O Homem que Queria Ser Rei

17 min

Two British explorers gaze over the vast Afghan mountains at dawn

Sobre a História: O Homem que Queria Ser Rei é um Histórias de Ficção Histórica de united-kingdom ambientado no Histórias do Século XIX. Este conto Histórias Dramáticas explora temas de Histórias de coragem e é adequado para Histórias para Adultos. Oferece Histórias Divertidas perspectivas. Um emocionante relato de dois aventureiros britânicos que criam um reino nas selvagens regiões remotas do Afeganistão.

Introdução

Na primavera de 1882, o capitão James Onslow e seu companheiro Daniel Preston escaparam dos salões dourados de Bombaim para um mundo que desafiava a bússola e confundia a arte do cartógrafo. Carregavam passaportes carimbados pelo governo de Sua Majestade, cartas de apresentação de casas mercantis e um impulso irreprimível de testar sua coragem nas lendárias montanhas do Hindu Kush. Rumores vindos de Londres falavam de um vale oculto muito além da fronteira afegã, governado por um emire em ruínas, que proibira todos os estrangeiros e impunha impostos impossíveis a caravanas. Seu motivo — e sua loucura — situavam-se em algum ponto entre a espuma de uma taberna e a última linha de um romance romântico: a promessa de riquezas desconhecidas, de notoriedade e de um reino próprio no fim de um estreito dorso de montanha.

Eles contrataram guias locais, subornaram oficiais nos postos de fronteira e iniciaram uma peregrinação de ventos impetuosos, passagens traiçoeiras e noites encolhidos sob um dossel de estrelas tão brilhantes que iluminavam a tundra como uma lâmpada quebrada. O ar rareava a cada amanhecer, e até a postura militar de Onslow e a calma estoica de Preston começaram a ceder sob pés congelados e palmas blisteradas. Ainda assim, cada passo os impulsionava adiante: uma fortaleza oculta esculpida em penhascos cor-de-rosa, finas partículas de neve dançando como espíritos no vento, e trilhas tão antigas que sussurravam impérios perdidos na memória. Antes do amanhecer do quadragésimo terceiro dia, eles culminaram o último cume, e o vale de Arighan se estendia abaixo — um berço muralhado de cidadelas em ruínas, canais de irrigação retorcidos e campos que já haviam alimentado exércitos, hoje semeados de inatividade. Ali, longe do alcance do Raj Britânico, decidiram coroar-se reis, forjando um império nascido da audácia e da ilusão.

Rumo ao Desconhecido

Quando Onslow e Preston pisaram pela primeira vez nos íngremes cumes do Hindu Kush, encontraram um reino de rochas esculpidas pelo vento e altitudes inimagináveis, onde o céu ardia em um azul cobalto tão puro que até a luz do dia parecia mascarar qualquer limite mortal. Os cascos de seus camelos arranhavam-se desajeitados sobre xistos fraturados e pedras soltas, cada passo levantando minúsculas avalanches de poeira que cintilavam como poeira estelar ao sol da manhã. A dupla movia-se com precisão militar, Onslow fazendo reconhecimento à frente com uma bússola de latão e Preston conferindo suprimentos ao tremeluzir de uma lanterna.

Mas não eram mapas nem rotas comerciais que governavam a terra além de Peshawar, e sim sussurros de clãs ferozes cuja lealdade pertencia ao sangue e à lâmina. Os dois britânicos referiam-se em tom baixo, traçando tratados frágeis com cada guia contratado, subornos de moedas de cobre que nunca bastavam para aplacar os olhares furtivos de homens armados na cintura. Nas noites em que a fogueira estalava, Preston parava para estudar as constelações acima, notando a ausência de qualquer semelhança com o Cruzeiro do Sul e imaginando quão longe haviam-se afastado do império a que serviam. O frio raspava suas finas mantas de lã, e cada manhã os despertava antes do amanhecer, olhos ardendo, músculos latejando, para atravessar passagens onde o silêncio era absoluto, exceto pelo estalo vazio do vento roendo ossos.

Atravessaram um antigo caminho de caravanas marcado por rodas de carroça que não viam um comerciante estrangeiro há décadas, mas ainda guardavam os fantasmas de mercadores que desapareciam buscando fortunas em cidades douradas que jamais existiram. Quando as tendas ficaram para trás, sob a proteção de um cume recortado, o território do Raj Britânico desvaneceu-se na memória, restando apenas a promessa — e o perigo — de vales inexplorados, que poderiam oferecer refúgio a reis ainda não nascidos.

