Os Dançarinos da Alma do El Malecón

8 min

Os Dançarinos da Alma do El Malecón
Morita stands on the Malecón as dawn’s last light fades, spirits swirling around her.

Sobre a História: Os Dançarinos da Alma do El Malecón é um Histórias de Fantasia de cuba ambientado no Histórias Contemporâneas. Este conto Histórias Descritivas explora temas de Histórias de Redenção e é adequado para Histórias para Todas as Idades. Oferece Histórias Divertidas perspectivas. Um conto místico cubano sobre ritmo, espíritos e o poder do coração humano sob a lua de Havana.

Introduction

Sob o brilho coral-rosado de um entardecer em Havana, a respiração do Atlântico misturava-se ao aroma de maduros grelhados e risadas distantes. Uma figura solitária pisou nas pedras antigas do Malecón, seus pés descalços sussurrando segredos ao mar. O coração de Morita batia como címbalo contra suas costelas. Ela carregava um peso invisível, forjado em memórias que não conseguia sacudir, tremeluzindo como a chama de uma vela esquecida. À medida que a maré se aproximava, o spray de sal tinha o gosto de arrependimentos de ontem e esperança de amanhã, todos entrelaçados como fios na antiga rede de vovó. Um suave dedilhado de violão flutuava de uma casa próxima, cada nota tão leve quanto um suspiro, tecendo-se pelo ar úmido e acendendo uma centelha sob seu esterno. Conversas distantes subiam e desciam como ondas, pontuadas pelo zumbido baixo dos coches que passavam, suas buzinas uma provocação brincalhona contra a maré crescente da noite. Sombras esticavam-se pelo paredão, altas como sonhos, cada uma ocultando uma história prestes a dançar.

Morita parou onde o calçamento encontrava o oceano e fechou os olhos. Um ritmo tênue pulsava na escuridão, como se algo sob as ondas tivesse aprendido a marcar o compasso. Ela se perguntou se o próprio mar havia se cansado e buscava companhia, ou se seu espírito inquieto despertara um eco de outro mundo. Os moradores locais diriam que ela dançava al garete, à deriva sem âncora, enquanto outros murmuravam que ela era ser la candela, queimando intensamente com poder latente. As vozes dos vivos se dissipavam como sementes de dente-de-leão, deixando Morita sozinha com sua respiração, o cheiro elétrico de ozônio e o murmúrio de vozes quase não humanas. Em algum lugar atrás dela, o clangor de um tam tam congelou o ar, convidando-a a ouvir mais atentamente. O mar, as pedras, a noite — todos pareciam inclinar-se para frente, curiosos para testemunhar o que estava prestes a acontecer.

The Call of the Night Spirits

A primeira vez que Morita sentiu o chamado, veio como um sussurro levado pela brisa marinha. Ela o ouviu exatamente quando o sol desaparecia no horizonte, no instante em que o mundo paira entre o pulsar do coração e o silêncio. Naquela hora, a cidade suspirava, as venezianas batiam como dentes trincando, e o som distante de animais se acomodava num baixo resmungo. Ela estava sozinha, apenas sua sombra refletida nos vidros escuros, até que uma voz frágil como gota de água no vidro a convidou a avançar.

Movida por curiosidade entrelaçada ao desejo, Morita seguiu a canção até um círculo amplo de blocos de calcário onde as ondas se espatifavam num aplauso rítmico. Lanternas balançavam em postes enferrujados, projetando halos alaranjados que dançavam como vaga-lumes. A música crescia no cais — um homem em um tres surrado dedilhava uma melodia assombrosa, como se fosse uma lembrança. Cada acorde ressoava em algo profundo em seus ossos, agitando brasas que ela não sabia estarem enterradas sob a pele. Ela entrou no círculo, e o mundo se afrouxou, desatando costuras que ela havia apertado anos atrás.

Dançarinos fantasmagóricos surgindo no Malecón à noite
Dançarinos translúcidos aparecem à beira da água enquanto Morita ouve sua canção.

Dancing with Shadows

O corpo de Morita se moveu antes que sua mente pudesse alcançar. Seus braços ergueram-se, dedos curvando-se como asas de gaivota, e seus quadris balançaram no compasso do tambor invisível. O spray salgado beijava suas bochechas, deixando o gosto de histórias não contadas. Ao redor dela, os espíritos erguiam-se em sintonia — silhuetas de homens e mulheres envoltos em modas de outros tempos, rodopiando pelo ar úmido. Eram leves como raios de lua, tremeluzindo com o brilho pálido de algas fosforescentes. Cada passo que Morita dava ecoava nas pedras, misturando-se ao baque oco de seus sapatos.

Ela sentia o anseio deles, uma maré de esperança e remorso lavando suas veias. Os espíritos desejavam recuperar a dança perdida em vida, tocar o chão sob seus pés mais uma vez. Morita quase podia sentir o cheiro de cabelo perfumado de tabaco, sutis vestígios de fumaça de cigarros levando-se na brisa. Seu peito se apertou quando uma mão espectral roçou seu cotovelo, um contato íntimo que estalou como eletricidade. Uma sirene distante uivou, tão longínqua quanto o grito de uma gaivota, mas ela mal percebeu. O momento se estendeu, um laço de seda suspenso sob o luar.

Morita dançando entre silhuetas fantasmagóricas à beira-mar
Sob o luar, Morita conduz companheiros espectrais em uma dança sóbria e vigorosa à beira da água.

