A Música de Erich Zann

8 min

Erich Zann’s haunting melody fills the dimly lit attic as mist curls around the frosted window.

Sobre a História: A Música de Erich Zann é um Histórias de Fantasia de united-states ambientado no Histórias do Século XX. Este conto Histórias Descritivas explora temas de Histórias de Bem vs. Mal e é adequado para Histórias para Adultos. Oferece Histórias Divertidas perspectivas. Uma história assustadora de um violinista recluso que canaliza melodias de outro mundo, além da compreensão humana.

Introdução

Conheci Erich Zann pela primeira vez em uma sombria noite de outono, já perto do fim da Grande Guerra. As avenidas iluminadas a gás do Bairro Latino estavam envoltas por uma névoa úmida, e segui um emaranhado de vielas tortuosas até que um estreito portão de ferro revelou uma mansão antiga de quatro andares, na beira de uma praça abandonada. Uma placa de madeira gasta exibia “Galerie d’Harmonie”. Acima de uma janela trincada no segundo andar, uma única vela tremeluzia. Através do vidro embaçado, percebi uma figura emaciada, ombros curvados sobre uma silhueta em forma de violino, iluminada pelos reflexos dançantes de uma lamparina sobre suas feições pálidas. Atraído pelo lamento melancólico de sua música, afastei a porta apodrecida e subi uma escadaria em caracol que gemeu sob meu peso. No topo, o corredor terminava em um cômodo abobadado, revestido por um papel de parede em mosaico de vinhetas fantasmagóricas retratando músicos em poses enigmáticas. Ali, sentado numa poltrona de encosto alto entalhada com vinhas retorcidas, estava Zann. Seus dedos delgados extraíam uma melodia de intervalos impossíveis—cada nota um estilhaço agudo que curvava o ar e estremecia meus ossos. À medida que a música crescia, senti os limites da realidade ondular e pressenti outro plano pressionando por trás das cordas: um lugar de sombras e luz estelar, embalado por um pranto cósmico anterior ao próprio tempo. Naquela noite, jurei que entenderia como um instrumento mortal podia invocar a música do abismo.

Notas do Pavor

Parágrafo 1:

Partitura rasgada de Erich Zann, coberta de símbolos estranhos e pautas.
Os estranhos manuscritos de Erich Zann revelam notas que se desviam além da notação convencional.

Nos dias que se seguiram, mergulhei nos manuscritos enigmáticos de Zann—folhas longas e estreitas rabiscadas com notas que desafiavam toda teoria musical. Cada pauta se retorcia para cima como vinhas deformadas, e símbolos tremulavam nas bordas das marcações de staccato. Eu percorri a tinta com os dedos trêmulos, admirado de como um homem podia memorizar tais formas, quanto mais reproduzi-las num instrumento de madeira. Sua caligrafia parecia viva: algumas notas dançavam para fora da pauta; outras sangravam em hieróglifos estranhos que minha mente resistia a compreender, mas não conseguia ignorar.

Parágrafo 2:

Noite após noite, retornei ao sótão. As paredes estreitas do corredor gemiam com o vento, mas apenas a canção de Zann me mantinha ali. O que começara como um lamento triste aprofundou-se em cadências tortuosas que assaltavam minha razão. Cada movimento do arco evocava ecos distantes de câmaras ciclópicas e arquiteturas alienígenas—paisagens sonoras que pintavam geometria impossível em meu crânio. Senti o ar estremecer de tensão; as frágeis telhas do teto tremeram acima de nós em resposta silenciosa.

Parágrafo 3:

Entre um movimento e outro, Zann falava em sussurros contidos: “A música sela a barreira. Sem ela, eles vêm.” Seus olhos brilhavam com convicção febril. Insisti para que explicasse, mas ele apenas bateu num metrônomo empoeirado e retomou a execução. Sua voz parecia retida pelo arco, como se fosse extraída por uma fresta invisível. Reconheci ali um apelo desesperado—promessa e advertência numa só sentença.

