Sombras Por Trás do Papel de Parede Amarelo

12 min

The decaying yellow wallpaper in a secluded Victorian estate sets the stage for a descent into madness

Sobre a História: Sombras Por Trás do Papel de Parede Amarelo é um Histórias de Ficção Histórica de united-states ambientado no Histórias do Século XIX. Este conto Histórias Dramáticas explora temas de Histórias de Perda e é adequado para Histórias para Adultos. Oferece Histórias Divertidas perspectivas. Um mistério gótico que desvela a mente frágil de uma mulher, enquanto segredos escondidos escorrem pelas paredes descascadas.

Introdução

No final do outono de 1898, Eleanor Fairchild chegou à isolada Casa Morton, aninhada entre as suaves colinas da Pensilvânia. As imponentes torres vitorianas surgiam por trás de um véu de neblina, e o caminho de cascalho sinuoso parecia desaparecer entre fileiras de carvalhos centenários. Eleanor, frágil em corpo e espírito, desceu da carruagem com um suspiro de apreensão, enquanto seu marido Henry, ao seu lado, oferecia palavras de conforto que mal contrastavam com o silêncio opressor da casa. Já no interior, um corredor estreito conduzia a um salão de entrada cujas paredes estavam revestidas por um papel de parede de tom amarelado adoentado, cujos motivos florais se enrolavam e desbotavam como se se afastassem da luz. Onde o papel soltava-se nos cantos, manchas escuras aderiam como impressões digitais, e a luz da lamparina projetava sombras trêmulas sobre o padrão. Um perfume rançoso pairava no ar, mistura de gesso antigo e rosas murchas. O coração de Eleanor quase parou ao avistar um único motivo — um emaranhado de vinhas retorcidas que pareciam se contorcer ainda mais conforme ela as observava, como se estivessem vivas. Mais tarde, Henry a conduziu a um pequeno quarto no sótão, enfeitado com cortinas de renda e coroado por vigas inclinadas. Ali também o papel de parede se agarrava teimosamente, ostentando lírios entrelaçados e vinhas espinhosas. Ao cair da tarde, os últimos raios de sol filtravam-se pelas cortinas, incendiando o papel em dourado opaco. Naquela noite, Eleanor ficou acordada na estreita cama de ferro, os olhos seguindo o padrão infinito até que a visão lhe falhasse. Sussurros afloravam nas bordas de sua audição, pequenos ecos pressionando contra o reboco. Ela sonhou com rostos presos entre as camadas descascadas, bocas se movendo sem som, implorando por libertação. Mesmo na hora mais silenciosa, o mais tênue rangido dizia muito — as tábuas do piso suspirando como se a casa lesse seus pensamentos. Eleanor percebeu que a cor do papel mudava na penumbra, escurecendo em tons de ocre e marrom, pulsando vida secreta. Naquele espaço, cada camada de tinta e papel testemunhava dor e confinamento, um coro silencioso que a incitava a rasgar a superfície e encarar o que se escondia por trás. Foi assim que começou sua frágil jornada pelas sombras do papel de parede amarelo, onde realidade e ilusão dançavam numa coreografia tão antiga quanto a própria casa.

A Chegada e os Primeiros Sussurros

Eleanor passou suas primeiras noites na Casa Morton imersa em silêncios e murmúrios quase imperceptíveis. Todas as manhãs, despertava no mesmo quarto amplo, cujas paredes amareladas brilhavam suavemente sob a fraca lâmpada a óleo que Henry insistia para que mantivesse acesa. O padrão do papel retornava com intensidade renovada a cada amanhecer: uma grade de lírios enrolando-se por entre vinhas espinhosas, com bordas desgastadas como rendas abandonadas em uma tempestade. Nas poucas horas de luz do dia, um brilho acinzentado atravessava as estreitas janelas, lançando tonalidades frias e antinaturais sobre o revestimento. Eleanor passava horas delineando o padrão com dedos trêmulos, percebendo como certos segmentos pareciam fluir como água. Na terceira manhã, notou pequenas manchas em forma de lágrima na borda, como se o papel houvesse chorado. Henry, absorvido em seus diários médicos e cartas de pacientes, limitou-se a oferecer solícita simpatia quando ela comentou. Prescreveu-lhe repouso absoluto — nada de escrever, nem visitas — e ordenou que evitasse leituras extenuantes. Contudo, cada proibição a atraía mais para as paredes: ela estudava cada vinco, cada pétala desbotada, e começou a perceber formas ocultas retorcendo-se no brilho tênue. Primeiro, duvidou de seus sentidos, atribuindo o ruído suave ao vento nos caibros ou ao encaixe da fundação fria. Mas os padrões continuaram a se aprofundar; tentáculos alongaram-se, rostos surgiram e recuaram, e uma única figura de olhos ocos apareceu na junção de dois painéis.