A meio caminho, uma tempestade desceu sem aviso, trocando a claridade por um silêncio implacável que cobriu as encostas com mantos rodopiantes de neve. Os guias, antes seguros, agora cambaleavam como espectros, carregados por mochilas semi-congeladas e nervos tomados pelo estrondo de avalanches ecoando pelo desfiladeiro. Onslow riscou pederneira no aço para arrancar fagulhas sob a lona, na esperança de um chá com gosto de fuligem, enquanto Preston recitava remédios de diários de viagem, tratando dedos congelados com panos embebidos em uísque e conhaque. Cada decisão provocava ondas de pânico na retaguarda: devagar demais, e o frio os liquidaria; rápido demais, e cairiam em fendas ocultas que engoliam cavalos inteiros.

Quando a tormenta finalmente cedeu na quinta noite, revelou um planalto além da imaginação: uma vasta tundra pontilhada de lagos cor de cobalto, cujas superfícies escuras refletiam o luar pálido como espelhos polidos. Avançaram com vigor renovado, sem permitir-se imaginar um resgate caso fraquejassem. Mesmo sob a frágil alegria da sobrevivência, persistia uma pergunta que nenhum cavalheiro inglês ousava formular: por que arriscar tudo por um território inexplorado que talvez não pertencesse a ninguém, ou pior, pertencesse a todos, menos a eles?

Quando desceram ao limiar do vale de Arighan, o sol pendia baixo contra penhascos cor de ferrugem, que brilhavam como brasas num fogo moribundo. Abaixo jazia ruínas meio engolidas por espessos emaranhados de zarzal e vinhas, muros coroados por ameias e minaretes em ruínas, sussurrando sobre exércitos e impérios reduzidos a pó. Desceram por trilhas estreitas recortadas em switchbacks, ladeadas por guardas esqueléticos—estátuas desgastadas esculpidas em granito rosa—e passaram por um portão talhado de um único bloco de ônix, tão escuro quanto a noite. Um mosaico de campos se estendia a seus pés, irrigado por aquedutos esquecidos pelo tempo, onde fileiras de trigo e cevada murmuravam ao vento perfumado de amêndoas.

O ar vibrava com o murmúrio de refugiados, pastores locais e comerciantes receosos de expor suas mercadorias na fronteira. Foi ali, na cidade fantasma de Arighan, que Onslow e Preston despertaram certa manhã para perceber que não eram mais meros invasores, mas soberanos em potencial. Convocaram os chefes tribais em salões de arenito, oferecendo mantas, rifles e a promessa de proteção em troca de lealdade, angariando acenos relutantes mais valiosos que qualquer moeda de prata. Naquele instante, abraçaram uma verdade que poucos impérios admitem: um país não se conquista mais facilmente que um batimento cardíaco, e lealdade também não. O vale se apresentava diante deles como uma tela em branco embebida de sangue e esperança, e, com corações martelando como tambores de artilharia, selaram um pacto sob uma antiga romãzeira—Onslow lideraria os exércitos, Preston administraria o tesouro e, juntos, ergueriam uma coroa do solo infestado de lendas.

Naquela noite, à luz tremeluzente de lamparinas de óleo presas a nichos entalhados, os dois homens, trêmulos, redigiram declarações em persa arcaico e pashto rudimentar, declarando o Vale de Arighan província soberana sob a Coroa de Onslow e Preston, patronos da paz e do decreto. Batizaram a nova cidade de Shadabshahr—‘A Cidade da Alegria’—na esperança de que o nome sobrepujasse qualquer sussurro de motim, e nomearam anciãos locais para conselhos administrativos, presenteando-os com robes de seda e fogões de ferro para governar com conforto. Uma guarnição improvisada de mercenários, recrutada entre errantes e exilados, jurou lealdade em troca de concessões de terra, consolidando a aliança em uma estrutura tão firme quanto as muralhas cor-de-rosa ao redor.

