O Assombramento de Ternbl Creek
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Sobre a História: O Assombramento de Ternbl Creek é um Histórias de Lendas de united-states ambientado no Histórias Contemporâneas. Este conto Histórias Descritivas explora temas de Histórias da Natureza e é adequado para Histórias para Adultos. Oferece Histórias Culturais perspectivas. Sussurros dos Espíritos Esquecidos de Hotockingna.
Introdução
As botas de Mara Blake afundavam na terra úmida enquanto ela descia por uma trilha esquecida que levava ao riacho Ternbl — antigamente chamado Hotockingna, o “Lugar Fumegante”. Um ar úmido, com perfume de samambaias, roçava suas bochechas como um sussurro de outro mundo. Mais adiante, o riacho serpenteava entre salgueiros cujas raízes retorcidas agarravam-se às margens como mãos artríticas. Ela inspirou o cheiro de musgo molhado e folhas apodrecidas, sentindo cada fôlego afiar-se como se um sentinela invisível medisse o compasso de seu coração.
Com uma lanterna em mãos, ela traçou antigos petroglifos esculpidos em pedras quase engolidas pelos espinheiros. Eles brilhavam tenuemente no halo vacilante da luz, como luar preso no granito. Os moradores a tinham alertado: “É melhor deixar isso quieto, menina. Esses espíritos no vale não gostam de estranhos.” Mas a curiosidade, implacável como a água do rio sobre a pedra, a impulsionou para dentro da floresta sussurrante.
Um coruja distante chamou, soando oca e profunda, como se canalizasse vozes há muito silenciadas. Sombras se acumulavam sob os salgueiros como tinta derramada em pergaminho, e a luz de sua lanterna hesitava a cada portal. Mara sentiu a terra expirar ao seu redor, uma exalação tingida de tristeza, estratificada como sedimento sob águas claras. A superfície do riacho ondulava sem brisa, como se algo deslizasse lá embaixo — algo mais antigo que a memória.
A cada passo cuidadoso, ela percebia um sopro roçar seu pescoço, uma carícia úmida com cheiro de resina de pinho e fumaça de alguma fogueira ancestral. O ar tinha gosto de orações não ditas e despedidas perdidas. Naquele silêncio, a terra aguardava. E Mara, com o coração disparado como cascos à meia-noite, percebeu que não estava sozinha.
Ecos nos Salgueiros
Um vento baixo agitava as folhas dos salgueiros, fazendo-as sussurrar como pergaminho seco em mão invisível. Mara pressionou a palma contra a casca de um tronco robusto — áspera, sulcada, viva de história. Fechou os olhos e inalou o aroma penetrante da madeira úmida misturado ao doce formigamento do jasmim-do-mato que subia em cipós pelo alto. Parecia que a árvore exalava sob seu toque.
Mais adiante, ela ouviu a água do riacho escorrer sobre pedras, um murmúrio suave como passos esparsos. Seguiu o som, cada passo afundando no lamaçal, até chegar a uma poça rasa cercada por algas verde-jade. A água refletia os galhos do salgueiro como vidro estilhaçado, e no seu fundo algo cintilava — olhos? Uma luz bruxuleante presos sob a superfície. Mara inclinou-se, e o perfume de ervas queimadas e hortelã selvagem subiu na borda da água. Um arrepio percorreu seus ombros.
De repente, o vento silenciou. O tamborilar de seu coração ocupou todos os sons. Então, como trazida por um suspiro moribundo, ecoou a voz de uma criança: “Saia deste lugar.” Mara congelou. A voz carregava tristeza, era quase um suspiro. Ela sussurrou na quietude: “Quem é você?” A palavra emperrou em sua garganta. Nada respondeu, a não ser o leve correr do riacho.
Pegou sua câmera e fotografou a poça. O flash iluminou o reflexo do salgueiro e, por um instante, ela viu uma mão pálida estender-se em direção à lente — fina, alongada, pingando água. Depois o quadro ficou escuro de novo, e a mão desapareceu como se nunca existira. Coração aos pulos, Mara correu de volta para a margem. A floresta parecia inclinar-se, galhos arranhando o céu como dedos acusadores.
