A Máscara da Morte Vermelha

18 min

Prince Alcine surveys the blood-red mist encroaching on his secluded abbey grounds, signaling the onset of the Red Death plague.

Sobre a História: A Máscara da Morte Vermelha é um Histórias de Ficção Realista de united-states ambientado no Histórias do Século XIX. Este conto Histórias Descritivas explora temas de Histórias de Bem vs. Mal e é adequado para Histórias para Adultos. Oferece Histórias Morais perspectivas. Uma Noite Gótica: A Fuga de um Príncipe de uma Peste Implacável e Sangrenta.

Introdução

Príncipe Alcine empoleirou-se na mais alta ameia de pedra de sua abadia isolada, contemplando uma terra devastada por uma praga implacável que ganhou o nome ominoso de Morte Rubra. Neblinas carmesim rastejavam de vilarejos arruinados e florestas úmidas, tingindo campos antes férteis e lançando um brilho sobrenatural sobre estradas desertas. O ar outonal, vívido e frio, trazia o gemido baixo da dor, enquanto sinos distantes dobravam pelos espíritos perdidos que sucumbiam à febre aninhada em cada lareira. Dentro de antigos muros pintados de um tom carmim profundo, o príncipe havia selado portões de ébano e trancado cada arco com fechaduras de ferro, determinado a manter qualquer sombra da doença fora de seu limiar. Lanternas tremeluziam pelos corredores ecoantes, sua luz dourada dançando sobre tapeçarias ansiosas para suavizar o silêncio opressor.

Os cortesãos, usando máscaras luxuosas, cochichavam sobre bailes suntuosos e músicas embriagadoras capazes de acalmar corações aflitos, mas, atrás de cada porta ornamentada, pairava a promessa do terror. Naquela noite, sete câmaras interligadas, cada uma decorada em um único tom assombroso, ganhariam vida em desafio à própria morte. Drapeados de seda, veludos e mármores polidos preparavam o palco para um baile de máscaras que zombaria da praga em sua retirada, ou assim o príncipe acreditava. À medida que tochas se acendiam no crepúsculo, nichos exalavam sombras longas o bastante para engolir conspirações inteiras de medo, e Príncipe Alcine sentia o formigar da excitação e do pressentimento enquanto aguardava para receber aqueles que dançariam contra a noite iminente.

Por frestas estreitas de aberturas de flecha, o entardecer carmesim vazava para as câmaras arqueadas, dando vida inquietante às alegorias pintadas de triunfo e perdição nas paredes. Servos em trajes sable carregavam licoreiras de cristal com vinho roxo como pele machucada, enquanto nobres mascarados praticavam danças silenciosas à luz de velas, sua risada uma barreira frágil contra o temor incessante. No entanto, atrás de cada máscara dourada, batia uma prece muda, semelhante a um tambor de desafio. Rumores sussurravam que nem mesmo a mais poderosa fortaleza poderia conter a maré de dor e desespero anunciada pela Morte Rubra em cada tosse oca e em cada súplica por clemência selada.

Então Príncipe Alcine, trajado de sable com guarnições em granada, percorria seu santuário com passos medidos, condizentes com um soberano que acreditava que riqueza e vontade poderiam repelir a foice da mortalidade. No coração da abadia, onde a câmara final reluzia num tom tão profundo quanto sangue seco, ele se preparava para substituir o medo pela festa, certo de que o baile daquela noite marcaria a retirada da praga e selaria seu triunfo sobre o flagelo.

O Santuário Carmesim

Nos dias que se seguiram ao surgimento da Morte Rubra, vilarejos jaziam abandonados e estradas cintilavam com orvalho carmesim. Velas de cera queimavam baixo em cada lugarejo enquanto os moribundos caíam sobre tapetes soltos e pisos de pedra, entregando a respiração laboriosa a uma praga sem misericórdia. A notícia sobre a abadia em tom carmim do príncipe chegou a ouvidos temerosos, e aqueles com moeda ou astúcia suficiente que ousavam buscar refúgio chegaram ao seu portão de ferro, cada alma cega pela desespero e pela ilusão de segurança.