Mesmo enquanto içavam a Union Jack junto a um estandarte tecido com sementes de romã, percorria-lhes um arrepio inquietante: sabiam que, em fronteiras traçadas não por séculos de tradição, mas pelo traço de uma pena, autoridade era tanto ilusão quanto promessa. Lá embaixo, os picos distantes do Hindu Kush erguiam-se como sentinelas silenciosos, testemunhas do nascimento de um reino à beira da lenda—um reino forjado na coragem, na loucura e na vontade intransigente de dois sonhadores que ousaram crer no impossível.

Dois aventureiros britânicos em uma trilha rochosa nas montanhas do Hindu Kush
Onslow e Preston negociam o seu primeiro passo de montanha no Hindu Kush.

Forjando um Reino

No calor tórrido do verão, quando o degelo inchava os riachos montanhosos em torrentes estrondosas, Onslow e Preston iniciaram o reforço de sua reivindicação sobre o vale. Tomaram de assalto o antigo forte de pedra no alto dos penhascos rubros—suas ameias marcadas por séculos de cerco—e penduraram bandeiras britânicas e estandartes de seda cor-de-romã nas cortinas de pedra. Ferreiros locais, persuadidos por moedas de ouro e a promessa de novos mercados, refundiram dobradiças partidas, forjaram mosquetes elegantes e repararam torres vazias há gerações.

Preston conduzia as negociações sentado em um estrado, sob um dossel de tapetes de oração esvoaçantes, enquanto Onslow instruía um grupo de mercenários em formações europeias, ensinando marchar e disparar conforme o manual. Recrutaram pastores para guarnecer torres de vigia, suas montarias brancas vultos fugidios contra a vegetação rasteira, e acenderam lanternas ao longo dos passos estreitos para dissuadir saqueadores nos invernos rigorosos. Quando um chefe vizinho ameaçou invadir em um acesso de ganância, Onslow avançou com uma companhia de infantaria e auxiliares tribais, exibindo tratados e mosquetes em igual medida, obrigando o rival a jurar fidelidade ou enfrentar perseguição implacável. A combinação de astúcia diplomática e fogo disciplinado abafou a dissidência e converteu clãs hostis em aliados fiéis à causa da dupla.

Colheram pistache selvagem e bagas de zimbro, cultivando pomares que perfumavam as ruas empoeiradas com aroma de pinho e flores de amêndoa a cada primavera. O comércio renasceu nas rotas da antiga Rota da Seda, com caravanas transportando tapetes persas, especiarias indianas e vidro veneziano, transformando Shadabshahr num bulício de povos no cruzamento dos impérios.

Com o passar das estações, codificaram leis que mesclavam estatutos britânicos com costumes locais, reunindo conselhos de aldeias em pátios de pedra ao meio-dia, enquanto mulheres de xales bordados serviam chá e doces fritos. Preston, sempre atraído por livros contábeis e pergaminhos, estabeleceu um tesouro nas adegas abobadadas do forte, armazenando dinares de ouro das caravanas que ousavam as estradas montanhosas pela primeira vez em décadas. Mandou cunhar moedas com seus perfis lado a lado com o de Onslow, ladeados por romãs e a inscrição ‘Principado de Shadabshahr’. Estes novos meios de troca circularam pelos bazares aos pés dos penhascos, tilintando junto a rúpias de cobre nos alforjes de negociantes de xales de seda e damascos secos.

Onslow organizou patrulhas de fronteira com cavaleiros locais, e instalou lanternas pelas veredas estreitas, lembrando os inimigos de que enfrentariam resistências iluminadas mesmo nos meses mais gelados. Quando outro chefe vizinho ameaçou atacar, ele novamente marchou à frente, selando a paz com canhões de pólvora e tratados, convertendo antigos inimigos em protetores leais. Os habitantes colheram pistache e zimbro, pomares se multiplicaram e o comércio floresceu, confirmando Shadabshahr como um vibrante entreposto.

Porém, o projeto mais delicado foi a fundação de uma academia num planalto ensolarado junto à cidadela, onde aprendizes estudavam aritmética básica, engenharia rudimentar e artes literárias num currículo criado por Preston. Ele contratou tutores de poesia árabe e versos épicos britânicos, buscando dissolver inimizades seculares ao ensinar a juventude de Arighan a ler sem medo e a debater sem derramar sangue. Onslow, por sua vez, desenhou canais de irrigação para alimentar terraços áridos abaixo, canalizando água de degelo em cisternas repletas de carpas koi. Juntos, instituíram festivais anuais para celebrar a colheita—espetáculo de fogos importados de Calcutá, danças de acrobatas mascarados e justas entre cavaleiros cujos elmos eram relíquias de saques otomanos. Sob o compasso de tambores festivos, mercadores de Herat vendiam âmbar e lápis-lazúli, enquanto escribas registravam os eventos em tomos de velino encadernados em couro de cabra.

