Convidado de Drácula

9 min

A solitary carriage rattles over the desolate moors as thunder rumbles in the distance.

Sobre a História: Convidado de Drácula é um Histórias de Ficção Histórica de united-kingdom ambientado no Histórias do Século XIX. Este conto Histórias Descritivas explora temas de Histórias de Bem vs. Mal e é adequado para Histórias para Adultos. Oferece Histórias Divertidas perspectivas. Um assustador despertar vitoriano nas charnecas iluminadas pela lua.

Introdução

No crepúsculo, uma carruagem solitária balançava pela estreita trilha que serpenteava pela charneca de Yorkshire, colinas áridas agitadas pela respiração inquieta de uma tempestade prestes a explodir. Meu amo, um homem de gostos refinados, porém inquietos, insistira em seguir adiante, apesar das nuvens escuras que se acumulavam acima como asas de corvo. Desde o instante em que deixamos para trás o cais iluminado por lanternas de Whitby, um silêncio sobrenatural pairava sobre a paisagem, como se o próprio mundo prendesse a respiração. Cada estrondo de trovão reverberava pelas cabanas de colmo espalhadas pela charneca desolada, o brilho distante das lamparinas engolido pelo ímpeto repentino do vento e pela névoa rodopiante.

O cocheiro, uma figura magra envolta em capa contra a chuva, instigava os cavalos com palavras firmes, embora eu notasse tremores em suas mãos calejadas. Falava pouco, rosto curvado sob a aba de um chapéu gasto, olhos lançando olhares furtivos à silhueta retorcida da linha de árvores, como se aguardasse uma criatura monstruosa prestes a emergir das sombras. Em meio ao céu retumbante, relâmpagos delineavam a estrutura esquelética de antigos menires; suas formas erguendo-se como sentinelas silenciosas, testemunhas de rituais mais antigos que a memória.

À medida que nos aproximávamos da Abadia de Carfax — nosso destino marcado — o tremeluzir de uma lâmpada solitária no pátio ameaçador oferecia um tênue fio de segurança. Ainda assim, cada raio de luz parecia contido, como temendo aventurar-se para além dos muros centenários. O estalo dos cravos de ferradura sobre os paralelepípedos úmidos ecoava em meus ouvidos, e meu coração pulsava numa tensão constante, sussurrando sobre o invisível. Pois, enquanto meu amo dormia dentro do compartimento fechado da carruagem, eu pressentia um desígnio inexorável em ação, atraindo-me para uma narrativa de horror inominável que alteraria para sempre o rumo da minha jornada.

Presságio na Charneca

Quando as portas da carruagem se abriram, pisei na terra encharcada, o frio da charneca infiltrando-se pelo sobretudo como dedos espectrais. O uivo do vento trazia consigo mil vidas de penúria, agitando a urze numa dança inquieta de ondas cinza-esverdeadas que desapareciam na penumbra. Cada passo ecoava contra as colinas distantes, erguidas como fantasmas desolados, e parei junto a um teixo retorcido, cujos galhos curvos arqueavam-se sob o peso de presságios silenciosos.

Sob a camada turva de nuvens, a trilha sinuosa à frente sumia na névoa em espiral, e a cada inspiração eu sentia o gosto acre da chuva misturado à samambaia. Os cavalos bufavam, ansiosos, flancos tremendo como se compartilhassem meu temor não verbalizado, e o cocheiro — um homem de poucas palavras — apontou para um tênue fulgor de lanterna ao longe, fixo como um olho na escuridão. Segui adiante, peito apertado pela expectativa e pelo pressentimento, como se um fio invisível me conduzisse pelo mar volátil de neblina.

Uma ruína envolta em névoa, banhada pela luz prateada da lua, numa planície ventosa.
As torres quebradas da Abadia de Carfax perfuram a densa neblina, enquanto uma única lanterna brilha na sua antiga entrada.