No alto, a lua espreitava entre nuvens rasgadas, seu brilho prateado destacando um recanto de pedras cobertas por líquens. Mara lembrou-se da lenda local: aquelas pedras demarcavam o cemitério dos que morreram durante a Trilha das Lágrimas, mães e crianças cherokee deixadas para perecer ali. Um silêncio insuportável se fechou ao redor. Ela encostou as costas no tronco de um salgueiro, cujas raízes pareciam veias sob seus dedos, e percebeu que cada estalo e farfalhar era vigiado por uma dor mais antiga que o tempo.
Um gosto metálico encheu o ar, como ferro em ferida. Então, naquele silêncio pleno, surgiu um eco — lúgubre, resoluto, cheio de um amor que se negava a ser esquecido.

O Lamento Ancestral
A noite se adensara como melaço esfriado quando Mara retornou ao acampamento — uma lona remendada erguida perto de um descaroçador de algodão abandonado, engolido pelas trepadeiras. A lanterna projetava sombras tremulantes sobre a ferrugem das máquinas entre o matagal. Ela apoiou a câmera num tronco e abriu seu caderno de campo, as mãos ainda trêmulas pelo que tivera presenciado.
A cada anotação, a floresta ao redor suspirava, e o coro de cigarras diminuía até um zumbido monocórdio, como se escutasse. Acendeu um incenso de cedro com toque de canela para acalmar os nervos, o aroma enrolando-se nos galhos baixos. De repente, um tambor distante ressoou na escuridão, lento e deliberado, ecoando no peito como um coração tribal. Ela esforçou-se para ver, mas só um círculo de cogumelos brilhava branco no feixe da lanterna.
O tamborilar aumentou, acompanhado por um vento uivante que cortava os pinheiros como lâmina. Vozes se uniram — cânticos suaves, em camadas, em cherokee, um lamento que ecoava sob suas costelas. As palavras retorceram-se em sua mente: “Ayeli nigunesdi” — “a água fala de tristeza”. Um arrepio deslizou por sua espinha.
Mara tirou outra foto, e o flash capturou um borrão de figuras dançando ao redor das rodas enferrujadas do descaroçador — silhuetas altas e esguias, cocares de penas, rostos marcados pela dor e pela resistência. O ar tinha sabor metálico, como se lágrimas envenenassem a brisa. Ela piscou, e os fantasmas se dissolveram em névoa, deixando apenas cinzas de vento nos seus ouvidos.
Mesmo assim, o tambor continuou, afastando-se como um batimento que recua na memória. Mara pendurou o caderno no ombro e seguiu até o velho descaroçador, a curiosidade teimosa como neblina matinal agarrada às samambaias do vale.
De perto, percebeu que o solo ao redor da fundação estava revolvido, como se algo grande tivesse emergido. Pegadas arqueadas — do tamanho de patas de urso, mas com dedos humanos — marcavam o barro. A pele dela arrepiou-se; o medo cantava em suas veias. Ela contornou a forma com o dedo enluvado. Sob seu toque, a terra tremeu levemente. Mara deu um salto para trás, quase derrubando a lanterna. A chama oscilou e chiou, projetando sombras longas e irregulares que dançaram sobre o cume distante.
De repente, o lamento cresceu, como se todos os espíritos ali enterrados se erguessem para falar através do vento. O pesar deles pairou em volta de Mara como nuvens de tempestade se formando. Ela entendeu então que estava na fronteira entre dois mundos — um pé na memória, o outro no mito — e seu trabalho era a ponte que os unia.

O Despertar da Aurora
Antes do amanhecer, a floresta murmurava uma energia inquieta. Uma tênue luz violeta vazava entre as árvores enquanto Mara reunia seu equipamento e se aproximava do riacho onde ouvira o aviso da criança. O ar tinha cheiro de terra molhada, perfumado por orvalho e amoras silvestres. Seu fôlego pairava como fumaça à sua frente.
