Felicidade

8 min

Maya pauses under a lamppost on a rainy Wellington evening, feeling a surge of unexpected hope.

Sobre a História: Felicidade é um Histórias de Ficção Realista de new-zealand ambientado no Histórias Contemporâneas. Este conto Histórias Descritivas explora temas de Histórias de Perda e é adequado para Histórias para Adultos. Oferece Histórias Inspiradoras perspectivas. Um breve momento de felicidade intensa de uma mulher na chuva de Wellington e sua jornada através de uma desilusão inesperada.

Introdução

Maya parou na orla de Wellington, onde as luzes da cidade se confundiam através da cortina de chuva, e por um único e leve instante sentiu-se completamente viva de um modo que não tinha nada a ver com o amanhã ou com o ontem. Tudo ao redor — o baixo zumbido dos carros deslizando pelas ruas de paralelepípedos, a névoa prateada que se agarrava aos postes de luz, os chamados distantes das gaivotas lutando contra o vento — se dissipava para revelar um ponto puro e desprotegido de brilho dentro do seu peito. O ar úmido cheirava a sal e terra fresca, e uma lágrima perdida misturou-se às gotas de chuva na sua bochecha, como se o próprio mundo chorasse numa celebração silenciosa. Ela ergueu o rosto e deixou que as gotas frias percorressem suas pálpebras cerradas, provando a descarga elétrica de algo quase perfeito.

Maya ajustou o cachecol no pescoço, sua lã macia contra a pele, e respirou fundo lentamente. Naquele instante, a cidade comum — seus prédios acinzentados, os antigos bondes, os guarda-chuvas espalhados — parecia transformada num lugar de possibilidades. Não havia dor no coração, nenhum puxão inquieto de arrependimento, apenas uma conexão pura com o presente, como se ela tivesse descoberto uma linguagem secreta no ritmo do trovão sobre sua cabeça e no distante sobe-e-desce das ondas. Ela permitiu-se sorrir, embora estivesse sozinha, e, ao atravessar a rua, o mundo pareceu prender a respiração em concordância.

Cada passo ressoava promessa: a promessa de que a vida poderia surpreendê-la a qualquer momento, oferecendo um presente inesperado de alegria. E tão rápido quanto surgira, esse presente escorregou pelos seus dedos quando ela alcançou o pequeno banco de madeira à beira do porto. A realidade voltou sutilmente — o único lampião piscou, depois estabilizou seu brilho; uma figura solitária envolta num impermeável apressou-se; o trovão se reduziu a murmúrios. No entanto, em suas veias permaneceu o eco daquela leveza súbita, uma lembrança que ela sabia perseguir mesmo depois que o momento dissolvesse.

Uma Faísca na Tempestade

O coração de Maya bateu acelerado ao se sentar no banco de madeira, gotas acumulando-se em sua gola e pingando nas tábuas abaixo. Ela fechou os olhos, desejando voltar àquele instante vívido de euforia, quando cada suspiro tinha gosto de possibilidade. O ritmo da chuva soava como aplausos, o mundo a encorajando a saborear o que havia descoberto naqueles segundos roubados. Ela enfiou a mão no bolso atrás do celular, mas a tela permaneceu escura — nenhuma mensagem, nenhuma ligação — como se a vida tivesse pausado, concedendo-lhe solidão em sua forma mais pura.

Banco de madeira à beira do rio Wellington na chuva à noite
O banco onde Maya primeiro experimentou o brilho inesperado da felicidade em meio a uma tempestade.

Ela lembrou-se da última vez em que sentira algo tão puramente alegre. Foi anos antes, entre as flores de jacarandá na casa de sua infância, e mesmo então aquele sentimento vinha tingido de recordações. Aqui, porém, na beira do Porto de Wellington, era algo totalmente novo, sem roteiro, sem anseio ou arrependimento. Ela quase podia vê-lo cintilando no canto do olho: uma forma luminosa de liberdade que a chamava, bastava ela se inclinar um pouco mais.

O som distante do sino de um bonde interrompeu sua contemplação, e ela se levantou, alisando a capa de chuva. A cidade parecia desperta ao seu redor, cada passo parte de uma sinfonia invisível que criava o pulso único de Wellington. Uma sequência de luzes delineava o caminho à beira-mar, e ela as seguiu com cuidado deliberado, decidida a agarrar o eco de seu coração em vez de deixá-lo esmaecer. Até o vento, que puxava seus cabelos, parecia menos invasivo naquele brilho frágil — mais como um companheiro do que como uma força a ser combatida.

Cada curva do caminho lembrava-lhe que a vida segue em frente queira você ou não. Mesmo assim, ela permaneceu parada por um momento extra, tentada a se inclinar no ar como se pudesse atrair de volta aquela euforia fugaz. Uma música distante vazava de uma janela aberta — uma balada lenta tingida de saudade — e ela sorriu ao perceber como tudo se alinhava: chuva, cidade, canção, esperança. Por um breve instante, ela pertenceu inteiramente ao agora.

Ecos de Esperança

Na manhã seguinte, o mundo estava calmo novamente. Sob um céu lavado pelo aguaceiro da noite anterior, as colinas de Wellington pareciam quase idílicas, com a luz do sol filtrando-se por entre nuvens dispersas. Maya caminhou pelo Charlotte Quarter com as mãos enfiadas nos bolsos, reproduzindo em sua mente o momento da noite anterior. O suave brilho das gotas de chuva sobre as vitrines lembrava-a de que a alegria pode chegar em dias aparentemente comuns.