Guardas em armaduras sable, visores abaixados, examinavam a multidão de suplicantes esfarrapados em busca de sinais de contágio, enquanto servos de calças carmesim guiavam os escolhidos por pátios segmentados até um mundo isolado do frio toque da morte. O lume vacilante das tochas dançava sobre os pisos de granito polido, projetando silhuetas grotescas contra tapeçarias bordadas com cenas de conquista e salvação. Cada superfície reluzia em zelo minucioso; nenhuma pedra ficava sem polimento, nenhuma tapeçaria sem endireitar, como se tal perfeição pudesse afastar o espectro que fervilhava logo além dos portões.

O ar estava impregnado de frio cortante e óleos perfumados, uma justaposição que inquietava até o veterano mais endurecido pela guerra. Dentro dessas muralhas de tom sanguíneo, Príncipe Alcine acreditava ter erguido mais que uma fortaleza—um templo em que alegria e poder se uniriam para zombar de uma praga que não ousaria cruzar pisos tão imaculados, corredores tão precisamente ordenados. Ao redor, cortesãos fofocavam em tons baixos, suas máscaras ornamentadas ocultando rostos desbotados pela cor e pela esperança, cada um segurando o convite prateado para o grande baile, convencidos de que aquela única noite de festa mudaria o curso de uma doença que não poderiam outrora superar.

Sob seus pés, o piso de mosaico brilhava com tal intensidade que os convidados podiam vislumbrar rostos torturados de imperadores caídos entre os padrões; mesmo esses sentinelas silenciosos pareciam encolher-se diante da mera lembrança da praga. Em portas pesadas de carvalho, gotejavam filetes de sangue envernizado como aviso, e em cantos sombreados devotos murmuravam orações diante de capelas dispersas. Ninguém falava de misericórdia, pois ela pertencia aos vivos; ali, o príncipe garantira que o isolamento substituísse qualquer intervenção divina.

Grande salão com paredes de cor carmesim, iluminado por candelabros, onde convidados elegantes com máscaras dançam.
Nobres mascarados giram sob a luz de velas dentro do salão de paredes vermelhas, alheios ao avanço da Morte Rubra.

Quando o grande relógio da torre mais antiga marcou a primeira hora da noite, um silêncio tomou conta dos convidados reunidos. Um único menestrel, posicionado na extremidade do salão, extraía uma melodia de uma harpa com fios de prata, suas notas flutuando como lamentação fantasmagórica pela penumbra suntuosa. Nichos com colunas revelavam mesas escondidas repletas de cálices com vinho tão vermelho quanto a promessa da praga e frutas envernizadas em coberturas adocicadas. Cortesãos em brocado e rendas movimentavam-se em valsa austera, suas máscaras cintilando sob estilhaços de lamparina suave.

Ainda assim, sob o baile ornamentado, palavras silenciosas passavam por leques cravejados: rumores de lírios murchando no pátio, de caixões secretos erguidos às pressas em aposentos cortinados, de servos caídos sob os arcos. O príncipe observava de um estrado esculpido em mármore negro, seu manto arrastando-se como mancha de tinta no piso polido. Ergueu um cálice de cristal num brinde, voz firme e inabalável, proclamando o baile como testemunho da vontade humana e da recusa em aceitar a morte. Palmas ecoaram, e o vinho reluziu nos cálices, mas no coração de Alcine uma semente de dúvida floresceu, crescendo a cada suspiro medido e a cada tosse abafada que surgia na multidão como lâmina oculta.

Entre colunas, ele vislumbrou conjecturas de sombra e rumor: uma nobre em convulsão silenciosa, um convidado desaparecido sem deixar vestígios na galeria, passos ecoantes pertencentes a músico algum. E ainda a neblina vermelha pressionava as altas janelas, rastejando pelos vitrais com curiosidade inflexível.

