A abóbora rolante: um conto persa de coragem e amor maternal
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Sobre a História: A abóbora rolante: um conto persa de coragem e amor maternal é um Histórias de contos populares de iran ambientado no Histórias Antigas. Este conto Histórias Descritivas explora temas de Histórias de Sabedoria e é adequado para Histórias para Todas as Idades. Oferece Histórias Culturais perspectivas. Como uma avó determinada atravessou florestas selvagens e feras ferozes para ver sua filha novamente.
Introdução
Em uma aldeia tranquila no alto da montanha, banhada pelo dourado suave da aurora, uma avó encurvada desperta com um suspiro que ecoa por seu chalé de tijolos de barro. Anos de tecelagem, colheitas e o olhar atento às estações que passam deixaram marcas profundas em seu rosto suave, mas o peso que a arranca do sono não vem da idade: é a saudade. Sua filha — outrora menina risonha, correndo atrás de borboletas além das fileiras de manjericão — vive distante, em uma cidade muralhada e agitada. Cada pétala que cai na primavera, cada floco de neve que paira no inverno lembra à velha mulher a cadeira vazia junto à lareira e as canções de ninar que ela sussurrava ao anoitecer. Nesta manhã fresca de outono, o vento varre o beco e faz as folhas secas da amoreira tilintarem como moedas inquietas. Ele sussurra uma promessa: "ande, que seu coração seja finalmente inteiro". Ela amarra um lenço desbotado sob o queixo, coloca pão sírio fresco e nozes em um embrulho de tecido e pega o cajado torto que seu falecido marido talhou há muito tempo. Com uma respiração trêmula e a prece silenciosa de todo viajante, tranca a porta torta, desliza a chave sob o vaso de gerânio e parte para o desconhecido, decidida a trocar sua solidão por um abraço afetuoso — ainda que a estrada seja longa e o mundo selvagem, faminto.
Passos pelo Vento e pelo Trigo
A trilha diante dela desenrolava-se como uma fita gasta, cortando campos dourados onde espigas de cevada balançavam ao vento. A cada milha, uma lembrança se soltava — os primeiros passos de sua filha, uma canção de ninar levada pelo aroma de açafrão, o dia agridoce em que a caravana nupcial desapareceu além do cume. Quando o sol subiu alto, ela atravessou um rio rugidor, cujas águas jade borbulhavam em torno de pedras escorregadias. Manteve o equilíbrio, pés dormentes e coração valente. Do outro lado, um denso bosque se avolumava, troncos retorcidos como gigantes ancestrais. Sombras respiravam entre os cedros, e o musgo silenciava seus passos. Ao meio-dia, suas pernas tremiam, mas ela não ousou parar; o silêncio daquela catedral verde parecia viva e atenta.
No frescor sombrio, encontrou um toco e beliscou o pão seco, saboreando sua crosta defumada. Pássaros a repreendiam lá no alto, e um galho estalou mais fundo na floresta. Instantes depois, um enorme lobo cinzento surgiu na trilha, olhos amarelos como luar desértico. Ele bloqueou o caminho, o rabo balançando lento e seguro, a fome ardendo em seu olhar. Seu pulso estremeceu, mas ela domou o medo com polidez. “Bom dia, Mestre Lobo”, disse, voz calma como um riacho quieto. “Estou magra como gravetos de inverno. Deixe-me visitar minha filha, alimentar-me e engordar. Na volta, terei um banquete à altura de suas presas.” As narinas do lobo se dilataram; suas costelas sobressaíam sob a pelagem desgrenhada. A razão brilhou em seu olhar selvagem. Com um bufar, ele concordou, babeiros reluzindo em sua mandíbula. “Volte gorda — ou eu a encontrarei”. As palavras ficaram no ar como fumaça enquanto ela prosseguia, agradecendo a cada estrela da sorte.

A luz da tarde tingiu-se de ouro quando o bosque deu lugar às pedras cortantes. A subida pela crista da montanha queimava suas panturrilhas; pedrinhas deslizavam em pequenas avalanches. No meio do caminho, um leopardo saltou de uma saliência, músculos ondulando sob o pelo malhado. Seu rosnado vibrou na rocha. Mais uma vez ela negociou, envolvendo cada sílaba em elogios — sua voz era uma flauta suave conduzindo uma dança selvagem. O felino, vaidoso e calculista, aceitou, bigodes se agitando em sonhos de uma refeição rechonchuda e corada. Ela curvou-se com respeito e seguiu adiante, pulmões ardendo, espírito obstinado.
