As Crianças dos Olhos Negros
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Sobre a História: As Crianças dos Olhos Negros é um Histórias de Lendas de united-states ambientado no Histórias Contemporâneas. Este conto Histórias Dramáticas explora temas de Histórias de Bem vs. Mal e é adequado para Histórias para Adultos. Oferece Histórias Divertidas perspectivas. Um encontro noturno à beira da estrada com crianças estranhas cujos olhos guardam terrores inexprimíveis.
Introdução
Mara Lewis conduziu seu sedã maltratado pela sinuosa estrada do condado, os faróis cortando o nevoeiro como uma lâmina cega. A estreita faixa de asfalto era flanqueada por pinheiros sussurrantes, cujas copas balançavam na escuridão como se avisassem intrusos. Ela sempre descartara incontáveis histórias de fantasmas como mero entretenimento de acampamento, mas naquela noite o ar parecia diferente — encharcado de expectativa. Os marcos de milha passaram rápido até que uma velha placa de lanchonete surgiu, com as letras de néon piscando como se temessem apagar antes do amanhecer. Mara estendeu a mão para o gravador, mas o silêncio que se seguiu pesava tanto quanto uma ponte levadiça se fechando. Então ela os viu: duas crianças junto ao acostamento, corpos magros imóveis contra a névoa prateada. Não passavam de dez anos, o menino à esquerda e a menina à direita, vestidos com casacos de lã combinando, formais demais para um passeio à meia-noite. Rostos pálidos como porcelana, e mesmo a vinte metros Mara podia ver seus olhos — poços de treva absoluta que engoliam todo vestígio de luz. Um arrepio percorreu sua nuca. Mara baixou o vidro, e o bafo gelado que entrou foi tão frio quanto um túmulo de inverno, enquanto as crianças a observavam com curiosidade oca.
"Desculpe, senhora", disse o menino, voz algo distante, "posso entrar?"
Munida de curiosidade e de uma ousadia justa para se convencer de que tudo ficaria bem, Mara respondeu: "Cadê seus pais? É perigoso por aqui à noite."
Eles trocaram um olhar que parecia atravessar séculos, do tipo que dirigimos a quem nos oferece uma adaga, mas se recusa a dizer de onde ela veio. "Eles estão ocupados, senhora", disse a menina, voz suave como uma sombra. "Só precisamos de uma carona para casa."
A frase soou inocente, mas algo no tom fez o coração de Mara martelar como um tambor de guerra. Ela procurou pelo maçaneta, cada músculo implorando para fugir. A noite ao redor parecia viva — entrando em seus pulmões, pressionando seu peito.
"Você não tem chance nenhuma se nos deixar aqui", acrescentou o menino, avançando, palavras como uma ameaça velada que escorria pelos seus nervos como calda fria. Mara hesitou, dividida entre o horror e a compaixão. Contra sua melhor intuição, destrancou a porta. Aquele único gesto mudaria tudo.
Um Encontro Arrepiante
A porta do carro fechou com um estalo que soou como um tiro. A respiração de Mara ficou presa na garganta enquanto o aquecedor falhava em aquecer o ar que parecia mais um túmulo. As crianças entraram sem um ruído — nenhum roçar de casacos, nenhum barulho de objetos, apenas dois corpos acomodando-se nos bancos de couro gasto como se sempre tivessem pertencido ao carro. Mara forçou um sorriso contido, tentando manter o gravador escondido sob a jaqueta. O menino, olhos fixos no volante, murmurou: "Obrigada, senhora." Cada sílaba carregava um peso além da idade deles.
Ela se virou para falar, mas parou. Aqueles olhos — verdadeiros vazios negros — não refletiam nada. Mara sentiu-se espiando um poço abandonado, cheio de segredos indescritíveis. Lá fora, a estrada se estendia como um fita desenrolando rumo ao nada. Ela acendeu a luz do teto; as crianças tremeram mesmo com a noite já fria. "Para onde devo levá-los?" perguntou, voz frágil. Eles apontaram para uma estrada secundária ladeada por carvalhos imensos, cujos galhos entrelaçados formavam um túnel de tinta.