À medida que a meia-noite se aproximava, as próprias velas pareciam definhar, suas chamas arqueando e tremulando como almas aprisionadas. Um estranho silêncio envolveu a multidão, como se as próprias paredes prendessem a respiração. Os músicos vacilaram, notas pairando no ar como memórias indesejadas. Foi então que um vento gelado irrompeu por uma porta escancarada por mãos invisíveis, apagando tochas em seu rastro e arrepiando cada convidado. Uma prece sussurrada ergueu-se dos mantos e golas, vozes tênues como cinzas ao vento. No profundo dos recessos, uma figura alta emergiu, envolta inteiramente em tecido rubro que absorvia cada feixe de tocha em um carmesim opressivo.

Nenhuma máscara ocultava seu rosto; em vez disso, as dobras ondulantes do manto enquadravam uma mão esquelética, envolta em trapos manchados, chamando sem pressa com arrogância contida. Os convidados congelaram em meio aos gestos, suas máscaras exibindo sorrisos inúteis. A orquestra emudecera, as cordas ainda vibrando com ressonância assombrada. O coração de Príncipe Alcine retumbava enquanto a figura avançava até o estrado, traçando caminho deliberado entre corpos que se separavam como mares escarlates. A coroa em sua cabeça parecia pesar uma eternidade, e o punho cravejado de sua adaga cintilava em desespero impotente. Mas a aproximação era inevitável—um veredicto implícito proferido na linguagem do medo.

Quando a misteriosa presença parou diante de Alcine, a máscara do príncipe escapou de seus dedos trêmulos, caindo num conjunto de ecos metálicos que proclamavam: a Morte Rubra havia chegado ao seu lar.

Sombras por Trás das Máscaras

À medida que a última lembrança do amanhecer desaparecia dos vitrais tingidos, corredores imersos em penumbra acobreada conduziam os convidados a câmaras secretas e galerias íntimas, projetadas para confidências sussurradas e alianças clandestinas. Nas sinuosas passagens, as paredes cobertas de tapeçaria absorviam passos abafados como sombras famintas, e por trás de cada porta entalhada, o peso de horrores invisíveis pressionava com força inexorável.

Num nicho, dois atendentes mascarados descobriram o retrato de uma nobre manchado por marcas variegadas, como se dedos de carmesim lento tivessem atravessado a madeira para reclamar sua imagem. Noutra ala, um soluço abafado escapou por trás de um painel de cedro, seguido pelo rápido arrastar de sandálias de couro. Servos, com os rostos ocultos em tecido ébano, trocavam olhares assombrados ao serem convocados para arrombar portas trancadas, apenas para revelar galerias alinhadas de cadeiras vazias e mesas cobertas por carnes intocadas—festins latentes abandonados em pânico.

Todo sussurro de rumor se fundia num coro de inquietação, cada boato curvando a espinha da esperança até que ela se partisse sob o peso do medo. E, por todo lado, a Morte Rubra pairava como um fantasma com propósito, vislumbrada no perímetro da visão: uma mão pressionada contra vitral manchado, uma silhueta involta em escarlate em torno de colunas sombreadas, um sussurro baixo que persistia onde não se via boca. Cortesãos, embriagados de vinho sob máscaras pintadas elaboradamente, trocavam olhares inseguros, incertos se deviam fugir ou dançar, como se o movimento em si pudesse retardar o fato inexorável de que o flagelo escarlate havia traçado seu caminho até o coração daquele santuário.

Um murmúrio de sacramentos outrora celebrados em capelas em ruínas flutuava pelos tetos abobadados, como se fantasmas de então penitentes buscassem a misericórdia que uma vez negaram. Entre as vozes investigativas, um duque urbano relatou pegadas em pó dourado que se transformavam em líquido escarlate quase na soleira, uma reversão grotesca das folhas que caiam no outono. Em enfermarias sussurrantes, curandeiros convocados pelo édito do príncipe conferiam com dedos trêmulos antes de selar portas novamente, suas mãos manchadas de pomada testemunhas de uma batalha que ainda não podiam proclamar vitória.