Além do agrupamento de pinheiros sussurrantes, deparei-me com uma poça rasa que refletia o pálido lampejo da lâmpada. Sua superfície ondulava com as gotas de chuva, cada impacto uma pequena explosão prateada que se esvaía no cinzento que se aproximava. Ali, o ar pesava tanto que cada suspiro parecia encharcado, como se a própria gravidade desejasse minha respiração. Ajoelhei-me para observar meu reflexo vacilar e fraturar na água escura, até que um sutil movimento perturbou o espelho líquido. Uma forma longa e sinuosa — nada mais que uma sugestão — deslizou sob a superfície, deixando anéis concêntricos que pulsavam em minha direção como batidas de um coração ancestral.

Levantando-me alarmado, cada fibra do meu ser aguçava-se ao menor sussurro de asas invisíveis ou ao eco surdo de cascos contra a relva. O brilho da lanterna continuava lá à frente, teimoso diante do horizonte desolado, e compelido por uma certeza inquietante de que algo mais antigo que o homem habitava estas terras, avancei novamente.

Ecos em Carfax

A carruagem adentrou o pátio com um estrondo que soou demasiado alto, rompendo o silêncio da charneca como um trovão contra a quietude. Meu amo despertou em sobressalto, espiando pela fresta da janela o arco imponente onde a lâmpada projetava sua luz trêmula. Estendi-lhe a mão para estabilizá-lo enquanto ele descia do assento, a bainha do sobretudo encharcada e o cabelo desalinhado pelos dedos indomáveis do vento. Sua compostura elegante vacilou por um instante ao contemplar as pedras quebradas e as sombras rastejantes que se acumulavam em cada fenda.

O cocheiro murmurou algo, voz trêmula, como se a própria Abadia lhe houvesse surrupiado a coragem, e conduziu os cavalos a uma arquibancada de estábulo vedada por portas em putrefação. Segui meu amo pelo caminho de cascalho, onde o musgo se estendia como veludo sobre lápides agora meio afundadas na terra. Ali, a chuva cessara por completo, como se a gravidade tivesse vertido suas próprias lágrimas, restando apenas o perfume tênue da pedra molhada e do antigo enxofre.

Corredor estreito de uma abadia em ruínas, com velas tremeluzentes e um quadro despedaçado.
Dentro das salas silenciosas da Carfax, molduras vazias e velas dispersas sussurram histórias de vidas desaparecidas e espíritos inquietos.

À frente, as portas principais se escancararam, revelando um salão abobadado perfumado por umidade e decadência. Arandela de velas tremeluziam nas paredes, suas chamas dançando como almas cativas à espera de fuga. Meu amo avançou com passos deliberados sob o arco, o manto rodopiando enquanto as pesadas portas de carvalho soavam atrás de nós. Um riso distante — rouco e zombeteiro — deslizou pelos corredores, arrepiando minha espinha. As paredes gotejavam condensação, e cada estátua, com seus traços lascados, parecia acusada de um crime antigo. Velas agonizantes pingavam em nichos góticos, cera congelada no meio do gotejar, e um frio rastejava pelo piso de lajes como ser vivo em busca de calor. Acendi uma lanterna e ergui-a acima da cabeça: o fraco clarão revelou uma escadaria de ônix, esculpida em espiral, mergulhando na escuridão dos andares superiores.

Subimos em direção a uma câmara opaca, onde se dizia aguardar o estranho anfitrião de meu amo, cada passo retumbando como um tambor solene. A cada curva, tapeçarias com coroas e cruzes se esgueiravam, esgarçadas pelo tempo e pelo abandono. Um silêncio opressor nos envolvia, comprimindo nossos peitos até tornar cada respiração um esforço através de lã densa. Então, pouco antes do patamar, meu amo estremeceu, rosto pálido entre o assombro e o temor. Diante dele, um grande quadro aberto mantinha a tela ausente, como se o retrato houvesse se dissipado no nada. Ao longe, o repique de um sino capela ressoou, embora nenhuma torre abrigasse tal instrumento. O toque ecoou novamente, vibrando o ar com fervor sobrenatural, e percebi com um sobressalto que não havíamos visto nenhum relógio nos salões abaixo. O tempo, parecia, fora engolido pelos muros famintos da Abadia, restando apenas ecos e sombras como testemunhas de nossa intrusão.

