautista tornou-se uma fagulha de esperança em terras entorpecidas. Crianças o seguiam à distância, imitando a curva de seus dedos sobre o bambu e assobiando suas canções enquanto varriam a poeira dos pátios vazios. Mulheres, cansadas de cântaros leves demais para matar a sede, interrompiam suas tarefas, fechavam os olhos e escutavam. Em cada recanto do vale árido, o zumbido de expectativa se espalhava.
Era depois do crepúsculo, porém, quando o mundo se amolecia sob um céu violeta, que o músico encontrava maior consolo. Sob cabanas iluminadas por lanternas, aldeões acomodavam-se em tapetes e esteiras. Ele sentava-se de pernas cruzadas e, com a flauta em mãos, deixava as primeiras notas deslizarem pelo ar perfumado da noite — sons de anseio que transcendiam palavras. Mariposas e vaga-lumes dançavam à beira da luz, tecendo rastros luminosos entre o canto dos grilos. Até a lua — pálida e fatigada — parecia ouvir, enquanto as ondas da melodia subiam e desciam como uma maré suave.
Em uma dessas noites, uma idosa aproximou-se, olhos marcados por décadas de sofrimento. Colocou diante dele uma tigela pequena de madeira. Dentro, um punhado de sementes reluzentes — grãos antigos semeados em tempos de fartura. "Leve isto", sussurrou ela. "Plante quando as chuvas chegarem." O flautista inclinou a cabeça, sentindo a promessa de mudança, embora nenhuma gota tivesse caído. Guardou as sementes em sua cabana, ao lado da flauta preciosa.
Na manhã seguinte, a expectativa pairava no ar, mas o céu manteve-se em silêncio. Impávido, ele continuou tocando — de dia e de noite — invocando lembranças de rios que corriam como fitas prateadas pelo vale. No sétimo amanhecer, ao erguer a flauta aos lábios, uma nuvem solitária deslizou pelo horizonte. Ele vacilou, o coração disparado ao avistar a borda cinza beirando o azul. A melodia tremeu enquanto ele atraía as nuvens com notas que sussurravam como a brisa do amanhecer.
Conclusão
No auge do crepúsculo, quando as últimas notas do flautista se perderam em um silêncio ávido, os céus estremeceram. Do leste, grandes nuvens rolantes desdobraram-se como estandartes ancestrais, seu sopro trovejante reverberando sobre as colinas. Primeiro, um salpicar de gotas beijou o solo sedento; depois, um dilúvio que varreu anos de desespero em uma única e jubilosa tempestade. Os aldeões saíram de suas casas, braços erguidos, rostos banhados em lágrimas, risos e cânticos. Crianças dançaram nas trilhas enlameadas; agricultores ajoelharam-se para levar a água fria aos lábios ressequidos; e os mais velhos murmuravam bênçãos à música que chamara o céu.
Os campos antes abandonados, ainda encharcados de barro, estremeceram ao ritmo de uma vida renovada. O flautista, o peito arfando de assombro, permaneceu entre seu povo enquanto semeavam as sementes guardadas. Em breve, rebentos esmeralda rasgariam o solo amolecido, e o vale cantaria de novo com promessas de abundância. Mas o verdadeiro milagre não residia nos grãos ou nos celeiros fartos, e sim naquela flauta singela e naquele coração firme que se recusou a render-se ao silêncio.
Gerações depois, quando os festivais de colheita pintavam as aldeias do planalto com risos e canções, a lenda do músico corcunda perdurava. Sua corcunda tornou-se símbolo dos fardos carregados e dos triunfos conquistados; sua flauta, a voz da compaixão que transformou a seca em bênção. E sempre que nuvens escuras se juntam no horizonte, os mais velhos sussurram sua melodia novamente — lembrando a jovens e velhos que a esperança, como a música, pode moldar o mundo.