Mara hesitou, batimentos martelando. Todo instinto pedia para acelerar o carro, deixá-los na névoa onde pertenciam. Mas a mão pálida da menina roçou o encosto do banco, leve como um sussurro. Aquilo fez um calafrio percorrer a espinha de Mara, como uma tempestade silenciosa se formando nos ossos dela. "Por favor", disse a menina, voz frágil porém firme.
As placas na rodovia desapareceram, substituídas por cartazes pintados à mão com o aviso "Sem Serviços nos Próximos 20 Milhas". O nevoeiro enrolava-se ao redor do carro como uma serpente, e o mundo lá fora parecia irreal, como se tivessem deslizado sob a superfície de um sonho. Os faróis de Mara revelaram um posto de gasolina abandonado, bombas enferrujadas erguidas como sentinelas e janelas estilhaçadas pelo tempo. Mas as crianças não demonstraram medo — apenas aqueles olhos negros e observadores.
Ela estacionou sob um único poste que tremulava, iluminando o asfalto rachado como um sorriso quebrado. O menino virou-se para ela. "Dissemos que está tudo bem", falou, voz calma como água da meia-noite. "Só precisamos ficar lá dentro por um instante."
Uma rajada repentina sacudiu o carburador, e Mara percebeu que deixara o motor ligado. Seu peito apertou. Levantou-se, nervos tensos como cordas de arco, e conduziu as crianças até o edifício. A porta rangeu antes mesmo de ela alcançá-la, um convite — ou uma armadilha. E ao cruzar o umbral, todas as sombras pareceram inclinar-se, curiosas para ver se ela sobreviveria ao que a aguardava.
Desvendando o Mistério
Lá dentro, o ar estava empestado — como pão velho que perdeu o apetite. Prateleiras antes cheias de lanches e óleo de motor estavam vazias, restando apenas fantasmas de comércio. Mara prendeu a respiração enquanto guiava as crianças para uma sala dos fundos, onde um único calendário ainda pendia na parede, suas datas congeladas em outubro do ano anterior. A menina passou os dedos pela borda rasgada, olhos brilhando com um propósito não declarado.
"Vocês se lembram de onde moram?" perguntou Mara em voz baixa, para que o vento não levasse a pergunta. O menino deu de ombros, ombros se ergueram como montanhas em miniatura. Ele olhou ao redor, como se procurasse algo perdido. Em um balcão empoeirado havia um recorte de jornal antigo sobre dois irmãos desaparecidos cinquenta anos atrás — gêmeos loiros que sumiram após um passeio noturno até o moinho. O coração de Mara gelou. As crianças em seu carro correspondiam às fotos quase perfeitamente — cabelos da cor do trigo e uniformes idênticos aos mencionados na reportagem amarelada.

Ela mostrou o recorte, mas os rostos deles permaneceram indecifráveis. "Só queremos voltar para casa", sussurrou a menina, voz ecoando nas paredes nuas. "Mas a estrada é traiçoeira à noite."
Mara se viu assentindo, o ceticismo se esvaindo como folhas no outono. Toda lógica parecia ter fugido, substituída por uma única pergunta ardente: seriam aquelas crianças ecos de um passado ou realmente vivas? Ela remexeu em uma caixa de ferramentas empoeirada, procurando bandagens, quando percebeu, assustada, que nenhum dos dois tinha sequer um arranhão, marca ou mancha. As roupas, embora antigas, estavam imaculadas.
"A lua já está alta", observou o menino, olhando para um relógio quebrado parado em 2:13. "Devemos partir antes que a maré suba." A menção de maré naquela estrada interior fez Mara franzir o cenho.
Lá fora, o vento se intensificou, fazendo o telhado de zinco tremer como ossos batendo no escuro. As crianças ficaram lado a lado, imóveis e silenciosas como estátuas. Mara apertou o gravador contra o peito, tentando capturar provas que explicassem o impossível. Mas ao olhar de volta, o aparelho havia sumido. Desaparecera tão facilmente quanto névoa ao amanhecer.