A noite estendeu seu manto índigo justamente quando ela alcançou um platô solitário. Um enorme urso marrom emergiu da penumbra, o sopro esbranquiçado esvaindo-se no ar. Maior do que qualquer fera que enfrentara, ele farejou seu xale encharcado de suor e rosnou por carne. Sua história desenrolou-se — ossos finos agora, promessa de sustento depois. O urso coçou a orelha, avaliou devagar as opções e, por fim, concordou, trôpego, e foi esperar sob um único salgueiro. Ela se ajoelhou, aliviada, deixando as lágrimas misturarem-se à poeira, sussurrando gratidão às estrelas silenciosas acima.
Cidade do Abraço Aconchegante
Dois dias depois, a cúpula turquesa da cidade cintilou no horizonte como uma lua distante. Vendedores de mercado bradavam, panelas de cobre tilintavam, e romãs reluziam na luz oblíqua da manhã. Os passos da velhinha vacilaram, mas seu coração acelerou, pleno de antecipação. Chegou ao portão de madeira de sua filha e bateu uma vez com os nós dos dedos trêmulos. A porta se abriu, e os anos que as separavam derreteram como neve na primeira chuva de primavera. Mãe e filha se abraçaram, soluços harmonizando-se com as andorinhas que faziam ninhos no beiral. O genro — alma gentil de mãos calejadas — ajudou a viajante cansada a entrar, alisando almofadas sob suas juntas doloridas.
Naquela noite, a casa se encheu de vapor e especiarias. Um ensopado perfumado borbulhava ao lado de cordeiro assado lentamente. A cada garfada, os nervos despertavam; a cada riso, suas faces ganhavam nova cor. Os dias passaram como fio de seda. Ao amanhecer, a filha preparava chá de açafrão; ao cair da tarde, servia compota de água-de-rosas; e, antes de dormir, ajeitava colchas sobre a viajante tranquila. Os netos — luminosos como flores de damasco — pediam histórias, olhos esbugalhados lanternas no pátio iluminado por lampiões. A avó contava sem pestanejar: falava de rouxinóis, tecelões de tapetes e da linguagem secreta das estrelas. Cada conto semeava encanto, e os risos miúdos regavam o terreno fértil da imaginação.

Semanas transformaram-se em meses. O inverno cobriu os pomares de amendoeiras com geada, mas a casa de tijolos permaneceu aquecida por dentro. A visitante antes frágil agora caminhava com passo alegre, bochechas redondas como maçãs e braços fortes o bastante para sovar pão outra vez. Mas a alegria lançou uma segunda sombra: as promessas feitas na estrada. Sonhos de presas e garras a despertavam na meia-noite. Numa tarde nevada, ela revelou o receio à filha, voz tremulando como vela ao vento. Por um instante, o sorriso da jovem escureceu — depois, a determinação brilhou.
Ela percorreu o pátio até suas sandálias deixarem sulcos em espiral na neve, mente correndo pelas mesmas estradas montanhosas. Finalmente, surgiu uma ideia radiante como o amanhecer. Num canto do pomar repousava uma abóbora colossal, casca endurecida como barro queimado, nervuras arqueadas como arcos entalhados. Com ajuda do marido, rolou o gigante até o limiar da cozinha, facas cintilando. Rasparam sementes, retiraram fibras e poliram o interior até que brilhasse como âmbar polido. Furos para arejar perfuravam a casca; um acolchoado e um pote d’água completavam a pequena câmara. “Mãe”, sussurrou ela, “entre e deixe esta abóbora levá-la para casa como uma carruagem real”.
A Perigosa Descida da Abóbora
Antes do amanhecer, a família arrastou a abóbora gigante até uma colina em declive fora dos muros da cidade. A neve reluzia violeta sob a lua minguante quando a filha beijou a casca. “Se alguma fera lhe perguntar”, instruiu, “mude a voz e diga: ‘Por Deus, não a vi — role, role, siga para o seu lar!’ Então mande a abóbora prosseguir.” Lágrimas cintilaram em cílios congelados quando ela deu o último empurrão.
O mundo converteu-se em uma lanterna giratória para a avó. Ela se acomodou dentro da câmara oca, joelhos junto ao peito, enquanto terra e céu trocavam de lugar num borrão vertiginoso. O vento gelado assobiava pelos furos, trazendo cheiros de pinho, terra úmida e fumaça distante. A cada solavanco, a abóbora ganhava velocidade, marcando um rastro entre a neve e a grama murcha. Horas comprimiram-se em batimentos de coração até que o salgueiro solitário surgiu à vista — seu guardião silencioso, o urso marrom, cochilando junto às raízes.