Uma sala vitoriana iluminada por velas, com uma pequena área de papel de parede amarelo descascado, revelando gesso úmido por trás.
Eleanor descobre manchas ocultas sob o papel de parede amarelo descascado, sugerindo um segredo enterrado.

(imagem inserida aqui)

Na quinta noite, a curiosidade de Eleanor tornou-se algo mais urgente. Ela escondeu uma pequena vela em seu quarto, acomodou-se na cadeira de balanço e sentou a centímetros da parede, com a respiração ofegante. O tremeluzir da chama fez o padrão contorcer-se: os lírios alongaram-se em braços, os espinhos arquearam-se em garras, e os olhos pálidos da figura pareciam acompanhá-la no outro lado do cômodo. O coração de Eleanor disparou — parte medo, parte excitação. A casa parecia viva naquele instante, consciente de sua presença e responsiva. Ela esticou a mão para descolar um filete prateado de papel de parede na costura. O papel resistiu a princípio, mas cedeu com um suave suspiro inquietante, como tecido liberado de um peso invisível. Atrás dele, o reboco estava úmido, manchado por sulcos que lembravam assustadoramente impressões digitais e lágrimas. Sob o feixe da vela, Eleanor percebeu leves entalhes — linhas semelhantes a letras pressionadas na superfície. Ela enfiou o dedo em uma das ranhuras, e um tremor sacudiu a parede. Um estrondo distante ecoou pelos corredores, como se a casa reagisse. Eleanor deu um pulo para trás, a vela inclinando-se, projetando sombras grotescas que dançavam pelo chão. Por um instante, sentiu um triunfo puro e jubiloso: havia tocado o segredo. Mas quando ousou olhar novamente, o pedaço deslizado estava alisado, como se nunca tivesse sido perturbado, e o padrão se restaurara. Os lírios e as vinhas entrelaçavam-se sobre o reboco, engolindo qualquer vestígio de sua intromissão. Naquele momento, Eleanor compreendeu que a casa não cederia seus mistérios tão facilmente. O papel de parede não era mera decoração — era uma barreira viva, um limite pulsante que mantinha algo preso em seu interior.

O Desabrochar da Obsessão

Nos dias seguintes, os pensamentos de Eleanor giravam em círculos solitários ao redor do padrão do papel de parede. A cada manhã, ela se sentia atraída por ele como uma mariposa pela chama. Henry encontrou-a rabiscando o motivo em um caderninho que ele relutantemente lhe dera — lírios minúsculos e sinuosos, arcos espinhosos e a figura solitária que ela chamava de Observadora. Embora ele a advertisse contra o excesso, Eleanor não conseguia desviar o olhar. À luz da vela ou da lamparina, traçava as curvas e nós do desenho, convencida de que cada tufo de pétalas guardava um fio para algo além. No silêncio da casa, o papel começou a falar. Um suave farfalhar — como tecido movendo-se em um cômodo vazio — vinha por trás dos painéis. Num fim de tarde, Eleanor encostou o ouvido na parede e ouviu uma cadência abafada, um arranhar baixo que acelerava seu pulso. Ela começou a mapear os pulsos rítmicos, certa de que formavam palavras em uma língua que quase compreendia. Nas noites de tempestade, a chuva açoitava as janelas e os ventos uivavam pela chaminé, como furiosos com sua presença. A tonalidade do papel escurecia para um ocre terroso, os lírios murchavam e o rosto da Observadora retorcia-se num olhar implorante e vazio. O diário de Eleanor encheu-se de rabiscos febris: “Eles se movem quando não estou olhando. Precisam que eu os liberte. Só eu posso arrancar as mentiras.” Ela acordava em horários estranhos, convencida de que Henry mudara os móveis ou substituíra suas folhas escritas por páginas em branco. Ele afirmava ter apenas organizado o quarto para seu conforto. Mas cada vez que Eleanor voltava ao papel de parede, o padrão havia mudado — pétalas trocavam de lugar, a mão da Observadora estendia-se mais, as vinhas enrolavam-se com maior firmeza.