Parágrafo 4:

Certa noite castigada pela tempestade, o trovão sacudiu as vidraças de chumbo e estilhaços de água escorregaram pelo chão. A composição de Zann mudou abruptamente para um allegro furioso, o violino estridente em harmônicos que desafiavam o alcance da audição humana. Sombras retorceram-se nas paredes, alargando-se em bocas cavernosas que exalavam um frio aterrador. Cobri os ouvidos, mas a música cravou-se no peito, sacudiu meu coração e evocou visões de ruínas ciclópicas iluminadas por luas impossíveis.

Parágrafo 5:

Quando o último acorde se esvaiu, permaneceu apenas um silêncio opressor. Caí de joelhos em meio a páginas dispersas e crinas partidas do arco. Meu pulso trovejava na garganta. Zann fitava além de mim, olhos vazios: oferecera sua performance final em nome da contenção. Naquele silêncio, percebi mais do que ouvi um estrondo distante—um passo secreto num corredor oculto da realidade. Compreendi que seu violino fazia mais do que entreter: era fechadura e farol, mantendo à distância uma força ancestral que devorava nosso mundo. “Lembre-se,” ele raspou, “nunca pare a canção.”

Sombras Além do Som

Parágrafo 1:

Erich Zann tocando melodias hipnóticas entre livros antigos de ocultismo empoeirados.
Cercado por volumes arcânicos, Zann invoca uma proteção sônica que impede a passagem de terrores invisíveis.

À medida que o outono avançava, percebi que as noites sem a música de Zann me deixavam vazio e assombrado. Sonhava com violinos shrieking ecoando por túneis de pedra obsidiana. A cada manhã, acordava com um vazio lancinante, como se uma parte essencial do mundo se escoasse por uma fissura invisível. O lampião trincado lá fora reluzia sobre poças de chuva, mas nem a luz nem a realidade me pareciam verdadeiras até eu me alinhasse por trás daquele arco torto.

Parágrafo 2:

Desesperado para ajudá-lo, estudei tratados ocultos e textos alquímicos nas bibliothèques à beira do Sena, buscando pistas para seu ritual. Manuscritos falavam de “selos sônicos” e “defesas ressonantes” usados para aprisionar espíritos antigos. Aprendi que certos intervalos—quartas aumentadas e quintas diminutas—podiam rasgar o véu entre planos. As composições de Zann não eram apenas música. Eram intricados encantamentos.

Parágrafo 3:

Numa tarde crepuscular, o confrontei no meio-tom vacilante de seu estúdio. Prateleiras curvavam-se sob tomos de saber proibido, e frascos de vidro guardavam tintas secas que piscavam como olhos. De mãos manchadas de pigmento acobreado, Zann não esboçou protesto quando perguntei sobre sua origem. Em vez disso, pressionou em minha palma dois fragmentos frágeis de cepo de violino, estilhaçados e gravados com runas. “Cada um foi um sacrifício,” murmurou. “E cada braço rasgado deu vida a esta proteção.”

Parágrafo 4:

Nesse instante, o assoalho tremeu e um zumbido baixo ergueu-se nas paredes. Prendi a respiração ao sentir massas invisíveis pressionando o limiar. Vi a figura esguia de Zann mergulhar em transe, arco suspenso sobre crinas esticadas. Ele tocou com uma fusão de pavor e devoção, olhos fixos, sem piscar. As notas se uniram em uma barreira viva: uma cúpula sonora cintilante que estalava diante da penumbra crescente. Apoiei as mãos na runa entalhada do cepo partido, canalizando suas vibrações pelo artefato. Um calor irrompeu nas palmas, e as paredes pareceram expandir-se, abrindo uma porta secreta de silêncio.