A abóbora estremeceu e parou de repente contra a pata larga do urso. A fera piscou, a confusão turvando seu olhar, então farejou o estranho recipiente. “Abóbora”, rosnou, “você viu a velha gorda que me deve o jantar?” A avó engoliu o pânico, afinou a voz e respondeu: “Por Deus, não a vi! Role, role, siga para o seu lar!” Ela empurrou a parede interna com as duas palmas, e a abóbora renqueou montanha abaixo, deixando o urso perplexo, coçando o queixo coberto de neve.
Morro abaixo, ela passou por entre rochas tortas até que o poleiro do leopardo reapareceu. As manchas tremeram enquanto o felino saltava, o rabo chicoteando em irritação. “Tola redonda, cadê minha presa prometida?” A viajante oculta repetiu sua frase, mais aguda agora, como uma chaleira assobiando: “Por Deus, não a vi! Role, role, siga para o seu lar!” A abóbora disparou antes mesmo do leopardo terminar o rosnado, tombando tão rápido que faiscas voaram onde o gelo encontrou a pedra.
Na beira da floresta, o lobo a aguardava — mais astuto, magro e muito menos paciente. Sentiu algo estranho — talvez o vestígio do perfume de água-de-rosas emanando da casca. As garras cravaram-se na terra enquanto bloqueava a trilha, olhos afilados como brasas. “Pare, estranha alaranjada. Seu cheiro lembra promessa quebrada.” A voz da avó vacilou, mas ela recitou as palavras mágicas. Desta vez, a suspeita virou certeza. Num golpe feroz, o lobo estilhaçou a casca, abrindo um sorriso irregular na lateral da abóbora. A luz jorrou para fora; o medo explodiu. O poderoso encanto se desfez.
De Volta por Um Fio de Semente
A casca rachada balançou violentamente, espalhando estilhaços como pétalas alaranjadas. O instinto irrompeu pelos ossos frágeis: corra! Ela saltou pela abertura e disparou em direção à sua casa, agora visível entre nogueiras despidas. O ar cortava seus pulmões; a neve se lançou após seus calcanhares. O lobo, atordoado pela agilidade súbita, hesitou um instante — depois avançou, salivando, patas retumbando. Ela remexeu debaixo do vaso de gerânio, dedos dormentes, coração batendo contra costelas machucadas. A chave de ferro tilintou na pedra, entrou na fechadura, e a porta se escancarou. Ela mergulhou para dentro, bateu a tábua, e trancou o ferrolho bem quando o peso do lobo explodiu contra ela.
Rugidos bestiais estremeceram as dobradiças. Garras riscaram a madeira, deixando cicatrizes que seriam testemunhas por anos. Lá dentro, a avó colou as costas na porta, peito arfando, lábios murmurando todas as preces que conhecia. Os minutos rastejaram como besouros feridos antes que o arranhar se acalmasse. Finalmente, o predador, vencido e faminto, recolheu-se às sombras dos pinheiros, deixando apenas neve revirada e casca lascada.

O silêncio instalou-se, doce como figos maduros. Ela cambaleou até a janela e viu a aurora ruborizar o cume, derramando dourado sobre seus canteiros vazios. Um alívio cresceu em seu peito — uma ternura constante — e o riso brotou, leve e cristalino como água de nascente. Preparou chá, segurando a xícara com mãos trêmulas, e entre o vapor percebeu não as marcas na porta, mas a prova de sua própria força de vontade inquebrantável.
Anos depois, crianças da vila se ajuntavam ao limiar de barro, implorando pela história da abóbora rolante. Ela inclinava-se à frente, olhos cintilando, e lembrava a todos que o engenho vence a força, que o amor abre trilhas por montanhas e que até a viajante mais frágil pode inclinar o destino a seu favor com a palavra certa e um coração destemido.
Conclusão
A abóbora rolante veio a repousar exatamente onde a saudade primeiro incitara a avó a caminhar, mas ela já não era a mesma mulher. A jornada costurara coragem em cada ruga, aguçara sua astúcia como pedra-de-amolar e provado que a perseverança pode quebrar até a casca mais resistente — literal ou não. Histórias de suas façanhas se espalharam pelo vale, enraizando-se em sussurros junto à lareira, boatos no mercado e canções de ninar. E assim, sempre que o vento outonal faz farfalhar as folhas secas pelas aldeias iranianas, as pessoas sorriem e lembram da noite em que uma velha viajou em uma abóbora, ensinando a jovens e velhos que o engenho cresce livre onde a esperança brota — e que o amor, uma vez em movimento, não pode ser detido.