Enquanto isso, gárgulas pintadas, empoleiradas no alto, franziram a testa de pedra, como que repreendendo aqueles que ousavam desafiar a mortalidade com seda e aço. A cada arco que contornavam, afrescos de triunfos heroicos contra males menores soavam agora como previsões cruéis, zombando da vaidade mortal com cada resquício de sangue seco em suas molduras douradas. Até o grande órgão na nave central, silenciado desde a missa, parecia pronto para retomar sua lamentação, suas teclas cobertas por partículas de poeira que dançavam como confissões no silêncio que estremecia os pilares.

Uma figura encapuzada vislumbrou através de uma porta entreaberta, enquanto uma névoa avermelhada e ameaçadora se infiltrava.
Um vislumbre passageiro da figura da Morte Vermelha aparece enquadrado em um arco, com seus olhos vazios refletindo o terror.

Em sua câmara privada, no alto acima da multidão, Príncipe Alcine se postava diante de um espelho ornamentado de bronze polido. O reflexo que encontrou mostrava-lhe a resolução nobre gravada na pele pálida, cabelos presos com rubis que cintilavam como brasas em sua testa. No entanto, por trás da máscara de ferro entalhada que escolhera para solidarizar-se com os convidados, seus olhos traíam cansaço e descrença.

Recordou o dia em que o primeiro mensageiro trouxe notícias de uma doença uivante espalhando-se pelos confins, praga cujo nome nascera da violenta marca que deixava nas veias das vítimas. Antes, acreditara que riqueza e poder poderiam subjugar qualquer ameaça, e que os muros de sua fortaleza serviriam de baluarte intransponível. Agora, enquanto ajustava o pesado manto sobre os ombros, sentia o peso da mortalidade pressionando-lhe o peito como um punho acusador.

Memórias de risadas e perseguições na corte—vestidos rodopiando em festivais de verão e o toque suave de uma mão amada—cutucavam as bordas de sua mente, atormentadas pelo rugido do veredicto mortal. O espelho parecia distorcer seu semblante, alongando-lhe o maxilar e escondercando-lhe as bochechas até que mais se assemelhasse a um revenant. Entendeu, com clareza terrível, que os rastros da vaidade humana terminavam em poeira e que a marcha da morte era indiferente a títulos ou convites.

Recordou o doce eco dos sinos da igreja em tempos mais calmos, seu badalar uma canção de ninar para os fiéis. Agora, dobravam pelos mortos, cada toque ressoando por ruas vazias, desprovidas de esperança. De sua escrivaninha, ainda abarrotada de pergaminhos com ordens de tropa e registros de impostos, ele rasgou um volume contendo notícias de duzentos vilarejos abandonados. As margens estavam salpicadas de anéis de tinta inchados pela negligência, um testemunho silente de um reino se desfazendo mesmo enquanto ele buscava refúgio em seu maior salão.

Uma vela solitária vacilava num suporte prateado, seu pavio fumegando em protesto, e ao observar a cinza deslizar em direção às suas botas, sentiu algo estremecer em seu peito, um tremor de desespero desmascarado pela coroa que sustentava. Levantou-se em toda a sua estatura, decidido a retomar o controle do que restava de sua existência, embora soubesse que cada passo em direção ao desafio o aproximava do destino que tentava negar.

A Revelação Final

Abaixo, no vestíbulo que conectava as sete câmaras, um silêncio quase reverente substituía o murmúrio anterior de frivolidades. A última porta—encerada de negro e selada com lacres escarlates ostentando o brasão do príncipe—erguia-se ao fim do corredor. Sussurrava-se que naquele aposento repousavam relíquias de triunfos passados, e que somente o príncipe poderia adentrar seu recinto para reivindicar a joia da coroa do baile: um espelho dito capaz de refletir não o exterior, mas a verdade da própria alma.