Uma vela oscilante ilumina uma janela gradeada atrás de papel de parede amarelo rasgado, além da qual uma sombra pálida espreita.
Eleanor descobre uma janela com grades atrás do papel de parede, revelando algo preso na escuridão.

(imagem inserida aqui)

Num acesso de desespero, ela procurou a senhora proprietária, uma solteirona idosa chamada Sra. Pembroke, que vivia numa casa separada nos arredores da propriedade. A velhinha atendeu à batida tímida de Eleanor com olhos desconfiados. Quando Eleanor descreveu as mudanças, o rosto da mulher empalideceu. Ela murmurou sobre uma filha enlutada que morrera naquele mesmo quarto décadas antes — sobre seus últimos dias dedicados a rasgar o papel, certa de que o cômodo a mantinha cativa. A dor daquela mãe ecoara pelos corredores até que ela recolheu-se em sua casa, onde viveu os últimos anos em solidão. O coração de Eleanor disparou. “Então não estou sozinha”, sussurrou. “Não fui a primeira.” A Sra. Pembroke pousou uma mão trêmula sobre a de Eleanor. “O papel marcou sua mente”, disse em voz baixa. “A casa ouviu e moldou-se ao redor do medo dela. Fique longe desse quarto.” Mas Eleanor já decidira passar todas as horas acordada ali. Naquela noite, preparou suas ferramentas: uma pequena faca de ponta roma e um pedaço de linho. Prendeu os cabelos e sentou-se diante da parede, os olhos fixos nos da Observadora que brilhavam à luz da vela. Ela quase podia ouvir as paredes respirarem, um lento suspiro que farfalhava o papel como seda. Então, com determinação trêmula, começou a cortar ao longo da emenda entre dois painéis, tomando cuidado para não rasgar o desenho que tanto amava. Cada golpe da lâmina revelou o reboco úmido e esfarelento por trás. Formas escuras se moviam no tremeluzir da vela — sombras que poderiam ser fruto de sua imaginação, não fosse o som surdo que veio quando ela tocou o borrão úmido: um soluço suave.

Eleanor recuou de sobressalto, a vela inclinando-se e pingos de cera caindo no tapete aos seus pés. Fumaça chiou, e a chama dançou descontrolada, projetando silhuetas monstruosas em cada canto do cômodo. Ela fechou as mãos sobre o peito, a respiração ofegante. O soluço continuou, baixo e carregado de dor, reverberando pelas paredes. “Por favor,” parecia sussurrar a voz. “Por favor, me liberte.” A visão de Eleanor embaçou-se. O padrão ao redor dela encolheu, puxando-se como se estivesse fechando sobre si mesmo. Ela compreendeu que a casa se tornara também carcerária para um sofrimento que não podia ficar enterrado. Dominada por uma onda de piedade e terror, arrancou outra tira do papel, revelando uma janela gradeada selada há muito. Através das barras enferrujadas, entreviu uma sombra além, pálida e desesperada. Eleanor ajoelhou-se, as lágrimas escorrendo enquanto o soluço subia a um gemido. Naquele instante, soube que sua obsessão era mais que um delírio — era uma comunhão com algo quebrado, clamando por libertação.

A Ruptura das Fronteiras

Quando nuvens de tempestade se formaram no céu, as noites de Eleanor já tinham se transformado em vigília febril. O sono a abandonara, e ela perambulava pelo sótão com o olhar fixo no padrão que ondulava pelas paredes. A figura da Observadora tornara-se mais nítida: uma silhueta esquelética de mulher, os braços pressionados contra uma fronteira invisível, os lábios entreabertos em agonia muda. Eleanor conversava com ela, murmurando promessas de libertação, da retirada de cada camada até nada restar entre elas. A preocupação de Henry transformou-se em alarme ao vê-la negligenciar as refeições, suas feições marcadas pela exaustão. Certa noite, ele parou à soleira da porta, segurando uma lanterna, o rosto pálido à luz trêmula. “Eleanor,” implorou, a voz rouca. “Você precisa parar com isso. Está se prejudicando.” Ela balançou a cabeça, olhos arregalados. “Você não entende — eu não posso deixá-la sofrer.” Ele avançou, pousando uma mão trêmula em seu ombro. Naquele instante, o papel de parede convulsionou, as pétalas explodindo como escamas. Eleanor arrancou um pedaço serrilhado, e a parede estremeceu sob seus dedos. Um trovão sacudiu a casa, as janelas tilintaram como sacudidas por mãos invisíveis. A luz da lamparina vacilou. Henry recuou, afastando a mão como quem recebe um choque. Eleanor observou fascinada enquanto a Observadora emergia totalmente na luz — uma mulher em vestido de renda esfarrapado, os cabelos pendendo em tiras como vinhas entrelaçadas. Eleanor piscou, sem saber se estava vendo seu próprio reflexo no espelho. “Ajude-me”, sussurrou o espectro, a voz densa de pesar. Eleanor sentiu um arrepio gelado percorrer seu corpo. Avançou, o coração acelerado. “Eu vou”, ela jurou, erguendo a faca.