Meia-Noite dos Mortos-Vivos

Na câmara mais alta, adentramos um salão gótico cujas janelas elevadas escancaravam-se para a charneca como olhos sepultados que haviam assistido ao fim do mundo. Cortinas de veludo, negras como ruína fresca, pendiam em pregas pesadas, meio arrancadas de varões apodrecidos. O único lustre no teto sustentava velas extintas, pavios intocados pelo fogo há décadas. No centro da sala, uma longa mesa ostentava pratarias e cálices de cristal escurecidos pelo tempo; seus restos evaporaram-se, deixando manchas oleosas sobre o carvalho.

Meu amo avançou até a cabeceira, em pose de receber uma assembleia de convidados ilustres. Segui-o, a lanterna tremendo em minha mão, e quando alcançamos a cadeira no ápice da mesa, um frio súbito varreu todo o calor da sala.

Uma figura misteriosa com olhos brilhantes, sentada em uma abadia em ruínas sob a luz do luar
Na câmara mais alta da Abadia de Carfax, olhando fixamente para o vazio do próprio tempo.

Das sombras, passos emergiram — silenciosos, deliberados. Uma figura envolta num manto negro como breu deslizou para frente, forma indistinta como fumaça, porém de graça sobrenatural. Não havia vela para revelar seu rosto, apenas o suave sussurro do cetim e uma presença mais densa que qualquer peso mortal. Meu amo não vacilou; inclinou a cabeça em deferência medida. “Bem-vindo a Carfax, senhor,” entoou, voz firme e serena. O estranho acomodou-se no quadro vazio encostado na parede, como se atraído por um magnetismo ancestral. Por um instante, nada se moveu. Então, relâmpagos prateados além das janelas delinearam sua silhueta — perfil anguloso emoldurado por cabelos esbranquiçados, mãos longas curvadas como garras. Onde deveriam brilhar olhos humanos, surgiam dois pontos de luminescência pálida.

Uma voz pausada e sonora, qual terra de cemitério deslizando sobre trilhos de ferro, encheu a câmara. “Eu o aguardei,” disse. As palavras vibraram no ar, agitando poeira e terror em igual medida. Minha lanterna piscou e fraquejou, enquanto o fulgor daqueles olhos crescia, imbuindo o recinto com luz profana. Cada vela crepitou e morreu, mergulhando-nos num abismo de ébano perfurado apenas por aquele olhar. Senti meu coração desacelerar, paralisado pela contemplação da noite sem fim, e só a força de vontade me fez avançar, lanterna erguida mais uma vez. O estranho ergueu-se, e o mundo inteiro exalou um suspiro que guardara desde a criação. Quando a porta do salão se fechou com estrondo, o repicar do sino antigo nos convocou para as trevas. Naquele instante derradeiro, compreendi: eu não era mero convidado, mas presa num jogo tão antigo quanto o pecado.

Conclusão

O amanhecer me encontrou cambaleando pela charneca, encharcado de orvalho e terror, os primeiros raios de sol riscavam um céu ainda marcado por púrpuras e feridas da noite anterior. As pedras da Abadia de Carfax jaziam silenciosas atrás de mim, suas torres sombrias transformadas em vultos distantes contra o horizonte pálido. Não professei palavra sobre o que vira; faltariam termos sob o peso de tão primitivo horror. Em silêncio, segui rumo à civilização, cada pegada de casco desvanecendo-se como lembrete de que certas portas, uma vez abertas, jamais se fecham por completo. Até hoje, ouço o eco tênue daquela voz espectral, carregado pelo vento através da urze solitária. E toda vez que a brisa desce da charneca, ergo o olhar, meio esperando ver aqueles olhos luminosos à espreita, convidando-me a retornar à escuridão da qual escapei por um triz.

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