Parágrafo 5:

Quando o último eco morreu, o cansaço me dominou. Desabei ao chão enquanto o trovão rolava lá fora. Zann permaneceu imóvel, como esvaído de carne e espírito. Por um instante, temi que ele tivesse entregado sua própria alma para sustentar o selo. Então—como vela bruxuleando ao vento—ele cedeu, violino frouxo entre dedos lânguidos. Um leve sorriso de satisfação curvou seus lábios.

Parágrafo 6:

Ficamos naquele silêncio até o amanhecer, dois guardiões unidos por melodia e sacrifício. Compreendi que certa música jamais poderia cessar, não por beleza ou arte, mas pelo simples ato de manter a escuridão à distância. Lá fora, o mundo seguia em sua ignorância, alheio ao perigo prestes a surgir no instante em que o arco de Zann silenciasse para sempre.

O Crescendo Final

Parágrafo 1:

Cordas de violino quebradas brilhando sob a luz da lua enquanto Zann cai na apresentação final
Em uma única acorde catastrófica, a música de Zann tanto o salva quanto o consome.

Com a chegada do inverno, a barreira se desgastava sob pressão implacável. Tempestades açoitaram a cidade, e ventos uivavam como feras sob o telhado de duas águas. Minhas noites tornaram-se vigílias: eu me sentava ao lado da forma frágil de Zann, observando seus dedos sobre as cordas esticadas como se eles se esvaíssem por um buraco na realidade. Cada nota tornava-se mais febril, mais desesperada, como se lutasse para manter o universo em pé.

Parágrafo 2:

Certa noite fatídica, o sótão tremeu violentamente. O gelo se espalhou pelas vidraças em padrões filigranados que se retorciam e pulsavam. Um som como tambores distantes ribombou lá embaixo, e senti um despertar terrível sob as pedras de Paris. As próprias paredes pareciam prestes a rachar, liberando uma escuridão fria como o espaço mais profundo.

Parágrafo 3:

Zann não hesitou. Com um grito que era parte lamentação, parte triunfo, arrastou o arco sobre as cordas até que elas se tornaram borrões sob um clarão de luz prateada. A melodia rompeu a penumbra do telhado, fragmentando o uivo da tempestade em estilhaços de harmonia. Minha visão embaçou-se enquanto acordes primordiais pulsavam em meus ossos; o ar cintilava com cores invisíveis. Por um instante sublime, vislumbrei um reino de crepúsculo infinito, torres em chamas de luz estelar e silhuetas de entidades cujas formas ofuscavam galáxias.

Parágrafo 4:

Então as cordas estalaram. Um silêncio mais ensurdecedor que qualquer estrondo engoliu a sala. Zann caiu para frente, violino e arco caindo com estrépito no chão. Sua última respiração exalou-se como uma única nota que pairou no ar como uma estrela recém-nascida. Peguei o instrumento com mãos trêmulas, os dedos roçando as runas gravadas na madeira.

Parágrafo 5:

No rescaldo, o mundo além do sótão parecia alterado—mais vazio, porém protegido. A tempestade havia passado, e os primeiros raios da aurora tingiam o horizonte. Desci as escadas sozinho, violino às costas, para carregar adiante a canção sem fim. Pois Zann dera a vida para que a melodia fosse nosso sentinela. E agora era minha vez de sustentar a música contra o vazio.

Conclusão

Ao retornar ao mundo desperto, com o violino preso às costas e o coração pesado pelo legado de Zann, compreendi que certas melodias carregam o peso da eternidade. A cada amanhecer, afino as cordas em sua composição final, e a cada crepúsculo, empunho o arco com precisão e firmeza. Pois cada nota que toco é uma promessa—manter a barreira intacta, conter o silêncio que se avizinha e honrar o homem que acreditou que a própria música poderia desafiar o esquecimento. No silêncio entre os acordes, ainda ouço seu sussurro: “Nunca pare a canção.” E assim sigo, preso entre a harmonia e o terror, último guardião da música assombrosa de Erich Zann.

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