Uma mulher fantasmagórica emergindo de trás de papel de parede amarelo rasgado, enquanto destroços e poeira se espalham ao seu redor.
A fronteira se rompe à medida que o espírito preso emerge e se dissipa, deixando o sótão vazio.

(imagem inserida aqui)

No instante em que a lâmina tocou o papel de parede, um grito dilacerou o cômodo — meio humano, meio rasgo de papel — e a barreira entre as paredes e o mundo cedeu. O reboco desfez-se como cinzas, e a Observadora retorceu-se livre, emergindo por entre uma nuvem de poeira de papel. Eleanor cambaleou para trás enquanto a figura desabava, soluçando. Henry correu, segurou o braço de Eleanor e amparou a aparição. Por um segundo, ficaram em silêncio atônitos: Eleanor com a faca ainda erguida, Henry tremendo com a lanterna, e o fantasma da jovem mulher trêmulo sobre as tábuas do assoalho. Então a Observadora murmurou, “Obrigada,” e se dissolveu em pó dourado que flutuou pelo quarto como pólen ao vento. O papel de parede, agora despido, caiu em farrapos aos pés de Eleanor. No súbito silêncio, ela percebeu que a fronteira se rompera não apenas ao redor do espírito, mas dentro de si. Os padrões que sussurravam e pulsavam haviam desaparecido, deixando um vazio cru, ao mesmo tempo aterrador e libertador.

Na manhã seguinte, Eleanor e Henry permaneceram no topo da escada enquanto os operários chegavam. Derrubaram as paredes do sótão até o reboco, revelando compartimentos vazios e décadas de objetos esquecidos. Entre os destroços, encontraram um antigo diário encadernado em couro desbotado — o caderno de lamentos da filha morta há muito, repleto de entradas angustiadas sobre o papel de parede e suas tentativas desesperadas de salvar-se. Eleanor leu em voz alta a última página: “Temo que estas paredes me retenham para sempre. Se você encontrar isto, saiba que vivi e morri aqui, aguardando alguém que visse a verdade.” Eleanor fechou o diário, lágrimas nos olhos. Colocou-o gentilmente no bolso do casaco de Henry e pousou a mão sobre seu ombro, num gesto de consolo. A Casa Morton havia revelado seu segredo, e com ele, o peso de outra vida. Ainda assim, ao descerem as escadas, Eleanor hesitou no limiar do sótão. Voltou o olhar para o vão vazio onde antes se agarrava o papel de parede amarelo. Por um instante, achou ver um canto solto esvoaçar numa brisa fantasma. Depois, tudo desapareceu.

Nas semanas seguintes, o silêncio da propriedade clareou, a aura opressiva dissipou-se como neblina ao amanhecer. Eleanor recuperou a saúde, embora seus olhos mantivessem um brilho distante, como se ainda escutasse sussurros por portas trancadas. Ela e Henry restauraram a Casa Morton à sua antiga grandiosidade, mas nos aposentos de uso privado, ela fixou um pequeno fragmento do papel amarelo numa placa de exibição. Abaixo, escreveu uma única frase: “Aqui jaz a gaiola — e aqueles que libertei.” As paredes agora estavam caladas, mas Eleanor sabia que se lembravam. Lembravam-se da dor, do anseio e daquela que as moldou à sua vontade. E nos recônditos da mente, ela carregava a marca de um mistério gótico, seus fios entrelaçados à sua própria história sombria.

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