No silêncio pré-dawn, que parecia vivo, ela percebeu um movimento rio acima — água correndo sobre pedras submersas. Levantou a câmera em posição de guarda e avistou um brilho fosforescente deslizando sob uma canoa virada. Coração martelando mais alto que tambores de guerra, ela entrou na água. O riacho frio fustigou-lhe as canelas, e ela alcançou por baixo da canoa para desaterrar uma caixa de metal enferrujada presa entre as rochas. Era uma lata de tabaco gravada com iniciais e a data de 1838.
Seu pulso latejava a cada expiração contida. Ao abrir a tampa, o ar ao redor se encheu de cedro e mofo. Dentro, encontrou um retrato desbotado de uma família cherokee — mãe embalando um recém-nascido, pai de olhar severo. Atrás da foto, um pedaço de casca de bétula trazia uma única palavra: “Perdoai”.
Um entendimento estremeceu os ossos de Mara. O desassossego dos espíritos nascia da traição — de promessas quebradas na Trilha das Lágrimas e corpos abandonados aos elementos. Ela se ajoelhou sobre as pedras escorregadias e leu a bétula em voz alta, clara e forte: “Que suas almas encontrem paz.”
Quase de imediato, a superfície do riacho se tornou lisa como seda esticada. A luz inundou a água, e o dossel de salgueiros acima se abriu para revelar um amanhecer pálido e dourado. Um vento suave respondeu, trazendo um coro de suspiros tão tênues que pareciam o vento passando pela relva.
Espíritos — dezenas de rostos pálidos — emergiram brevemente na margem, olhos brilhando em gratidão. Depois, como névoa sob o sol, desapareceram no ar. Mara permaneceu só, no silêncio do novo dia, o sol pintando suas costas com manchas de luz. O riacho murmurava uma alegria simples, e pela primeira vez seu canto soou como risos.
Ela pousou a mão sobre o peito, onde o velho pesar estava preso, e exalou um alívio tão profundo quanto o cascalho do leito do rio. Além do cume, o mundo despertava para uma promessa cumprida, e as crianças de Hotockingna finalmente podiam descansar.

Conclusão
Mara Blake deixou o riacho Ternbl com a câmera repleta de provas e o coração pesado, porém esperançoso. Levou a lata e sua mensagem de volta à cidade, onde organizaram uma pequena cerimônia à beira do riacho. Moradores — descendentes dos que tiveram de deixar Hotockingna — reuniram-se para revelar a fotografia e a oração na bétula.
Colocaram flores silvestres na margem e entoaram antigas bênçãos cherokee sob os salgueiros. O musgo pendia como cabelos prateados acima deles, balançando gentilmente, como se fossem aprovadores silenciosos. O próprio riacho cintilava com brilho renovado, uma fita de vidro fluindo pelo verde.
Quando Mara finalmente se afastou, o silêncio da mata a acompanhou como uma bênção. As histórias dos espíritos inquietos esmaeceram, dando lugar a sussurros de cura e respeito por aqueles cujos ossos jaziam sob a terra espessa da floresta.
Embora ela tivesse ido atrás de imagens de flores de lírios raros, aquilo que capturou foi algo muito mais profundo: o poder silencioso da memória, o peso de vozes perdidas e a promessa de que o perdão ecoa mais alto que a tristeza. Sob todo aquele musgo e pinho, a terra falara — e, enfim, fora ouvida.
Mara entendeu então que cada lugar carrega seu próprio pulso, nascido daqueles que o habitaram antes. Ao honrar suas histórias, ela ajudou a reescrever o final, permitindo que as crianças de Hotockingna descansassem no canto do riacho que tanto amavam.
Anos depois, visitantes do riacho Ternbl param sob os salgueiros, sentindo algo suave no ar crepuscular. E, ao deixarem oferendas — penas, flores silvestres — o fazem não por medo, mas em gratidão por um lugar que lhes ensinou a ouvir.