O Fazedor de Chuva de Benguela

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O Fazedor de Chuva de Benguela
The rainmaker stands on parched earth, raising his arms as storm clouds gather overhead.

Sobre a História: O Fazedor de Chuva de Benguela é um Histórias de contos populares de angola ambientado no Histórias Antigas. Este conto Histórias Descritivas explora temas de Histórias da Natureza e é adequado para Histórias para Todas as Idades. Oferece Histórias Culturais perspectivas. Um folclore angolano sobre um venerado fazê-rainhas, que convoca tempestades com canto e dança para proteger a terra da seca.

Introdução

Sob um céu tão límpido que parecia invisível, a poeira avermelhada de Benguela grudava em cada folha e grão de terra. Por meses o sol havia reinado sem piedade, drenando a vida do solo até que os rios se tornaram meras fitas de argila rachada e os poços ecoavam oco sob a terra. Nesse silêncio entre o céu e a terra vivia o povo de uma pequena aldeia, com corações tão ressecados quanto os campos que cultivavam. Sussurravam lendas sobre um homem chamado Kalova, um fazedor de chuva cuja linhagem remontava aos ancestrais que outrora atraíam nuvens de monção pelos altos planaltos. Ninguém além do contorno tênue das colinas o havia visto dançar, mas cada prece murmurada e cada chocalho sacudido clamavam por seu retorno.

Os anciãos falavam de Kalova com reverência: seus pés marcavam ritmos mais antigos que a língua, sua voz elevava-se em acordes que faziam estremecer os céus, e seus braços traçavam sinais no ar como se tecessem uma rede para capturar as nuvens. Diziam que ele vestia um manto de capim trançado e contas, cada conta uma gota de esperança, cada fio uma promessa de que a água retornaria. Quando os tambores soavam, o próprio chão vibrava, e o vento respondia com gemidos baixos como se despertasse de um sonho. As crianças abraçavam suas mães, olhos arregalados de espanto, enquanto o gado o seguia em transe, sabendo em seu íntimo que a dança era o único caminho para a sobrevivência.

Entretanto, a certeza deu lugar à dúvida quando a seca se prolongou. Alguns argumentavam que as práticas antigas tinham perdido seu poder, que o mundo mudara além do alcance dos cânticos. Outros mantinham a fé, acendendo incensos ao amanhecer e ao anoitecer, deixando oferendas de milho e mel nas margens dos riachos que já não corriam. Numa dessas noites, sob o veludo silencioso das estrelas, aquelas vozes esperançosas se ergueram em um grande lamento, um único apelo às forças ocultas que regem a chuva. No silêncio que se seguiu, um som distante atiçou seus ouvidos — o pulso suave de um tambor, chamando-os para a noite. Foi o chamado de Kalova. E, quando o medo e a esperança se chocaram em seus peitos, eles avançaram na escuridão, prontos para seguir o Fazedor de Chuva mais uma vez.

A Terra Ressequida: Um Apelo aos Céus

Quando o alvorecer rasgou as planícies onduladas de Benguela, não trouxe consolo — apenas uma luz dura que incidia sobre a terra rachada e a vegetação murcha. Os aldeões se reuniam na beira do leito seco do rio, seus pés levantando poeira que dançava no ar como fantasmas de água. As mães seguravam bebês enrolados em panos, olhos fixos no horizonte onde não se formava uma única nuvem de chuva. Agricultores ajoelhavam-se com as mãos apoiadas no solo, sentindo seu calor e sua fome. Cantavam um lamento aos ancestrais, vozes trêmulas no ar estático: “Avós e pais, escutem nosso clamor, enviem a chuva, enviem a chuva.” Mas o céu se manteve vazio.

Os aldeões se reuniram sobre a terra rachada, olhando para as nuvens negras.
Os aldeões permanecem sobre uma terra rachada, com esperança nos olhos, enquanto nuvens sombrias se aproximam.