Naquela noite, as cortinas douradas se abriram enquanto homens de armas em tabardos manchados de sangue afastavam os pesados drapeados. Uma corrente de ar que cintilava em frio indescritível desenrolou-se como estandarte, apagando meia dúzia de lanternas antes que uma quietude absoluta se estabelecesse, de modo que cada suspiro parecia intrusão. Do interior da câmara, um ranger lento e deliberado soou como se uma grande porta despertasse de séculos de sono. Então, como invocada por um rito profano, a porta se escancarou, revelando uma figura esculpida no pesadelo: envolta em veludo do tom de rubis derramados, com olhos ocos que brilhavam de calma predatória.

Aqueles que a vislumbraram relataram depois um silêncio tão completo que engolia batidas de coração inteiras. A Morte Rubra deu seu passo sobre o limiar, seus pés deixando pegadas de sangue que pulsavam com orgulho sombrio. Sussurros fugiram, e corações retumbaram enquanto os convidados fugiam como veados assustados, porém o príncipe permaneceu imóvel, adaga em punho, compreendendo vagamente que alguns horrores não podiam ser desconvocados. Naquele instante, os salões pareceram contrair-se, como se as próprias paredes se encolhessem diante da visão, e cada afresco pintado chorava gotas de cera sobre os pisos de mármore.

Conclusão

Quando o grande relógio marcou a hora do pavor, seus ponteiros maciços alinhados a uma lua cor de sangue pintada no teto de vitral, um estremecimento percorreu o grande salão e seus ornamentos dourados. A música morreu no ar, a harpa de prata do menestrel silenciou, e olhos se arregalaram sob máscaras filigranadas. Colunas de mármore que antes sustentavam arcos triunfantes agora pareciam sarcófagos, prometendo sepultamento em vez de celebração. Convidados congelaram em seus últimos passos de dança, saias esvoaçando como pétalas caídas, enquanto uma nova presença enchia o recinto com um frio intolerável.

A Morte Rubra, vestida como se tecida das próprias névoas que tingiam a terra, pairava na beira do mosaico. Seu manto se espalhava como vinho derramado, e a barra trazia as impressões de incontáveis pegadas em brasas de dor. Um silêncio tão pesado quanto a tampa de um túmulo pressionava tudo, abafando os suspiros de espanto que surgiam da multidão. As tochas vacilaram ao longo das paredes, suas chamas curvando-se em reverência a uma entidade mais antiga que o próprio sofrimento. Em seu olhar, estava a plenitude da angústia histórica, pois ela reivindicara reinos e santuários, indiferente às obras da vontade humana.

No meio dos estalos de exclamações, o ar tremeu com rajadas invisíveis, rodopiando partículas de poeira em halos fantasmagóricos que tremulavam como cortesãos outrora gloriosos. O teto abobadado acima arqueava sob um afresco de triunfo celestial, mas agora parecia ceder, pesado com o peso de despedidas não ditas.

A figura da Morte Vermelha enfrentando o príncipe Alcine na grande escadaria, sob a luz vacilante das tochas.
Nos degraus de pedra de uma grandiosa escadaria, a Morte Vermelha confronta o príncipe, cujo máscara cai à luz trêmula das tochas.

Apertado ao punho de sua adaga cravejada de jade, o príncipe abandonou a segurança do silêncio e avançou pelo campo de mármore incrustado. Cada passo soava como badalada de desafio, e ainda assim seu coração titubeava, animado por um medo cru como ventos de inverno. Falou ao vazio, voz firme, porém trêmula:

‘Ordeno que te retires de minha casa e não atendas a outro clamor que não o meu.’

A Morte Rubra respondeu com um lento deslocar-se, seu rosto esquelético oculto sob um capuz cor de ferro corroído. Onde seus olhos deviam arder, apenas o vórtice de uma escuridão sugava a luz para dentro, como se devorasse a alma de cada vela na sala. Alcine ergueu a lâmina, o aço entoando uma prece desesperada enquanto investia, mirando o coração do espectro. Mas a lâmina cortou apenas o vazio e um sussurro de lembranças semiadormecidas. Por um instante vacilou, e então a Morte Rubra estendeu mão esquelética, ossos estalando num suspiro ancestral. De seus dedos brotou uma fita de névoa escarlate que envolveu o príncipe, gelada como o sopro de um mausoléu.