Península de Wellington iluminada pelo sol, refletindo as nuvens na água calma
A alvorada no porto de Wellington, onde Maya segue os últimos ecos de sua alegria inesperada.

Percebeu-se cantarolando a melodia do violão do músico à beira do bonde, embora não tivesse certeza de onde a ouvira. Ela parou em um café sob uma marquise listrada, pediu um flat white e observou o vapor ondular para fora da xícara de porcelana. Soou quase ritualístico, como se ela precisasse coroar a manhã com um prazer simples para provar que sua alegria era verdadeira. No interior do café, a madeira polida e o murmúrio contido confortavam-na, e o sorriso do barista lembrava o brilho da noite anterior.

Com o café em mãos, Maya seguiu para cumprir uma série de tarefas, cada uma transformada pela euforia que ainda pulsava. Uma rápida visita à barraca de frutas tornou-se uma miniaventura enquanto ela escolhia pêssegos perfeitos, cujo perfume trazia uma nova onda de contentamento. Na biblioteca, passou os dedos pelos lombos de livros que não manuseava desde a infância, imaginando mundos inteiros à espera de serem redescobertos. Pela primeira vez, o peso da sua lista de afazeres soou como uma promessa, não como um fardo.

O celular vibrou na bolsa — e-mails, alertas de trânsito, um lembrete de reunião para mais tarde. Mas ela enfiou a mão e o ignorou, deixando que o silêncio do momento falasse mais alto. Quando passou novamente pelo porto, a água calma refletia o céu: fragmentos prateados e azuis. Cada ondulação lembrava-a de que a felicidade, como a água, pode mudar de forma mesmo quando parece imóvel. Fechou os olhos e deixou a brisa acariciar suas bochechas, o silêncio da cidade tornando-se uma canção de ninar para a esperança.

Sombras de Desilusão

À tarde, as cores ao seu redor pareciam um pouco desbotadas. As paredes do café pareciam mais pálidas, e os pêssegos da barraca menos vivos. Maya sentiu o peso das preocupações cotidianas retornando — ligações que ela havia adiado, a monotonia do trabalho esperando sua atenção, uma dor que achara ter arquivado para sempre. Quanto mais se apegava àquela lembrança de felicidade, mais inatingível ela parecia, como se fosse engolida pela própria cidade que a gerara.

Interior de galeria de arte com sombras refletidas em uma rua chuvosa
Maya confronta seu reflexo entre obras de arte que capturam luz e sombra em Wellington.

Ela entrou apressada em uma pequena galeria com fotografias de artistas locais. No interior, imagens de penhascos açoitados pelo vento e florestas tropicais envoltas em névoa cobriam as paredes. Admirava o modo como luz e sombra dançavam em cada quadro, mas seu próprio reflexo no vidro parecia vazio. Onde esperava encontrar um brilho, só viu uma silhueta desfocada, à procura de algo que já não podia apreender. Uma voz atrás dela murmurava sobre a inspiração do artista — como um momento de graça no meio do caos pode definir toda uma vida. Maya ouviu, mas as palavras soaram como ecos de uma promessa que já se apagara.

Quando voltou à rua, o céu tornara-se novamente de um cinza metálico. O vento assobiava nas esquinas, trazendo o longínquo estrondo do tráfego da tarde. Ela fechou o zíper do casaco, desejando poder avançar o dia até que a noite oferecesse outra chance de renovação. Mas, enquanto caminhava, sombras turvas se acumulavam ao longo do caminho, e a cidade zumbia em seu ritmo implacável, indiferente ao seu anseio. Cada sorriso forçado soava frágil, cada suspiro lembrava o abismo entre a memória e o presente.

No semáforo, ela observou uma família passar, o riso deles iluminando a tarde cinzenta. Invejou aquela união simples, o conforto constante da rotina compartilhada. Percebeu então que seu lampejo de felicidade fora tão frágil porque não tinha âncora — sem vínculo com ninguém ou nada além de sua própria abertura repentina. E embora aquela abertura tenha soado como vitória, ela também a deixara vulnerável quando o mundo retomou seu giro.

Conclusão

Maya entrou silenciosamente em seu apartamento ao cair da noite, a iluminação dos lampiões da cidade cintilando pela janela como estrelas distantes. Ela sentou-se na beira da cama, ponta dos dedos contornando uma fotografia que tirara na noite anterior: o brilho do lampião refletindo no pavimento molhado. Analisou a imagem e se permitiu lembrar como era sentir-se leve, nem que fosse por um segundo. No silêncio fresco do quarto, compreendeu que a alegria nem sempre chega ancorada em expectativas; às vezes, ela irrompe, bela e efêmera, e depois se apaga para que você aprenda a levar sua lembrança adiante.

Fechando os olhos, ela inspirou mais uma vez o eco daquele instante, agora mais suave, mas não menos real. Amanhã, ela enfrentaria sua rotina — e-mails, compromissos, tarefas — como sempre fizera. Mas algo nela havia mudado. Ela sentira o brilho do comum. E mesmo que a sombra da desilusão pairasse, não poderia apagar a faísca que encontrara. Com um suave suspiro, Maya estendeu a mão até o caderno para recomeçar, pronta para desenhar o contorno da esperança entre as linhas de sua vida cotidiana.

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