Nesse silêncio, surgiu um único toque de tambor, quieto ao começo, mas aumentando a cada batida. Corações dispararam entre a esperança e o receio. Os anciãos trocaram olhares que refletiam o desejo da multidão. Seria possível? Kalova teria ouvido o clamor? Eles observaram enquanto uma figura surgia de um arvoredo distante de mopanes — um homem alto envolto em capins e conchas, o peito nu pintado com listras de ocre e branco. Carregava um pequeno tambor sob um braço e um cajado de madeira entalhada, enfeitado com penas. A cada passo, a poeira se fixava atrás dele como uma memória desvanecida.

Kalova parou no centro da reunião. Encostou o tambor em uma cabaça virada e golpeou-o com as palmas macias. O som se espalhou pela multidão, e até os pássaros nas acácias próximas prendeu a respiração. Em voz profunda e límpida, ele entoou palavras que só os mais velhos conheciam, invocando forças invisíveis. “Abram-se, portões do céu,” ele bradou. “Derramai vossas águas sobre a terra estéril de Benguela.” Enquanto entoava, seus pés começaram a desenhar padrões que lembravam o fluxo de um rio: pisadas, deslizes, elevações — cada movimento evocando o murmúrio da água sobre a pedra.

Entre o primeiro e o segundo verso de seu cântico, o céu respondeu. Uma ribombar suave percorreu as colinas distantes. Os aldeões apertaram o círculo, observando o céu escurecer em fendas. Quando Kalova chegou ao segundo estrofe, golpeou o tambor com mais força e rapidez, enviando vibrações pela terra. A poeira ergueu-se em espirais, atraída por uma mão invisível. O compasso do tambor transformou-se num batimento cardíaco, e o batimento em trovão. Um único relâmpago riscou o horizonte, ramificando-se como uma árvore prateada. O medo se misturou à esperança quando a chuva começou — primeiro em gotas hesitantes, depois num dilúvio estrondoso que os derrubou de joelhos, rostos voltados para o céu. Cada gota era uma bênção, cada trovão uma promessa cumprida.

Os Cânticos Sagrados e as Danças do Fazedor de Chuva

Com o céu aberto sobre Benguela, Kalova circulava entre seu povo, oferecendo palavras de orientação e conforto. Sua dança havia quebrado a seca, mas o trabalho ainda não estava concluído. Ele os convocou ao antigo bosque de baobás ao crepúsculo, onde as raízes das árvores milenares se embebiam do néctar da noite. Sob a luz bruxuleante das tochas, ensinou-lhes os ritmos que unem a chuva à terra. “Cada gota que recebes,” dizia ele, “carrega a memória de nossos ancestrais. Honrai-a com vossos passos.”

Criador de chuvas dançando em um círculo de tambores e fogo
Kalova conduz os moradores numa dança em espiral ao redor do fogo sagrado.

Naquela noite, os aldeões formaram um círculo ao redor de uma fogueira central. Homens batiam tambores esculpidos em toras ocas, mulheres sacudiam chocalhos recheados de sementes e conchas. As crianças batiam palmas, suas risadas se misturando ao crepitar das chamas. No centro do círculo, Kalova caminhava com solenidade. Seu manto sussurrava como capins despertos enquanto traçava símbolos sagrados à luz do fogo: arcos para rios, espirais para o vento, ziguezagues para o relâmpago. Ele elevou a voz num hino que subia e descia como algo vivo, clamando pela união do céu e da terra. “Que a água renove a face de Benguela,” cantava. “Que a terra beba profundamente, que a vida desperte em cada sulco.”

A cada refrão, o bosque sob os baobás se envolvia em névoa. O ar esfriava, trazendo o aroma fresco da chuva vinda dos ventos distantes. Os olhos de Kalova brilhavam com intensidade serena enquanto seus movimentos se aceleravam até parecerem flutuar acima do solo. Suor e chuva se misturavam em sua testa, a respiração firme no ritmo da melodia. Então, ao saltar em direção ao céu, os céus responderam: um trovão pulsante, um aguaceiro que os molhou até os ossos. Torrentes desceram pelas raízes dos baobás, esculpindo novos córregos que nutriam os leitos parados.