Em seu transe onírico, ela achou que ouviu a canção de ninar de sua mãe deslizando pelas ondas, uma melodia suave sobre um pássaro aprendendo a voar. Um tremor de lágrimas aqueceu seus cílios. A energia no ar era densa o bastante para ser degustada, uma mistura de ozônio e jasmim que descia pela garganta. Então os espíritos executaram uma sutil mudança — seus olhos brilharam como lanternas penduradas em janelas fantasmagóricas, cada olhar implorando que Morita os conduzisse adiante. Ela girou como o obturador de uma câmera, capturando fragmentos de suas histórias: um pescador perdido, uma mãe ansiando pelo filho, um soldado eternamente retido à beira da praia.

A rajada de vento surgiu de repente, agitando seus cabelos como seda negra. O círculo apertou-se, e Morita percebeu que ela tinha a chave para a liberdade deles. Seus pés arrastaram-se no chão de pedra como um tambor constante, guiando a dança rumo a um crescendo. Ela sussurrou palavras que mal compreendia, uma oração ou promessa, enquanto lágrimas mornas se misturavam ao sal em sua pele.

Quando a nota final estremeceu em silêncio, os espíritos congelaram no ar, respirações visíveis como nuvens no frio que desceu. Então, um a um, ergueram voo e flutuaram em direção ao mar, dissolvendo-se na espuma que brilhava com luz sobrenatural. Morita ajoelhou-se, coração disparado, e provou a doçura da libertação.

The Weight of Dawn

A manhã veio como um espectro relutante, derramando luz pálida sobre o vestido molhado de Morita. A maré havia recuado, levando consigo os últimos vestígios de pegadas fantasmagóricas, deixando apenas suas próprias marcas na areia. Ela ergueu-se trêmula, cada músculo vibrando como se tivesse nadado contra uma corrente tempestuosa. Um gato vadia miou de um degrau rachado, olhos arregalados de curiosidade. O ar ainda estava quente, mas a promessa de um novo dia se acomodava ao redor dela como um xale gasto.

Morita cambaleou até sua pequena casa no Centro Habana, onde a tinta turquesa descascada se agarrava às venezianas de madeira. Lá dentro, o ar estagnado cheirava levemente a chá de hortelã e fotografias antigas. O vinil do Buena Vista Social Club do avô jazia ao lado de uma janela aberta, empoeirado e esquecido. Recordações inundaram sua mente — gargalhadas explodindo sobre bancadas instáveis, mãos de vovó cobertas de farinha moldando massa em suaves meias-luas. Ela fechou os olhos e pressionou as palmas contra o peito, sentindo o pulsar da vida, um coração renovado.

Nascer do sol iluminando pegadas nas pedras do Malecón
Ao amanhecer, as pegadas de Morita traçam o etéreo balé noturno ao longo do paredão à beira-mar.

Ela percebeu que tinha uma escolha: seguir como se a noite tivesse sido um sonho febril, ou abraçar o presente que os espíritos lhe deixaram. O calor da aurora beijou suas bochechas como afago materno, incitando-a a avançar. No espelho empoeirado de seu quarto, ela estudou seu reflexo: cabelos embaraçados de sal, bochechas marcadas pela surpresa, olhos brilhando mais do que o amanhecer. O mundo estava al garete outra vez — selvagem e indomável — mas ela sentia, pela primeira vez em eras, que podia traçar seu próprio curso.

Ao sair, os pés descalços de Morita encontraram o calçamento rachado. Ela murmurava a melodia nascida nas ondas, carregando-a por becos carregados de maduros grelhados e ecos de risadas infantis. Cada nota esvoaçava sobre os telhados como as asas de um beija-flor. Ela voltaria ao Malecón naquela noite, pronta para conduzir mais almas em sua dança final. Já não era mera espectadora da dor; tornara-se a ponte entre a vida e o que há além.

Conclusion

A vida de Morita mudou no eixo daquela primeira dança sob a lua de Havana. Toda noite, ela retornava ao Malecón quando a cidade expirava o ritmo do dia e inspirava o silêncio das estrelas. Ela descobriu que a gratidão floresce mesmo após a dor, como uma flor vibrante que se abre no asfalto rachado. Ao mover-se pelo círculo de pedras, seus passos ecoavam esperança, cada toque enviando ondas para o profundo. A luz contida das lanternas brincava em seu rosto, e ela sentia os fantasmas se inclinar gratos ao seu ritmo uma última vez antes de mergulharem nas ondas. A cada conclusão havia um lampejo de recomeço — reflexos cintilantes que dançavam como diamantes sobre a água inquieta.

Morita jamais esqueceu o cheiro de ozônio na pele, nem o suave sussurro do pedido de um pescador perdido ao seu ouvido. Com o tempo, a notícia dos Soul Dancers se espalhou de um lado a outro de Havana, sussurrada em portas e anunciada em festas de telhado. Ninguém falava de medo; todos falavam de maravilha. E em cada dedilhar vibrante e batida de conga, Morita encontrava forças para levar adiante seu dom, honrando cada história até que a própria música parecesse viva. Sob a lua cubana, ela ensinou os vivos a mover-se com compaixão e os desencarnados a repousar com dignidade. No bailado da brisa marinha e do brilho das lanternas, passado e presente dançaram como um só — e assim Morita, a Bailarina das Almas, teceu os fios finais de redenção no coração de Havana, um conto tão duradouro quanto a maré e tão livre quanto uma canção ao vento.

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