Mesmo com minaretes elevando-se no horizonte, sinalizando a construção de uma mesquita em agradecimento pelos trajetos sagrados, sussurros de insatisfação surgiam entre tendas na periferia. Shadabshahr não era apenas uma fortaleza, mas uma cidade viva, e cada pedra assentada testemunhava tanto a ambição vertiginosa quanto o sutil conflito subjacente que permeava sua fundação.

Com a chegada do inverno, Shadabshahr reluzia sob camadas de neve que aprofundavam o vermelho das muralhas e transformavam pátios em jardins de alabastro. Onslow enviou emissários a Kandahar e Cabul, levando cartas formais de reconhecimento e o brilho do aço britânico, convidando os atores do Grande Jogo a sancionar seu governo em troca de direitos exclusivos de comércio e a promessa de um posto avançado estável nas montanhas. Preston equilibrou as contas exportando tapetes finos e frutas secas, enquanto secretamente reservava moeda para contratar mercenários caso o cenário político mudasse. Intimidado pelo manto da madrugada, descia ao cofre onde as lâmpadas de óleo dançavam sobre montanhas de barras de ouro, refletindo sobre a jornada de dois vagabundos sem tostão a governantes de um reino esculpido em rocha e rumor.

Os habitantes, antes desconfiados, agora curvavam-se ante suas bandeiras, e nos bazares ecoava o brado “Viva os Príncipes de Arighan!” tão certo quanto o chamado para a oração. Mas Onslow sabia que a ambição era uma adaga de lâmina dupla: útil contra os escudos dos inimigos, podia também voltar-se contra quem a segurasse. E assim, enquanto as montanhas dormiam sob a lua pálida, vigiava as muralhas, contemplando o preço da soberania num solo onde lealdades eram tão fugazes quanto pegadas na neve fresca.

Cerimônia de coroação em uma sala esculpida na montanha
Os aventureiros se proclamam governantes diante dos chefes locais.

Império de Poeira

Quando o segundo ano de seu governo se aproximou, fissuras começaram a surgir na fachada reluzente de Shadabshahr. As mesmas tribos que juraram lealdade em troca de robes de seda agora resmungavam contra impostos que erguiam palácios ornamentados em vez de suas humildes habitações de pedra. Em Cabul, emissários comentavam temerosos que uma coroa estrangeira poderia desequilibrar o frágil tabuleiro de poder afegão, e uma caravana de cavaleiros hostis, liderada pelo senhor da guerra Khizran, Sabir Khan, avançava das planícies orientais, com espada e tochas em punho.

Onslow encontrou-se com o mensageiro ao amanhecer na glacis do forte, sua farda carmesim recortando-se em silhueta contra as muralhas de pedra. Exibiu cartas de reconhecimento assinadas por ministros distantes em Londres—retalhos diplomáticos incapazes de rivalizar com os duros desígnios da vingança tribal. Quando os cavaleiros de Khan investiram como nuvem de gafanhotos sobre os campos gelados, o Príncipe de Arighan reuniu suas tropas, ordenando descargas disciplinadas que abatiam montados com estrondos ensurdecedores. Ainda assim, para cada cavaleiro derrubado, dois ocupavam seu lugar, tingindo a neve de um mar carmesim de aço.

Naquela noite, Onslow e Preston reuniram-se em conselho de guerra no grande salão abalado, o brilho das lamparinas refletindo em alvenaria rachada, enquanto avaliavam o custo de um conflito que poderia consumir seu reino nascente. O estoque de mantimentos minguava e as caravanas recusavam-se a enfrentar os passos sob ameaça de saques, forçando Preston a recorrer às reservas secretas destinadas a obras públicas para contratar mercenários do Vale de Kurram. Sua lealdade provou-se instável: alguns fugiam nas sombras com mantimentos, outros abandonavam os postos em busca de rumores de pilhagens nas terras baixas.