O Abraço da Tempestade e o Presente da Água

Semanas se transformaram em meses, e as chuvas estabeleceram um ritmo próprio. As manhãs saudavam o povo de Benguela com névoas suaves que se dissipavam, revelando campos verdes e carregados de promessas. O rio corria límpido, refletindo o céu como um espelho polido. Sob essa prosperidade renovada, Kalova retirou-se para sua cabana na beira da floresta, satisfeito por ver como sua magia e a devoção dos aldeões restituíram a harmonia da terra.

Primeiras gotas de chuva caindo sobre a terra sedenta enquanto os moradores celebram
Gotículas delicadas de chuva começam a cair sobre o solo seco, recebidas pelos rostos sorridentes das crianças.

Mas a tranquilidade trouxe seu próprio desafio. Alguns sussurravam que o poder de Kalova era excessivo, que somente ele tinha o direito de tocar o céu. Dúvidas e invejas cintilavam como brasas nos recantos das conversas. Um jovem pastor chamado Tando questionou os rituais: “Por que devemos seguir as canções de um só homem?” perguntou ele. “A chuva não é um presente de todos?” Suas palavras percorreram a aldeia como fios de discórdia. Os anciãos, cautelosos e sábios, lembraram ao povo que a gratidão nunca deve se transformar em presunção. “Respeitem o equilíbrio,” advertiram. “Honrem tanto o doador quanto o dom.”

Numa noite em que uma tempestade avançou com ferocidade incomum, um raio atingiu o bosque de baobás, partindo um tronco em dois. Gritos de pânico ecoaram pela aldeia enquanto o vento arrancava pequenas árvores e a chuva açoitava os telhados de palha. Kalova surgiu de sua cabana, entoando cânticos urgentes. Com os braços erguidos, enfrentou a tempestade, manejando seu cajado no ar para conter a fúria dos relâmpagos. Atrás dele, os aldeões uniram-se num zumbido grave, somando sua vontade à dele. Centímetro a centímetro, o vento amainou, o trovão suavizou-se em um rumor distante, e a chuva cedeu a um sereno garoa que nutria sem causar danos.

Ao amanhecer, a aldeia despertou para uma cena de assombro silencioso. O baobá partido jazia no chão do bosque como um gigante tombado, mas nenhum ser vivo havia sido ferido. Tando, humilhado pela intensidade da tempestade, aproximou-se de Kalova sob a névoa. “Duvidava do seu dom,” disse ele, a voz trêmula. “Esqueci que poder exige responsabilidade e união.” Kalova pousou a mão no ombro do jovem e sorriu, a promessa de chuva suave brilhando em seus olhos. “O equilíbrio requer confiança,” respondeu. “Use a água com sabedoria e o céu atenderá seu clamor.” Juntos, trabalharam para limpar o bosque, cientes de que as tempestades, como as bênçãos, são mais valorizadas quando recebidas com reverência.

Conclusão

Nos anos que se seguiram, a história de Kalova, o Fazedor de Chuva de Benguela, tornou-se mais que uma lenda — virou tradição viva, transmitida de pais para filhos, entrelaçada em cada celebração. Cada estação de plantio começava com uma dança para as nuvens, e cada colheita se encerrava com um hino de gratidão. O povo aprendeu que a água é mais que um recurso: é um laço entre a terra, o céu e aqueles que vivem entre eles. Através dos tempos, lembraram-se de Kalova não apenas como o homem que fazia os tambores vibrar e falava às tempestades, mas como guardião do equilíbrio, cujo legado perdura em cada gota que cai. E assim, sempre que nuvens escuras surgem no horizonte, os tambores voltam a soar em Benguela, chamando a chuva e lembrando a todos que a reverência e a união podem transformar até as tempestades mais bravas em bênçãos de vida e renovação. Este é o presente do Fazedor de Chuva — um lembrete de que a harmonia com a natureza começa quando abrimos nossos corações ao ritmo da terra e aos sussurros do céu.

_Que este conto de Benguela o inspire a encontrar seu próprio ritmo com o mundo ao seu redor, a honrar os presentes que nos sustentam e a lembrar que toda tempestade carrega água — e cada coração transporta esperança._

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