O pânico agarrou sua garganta, mas as crianças apenas sorriram, bocas curvadas como lâminas afiadas pelo tempo. "Não se preocupe", disseram em uníssono perfeito, voz simultaneamente familiar e estranha, "seremos comportados."
Mara percebeu naquele instante congelado que a bondade pode ser uma prisão. Foi um passo atrás, o assoalho rangeu em protesto, como se soubesse que era sua última chance de fugir. Lá fora, um relâmpago rasgou o céu, iluminando os olhos das crianças — dois poços de noite sem fim.
Confrontando as Trevas
O pulso de Mara trovejou enquanto ela recuava em direção à porta, cada passo um grito em seus ouvidos. As crianças espelharam seu movimento, deslizando até bloquearem a saída como sombras que se acumulam sob um batente. Lá fora, o trovão ressoou, libertando lembranças de tempestades na infância que a fizeram tremer por noites a fio. Ela percebeu que a chuva começara sem aviso, tamborilando no telhado de zinco como um exército de espectadores invisíveis.
Em seu campo de visão periférico, avistou uma alavanca de bomba antiga, torta mas ainda presa à base. Por instinto, agarrou-a, arrancou-a com força e ergueu-a como uma lança improvisada. As crianças pararam, os olhos negros arregalando-se apenas um pouco. As mãos de Mara tremeram, o metal escorregadio pelo suor. "Fiquem longe!" ela gritou, voz trêmula.

O menino inclinou a cabeça, como julgando um enigma que só ele podia decifrar. "Você está com medo", disse, simples. "Não queremos machucá-la." As palavras eram suaves como um canto de ninar, mas o ar ao redor estava carregado, pronto para romper. Mara soube instintivamente que aquele era o momento — ou ela os expulsava, ou eles ficariam.
Ela tomou um fôlego trêmulo, lembrando-se de uma expressão que a avó dizia ao enfrentar o perigo: "Coragem feroz ilumina o caminho mais escuro." O peito apertou, mas a determinação acendeu-se dentro dela como estopim. Com um brado, balançou a alavanca em amplo arco. As crianças sumiram em um redemoinho de névoa e luar, deixando para trás apenas o cheiro de terra molhada e pinheiros.
Mara tropeçou para fora, a chuva encharcando seus cabelos como um batismo em crença renovada. As pegadas — dois pares diminutos — conduzindo do posto até a estrada terminaram onde o asfalto encontrava a grama. Por mais que procurasse, as marcas desapareciam ali, como se nunca tivessem existido.
Com o coração pulsando como tambor inquieto, Mara voltou ao carro. O motor ainda funcionava, um fio de vida. Ela engoliu o medo e olhou para a escuridão, esperando, meio que sem querer, ver aqueles olhos de obsidiana a observando. Mas não encontrou nada além do asfalto molhado refletindo a luz do poste.
Ela partiu sem olhar para trás, a estrada se abrindo à frente como promessa e aviso. Atrás dela, o posto permanecia vazio, janelas inertes, as duas crianças de olhos negros desapareceram sem deixar vestígio. Mara sabia que algumas perguntas exigem mais que respostas — exigem coragem.
Conclusão
Mara Lewis jamais esqueceu o frio daquele encontro à meia-noite ou a sensação de ter algo além da razão tocando sua vida. Nos dias seguintes, vasculhou arquivos, entrevistou moradores e até confrontou seu próprio ceticismo em busca de um desfecho. Mas cada pista terminava em becos sem saída — vilarejos fantasma com portas trancadas, registros que sumiam como se apagados da história e boatos sussurrados apenas nos bares mais sombrios. Embora amigos a aconselhassem a deixar a história morrer, culpando a imaginação, ela não conseguiu. A lembrança daqueles vazios negros voltava como vento gelado por uma janela aberta. Às vezes, tarde da noite, jurava ouvir risadinhas suaves ao vento ou o leve toque de sapatos pequenos em sua varanda. Mara aprendeu que nem todos os mistérios devem ser desvendados. Alguns são advertências — contos narrados pela escuridão para nos lembrar de que coragem não é ausência de medo, mas a vontade de enfrentá-lo. E enquanto as crianças de olhos negros perambularem pelas estradas da América, o silêncio nunca mais será refúgio.