Enquanto a névoa se aninhava em seu peito, memórias inundaram sua mente: risos de um companheiro perdido, a maciez de vestidos de veludo sob o brilho das velas, o calor de uma lareira extinta na memória viva. A lâmina, outrora arauto de autoridade, era inútil ante o silêncio da morte sem fronteiras. Um sino distante dobrou uma vez, depois outra, como se marcasse as horas do último suspiro de um império, cada badalada ressoando pelos corredores de mármore costelado.

A última nota de vida escapou dos pulmões do príncipe quando a Morte Rubra o envolveu em braços de quietude perfeita. Ao redor, tochas flamejaram e se apagaram em agonia sincronizada, deixando o salão imerso no cheiro de cera queimada e silêncio desesperado. Petálulas de confete caíram sobre o mosaico, pousando sobre vinho derramado e retalhos de opulência tardia—vestígios fugazes de riso agora manchados pela dor. Pelas tábuas rachadas, a Morte Rubra ergueu o manto, revelando pegadas eternizadas por cada alma reunida em seu rastro.

Então, sem sombra ou sensação, voltou-se e avançou pelo arco aberto que levava além dos muros da abadia aos campos de luto do reino. Atrás dela, as portas seladas do grande santuário permaneciam como monumentos vazios, seus selos quebrados pela mão inexorável do destino. Nenhum sobrevivente restou para contar o ocorrido—apenas o eco silencioso de um baile grandioso engolido por uma praga que se coroou monarca da mortalidade. Em corredores cobertos e torres caladas, apenas as gotejadas de orvalho cor de sangue lembrariam a qualquer viajante da noite em que Príncipe Alcine ousou desmascarar a Morte, apenas para descobrir-se o último convidado abraçado pelo rubro derradeiro. No final, só o silêncio reclamou os salões—silêncio e máscaras estilhaçadas, sua arquitetura decorada reduzida a relíquias fragmentadas sob o olhar indiferente da praga e do tempo.

No frio silêncio que se seguiu, a abadia permaneceu deserta, suas paredes carmesim testemunhando a noite em que o orgulho mortal enfrentou um flagelo inexorável. Nenhuma tocha ardia nos corredores, e os salões outrora cintilantes jaziam tão silenciosos quanto um túmulo. Retratos de antepassados espreitavam de molduras rachadas, seus olhares pintados fixos em julgamento.

Lá fora, o mundo além dos portões selados continuava envolto na mesma névoa carmesim que anunciara a chegada da praga, uma mancha na terra e no céu. Rumores percorreram vilarejos estremecidos sobre um buscador de fortuna que outrora enganara a morte, apenas para tornar-se sua última refeição. Em sussurros, bardos recontaram a história inúmeras vezes: o príncipe que reservou sua fortaleza como reduto eterno, o baile suntuoso que ousou zombar da Ceifadora e a única dança que terminou na imobilidade.

Uns acreditavam que a abadia transformara-se em mausoléu de segredos melhor enterrados, enquanto outros falavam de ecos de meia-noite levados pelos ventos de outono, como se a própria Morte Rubra ainda rondasse as câmaras vazias. Ao fim, a narrativa servia de lembrete severo de que nenhuma máscara dourada, nenhum forte de pedra, nenhuma quantidade de ouro ou astúcia poderia impedir a marcha inexorável. O veredicto final não pertencia a reis ou cortesãos, mas à mão silenciosa da morte, que toca cada vida com medida igual e não deixa nenhum incólume.

Que esta história perdure como um aviso tecido em cada banquete, sussurrado ao lado de cada lareira, de que até os projetos mais grandiosos se mostram frágeis diante da marcha constante da mortalidade. A história recorda Príncipe Alcine não como monarca invencível, mas como um homem que ousou desmascarar a Morte e descobriu que o maior baile de máscaras é a própria vida—frágil, efêmera e tão vermelha quanto o sangue que deixa para trás.

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