O cerco apertou-se em torno da cidadela de Shadabshahr, e estandartes rebeldes marcharam até as aldeias vizinhas, semeando o temor como incêndio. Os pomares de romã enrugaram sob o gelo, enquanto tributos de regiões distantes secaram-se em troços inúteis de pergaminho. Com os suprimentos exauridos, Onslow decidiu negociar na antiga plataforma de sacrifícios mithraica, local onde oferendas eram feitas há séculos. Ali, sob o véu de penhascos imponentes, ofereceu a Khan parte do tesouro em troca de paz—apenas para ver o semblante belicoso do senhor da guerra se curvar num sorriso de desprezo antes do estalo de um mosquete que o lançou contra a pedra.

Ao perceber que Onslow jazia ferido na neve, Preston, com fervor desesperado, reuniu os últimos guardas e abriu um corredor de mosquetes pela linha rebelde. Ergueu Onslow sobre o dorso de um camelo e liderou uma fuga angustiante sob o olhar de postos de vigilância incendiados. Desceram por quedas d’água ocultas e passagens secretas ensinadas por guias cuja lealdade ao dinheiro superava qualquer juramento de fidelidade.

Quando a aurora tingiu o vale, os bazares outrora vibrantes jaziam vazios, fumaça subia de celeiros derrubados onde mercadores antes negociavam em múltiplas línguas. Com corações pesados, regressaram pelas velhas rotas de caravanas rumo a Peshawar, deixando para trás canhões cravados em canos gelados e estandartes estalando como ecos fantasmas no vento.

Ao alcançarem as linhas britânicas, Onslow e Preston mal se assemelhavam aos homens ambiciosos que partiam a leste sem coroas. Carregavam apenas alguns papéis—diplomas de realeza que tremulavam como pássaros feridos—e histórias de um reino que nasceu e pereceu em um só fôlego. Oficiais em Ottawa ouviram com cepticismo enquanto Onslow narrava intrigas palacianas e batalhas de campo, e Preston exibia punhais em aço nativo, cada lâmina gravada com romãs e lemas ingleses. Seu regresso deixou Shadabshahr nas mãos de seus antigos moradores, que depuseram bandeiras estrangeiras e renomearam o forte de Khana-e-Khair, ‘Casa da Dívida’, testemunho do preço da ambição desmedida. Despidos de coroas e tesouros, os dois homens recolheram suas memórias como troféus, organizando-as em tomos para as salas de estar nas margens do Tâmisa, onde se tornariam lendas de coragem, arrogância e do efêmero sonho de um reino talhado no ar rarefeito das montanhas.

Forças tribais cercando a fortaleza na montanha
Rebeldes cortaram as linhas de abastecimento do reino recém-estabelecido.

Conclusão

No fim, o sonho de Shadabshahr tremeluz como vela solitária enfrentando um vento desértico—brilhante por um instante, depois extinta pelas forças implacáveis da história e da fragilidade humana. O capitão Onslow e Daniel Preston regressaram à Inglaterra não como monarcas envergando vestes de seda, mas como homens que carregavam tanto a desdita quanto um rico arsenal de histórias gravadas na memória das montanhas. Trouxeram consigo fragmentos de melodias selvagens aprendidas à beira da lareira, diários surrados repletos de esboços de aquedutos e ameias, e o eco de preces pashto ainda pulsando em suas veias. Nos salões de clubes londrinos, narravam suas loucuras e glórias, brindando com conhaque sobre mapas marcados por cicatrizes que poucos acreditavam conduzir a um lugar real.

Seu reino foi breve, um testemunho de tirar o fôlego sobre o poder da ousadia, sustentado por alianças frágeis e destruído pela mesma ambição que o fez surgir. Ainda assim, em arquivos poeirentos no Afeganistão e no ar noturno acima dos picos do Hindu Kush, perduram sussurros de seu reinado. As pedras do velho forte foram reaproveitadas, bandeiras substituídas, mas todo viajante que faz pausa na passagem montanhosa ouve a história de dois aventureiros britânicos que reclamaram uma coroa na beira do mundo. Ela permanece como aviso e inspiração: a linha entre conquista e ruína é perigosamente tênue, e qualquer sonho, por mais impossível que seja, pode deixar a marca de um reino nas areias do tempo.

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